Monday, August 25, 2014

AINDA O FALECIMENTO DO DESIGNER MÍLTON NÓBREGA

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Mílton (Ferreira da) Nóbrega, em detalhe de uma foto de autoria de nossa incomum amiga comum Germana Bronzeado. [Clique na foto para vê-la ampliada]
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 UM LIBER AMICORUM NOS 70 ANOS DE NASCIMENTO DE MÍLTON NÓBREGA

por Evandro da Nóbrega,
escritor, jornalista, editor
(druzz.judiciario@gmail.com)

[Especial para a revista
A Semana, de Neno Rabello]


Como já assinalado em meu blog DRUZZ ON LINE, no sistema Blogger [http://druzz.blogspot.com.br], um grupo de amigos do recém-falecido publicitário Mílton Nóbrega (à frente o escritor Juca Pontes, o cronista Martinho Moreira Franco e o publicitário Alberto Arcela, entre outros) já planejava lançar, em fins do corrente ano de 2014, um livro sobre os 70 anos de vida deste grande artista das formas, dos volumes, da arrumação das tonalidades cromáticas.

A morte de Mílton não interrompe, muito pelo contrário, este projeto de um liber amicorum [livro ou álbum comemorativo por iniciativa dos amigos] sobre nosso maior designer gráfico, embora a obra venha a ter, a partir de agora, um tom de nostálgico adeus a Mituca, desaparecido inesperadamente, sem dar sinais de que se ia, no aziago 16 de agosto próximo passado.

Liber Amicorum, Festschrift, Gedenkschrift...
Não estranhem, please, o latim de liber amicorum. É este — ao lado de album amicorum e de Festschrift ["celebração escrita", plural Festschriften] — o termo internacional, universalmente aceito, para tal gênero de homenagem. Já a publicação póstuma leva o nome, também usado no mundo anglo-americano, de Gedenkschrift [ao pé da letra, "publicação memorial"].

O liber amicorum, album amicorum ou Gedenkschrift dedicado a Mílton Nóbrega deverá sair a 22 de dezembro deste 2014, quando se terão passado exatos 70 anos do nascimento do homenageado, vindo ao mundo em igual data de 1944.

Imensa Coleção de Capas
Claro que o recém-nascido não podia saber disto, à época. Mas foi justamente em 1944 que se viu oficialmente reconhecido, por lei, o Sindigraf de São Paulo, fundado havia dois anos, reunindo associações dispersas de tipografias, impressores, encadernadores e congêneres, o que deu representatividade, no país, à classe dos empresários gráficos.
          
E, 22 anos antes do nascimento de Mílton, surgira, em inglês, o termo para batizar sua futura profissão, a de designer gráfico. É que o editor de livros William Addison Dwiggins, num ensaio de 1922, sob o título (em inglês) de Imprensa moderna exige novos projetos gráficos, inventava a expressão graphic design, que logo se disseminaria Mundo afora.

Uma das coisas imprescindíveis no liber amicorum sobre nosso amigo: é preciso incluir nele a reprodução das centenas de capas e outras peças artísticas produzidas por Mílton ao longo das décadas. Somente para a revista A Semana, como já frisado por Beto Rabello, elaborou mais de 600 capas! Eu disse seiscentas... É um recorde em qualquer parte. 

Em tempo: ele já vinha colecionando tais peças (pelo menos as capas dos livros) em seu gabinete da Oficina de Propaganda. Mostrando-me, numa estante, as muitíssimas capas de que já dispunha, Mílton pediu-me para lhe levar outras, "que não mais tenho ou que já perdi".

Preservando o Legado de Mílton
Enfileiradas nesse álbum comemorativo, como num "cineminha" (termo muito usado por Mílton), essas capas haverão de surpreender o público ledor, não apenas por sua quantidade, mas pela qualidade artística. Este é um item que não pode nem deve ser esquecido em hipótese alguma, na feitura do liber amicorum. Posso eu mesmo fornecer muitas dessas dezenas de capas, executadas por Mílton a meu pedido, como editor das mais variadas publicações (livros, revistas, folders, informativos, plaquettes etc).

Esse imperdível liber amicorum será uma maneira efetiva de preservar o legado de Mílton Nóbrega, que, como ninguém, no Nordeste, renovou as Artes Gráficas. Já nasceu com a perfeita consciência das formas, das proporções, dos volumes, da associação entre as cores. Esse talento inato se foi desenvolvendo à medida em que se dedicava, de corpo e alma, a encontrar soluções plásticas condizentes com a evolução dos tempos.

Cercado Pela Comunicação
Nessa condição de designer gráfico, de especialista em Artes Gráficas, podia atuar (como em muitos casos atuou) como diretor de arte, gerente de produção artística, programador visual, desenvolvedor multimídia, desenvolvedor de conteúdo, "jornalista visual", desenhista em geral, desenhista de logotipos e/ou logomarcas, ilustrador, web designer...
          
Via-se, claramente, em sua ação prática, guiada pelo princípio basilar de que nenhuma parte isolada deve ser mais importante que o conjunto do design. Sua arte não pretendia ser apenas informativa, mas buscava também mostrar-se atrativa. E, inversamente, não podia ser apenas bonita, mas também instrutiva, reunindo produtos, serviços, mensagens e ideais.

          
Allan, Pinagé Et Alii
Milton Nóbrega não se envolvia diretamente com o manejo de programas como, antes, o PageMaker e o QuarkXPress, o Illustrator e o Dreamweaver — e, ultimamente,  o CorelDraw, o Photoshop, o Adobe InDesign... Mas era como se manejasse ele mesmo tais maravilhas hodiernas da criação gráfico-editorial: ao lado de Allan Melo, de Sílvio Pinagé e de outros cobras no uso formal de tais ferramentas in line, ele ia ordenando "20% de azul" ou "30% de magenta" ou "aumente o corpo do tipo aqui" ou "diminua o negrito do centro da página" e observando o resultado de suas intervenções até a arte-final estar pronta.
          
Embora não tenha querido aprender a lidar diretamente com o computador, no aspecto da criação ajudada por softwares, Mílton trabalhava indiretamente com todos esses meios eletrônicos, antes com os préstimos de Ranieri, com a boa-vontade de Delosmar, com a habilidade de Lula (Luís Carlos) e/ou graças ao conhecimento softwárico de Allan Melo e, ultimamente, com a presteza de Sílvio Pinagé.

Um Exemplo de Criatividade
A gente lhe dava o conceito, a ideia, a orientação geral sobre o que se desejava — e sempre se surpreendia com as soluções técnicas formais encontradas pelo artista. Um artista que teria sido grande em qualquer outra parte do ecúmeno, mas preferiu ficar por aqui mesmo, com se tivesse a missão de nos desasnar em termos gráficos. Era quem sabe o ramo instrucional de sua arte do design, sua missão de melhorar nossas habilidades comunicacionais.
          
Dou um exemplo: da contracapa de um de meus livros mais recentes, aquele intitulado Doutor Chico Espínola: Centenário de nascimento do Desembargador Francisco Floriano da Nóbrega Espínola, deveria constar uma velha foto desbotada do Dr. Espínola passeando na calçada do Palácio da Justiça. Pois bem, Mílton sentiu que usar APENAS a foto original não seria de todo inteligente. Aplicou esse antigo retrato sobre uma fotografia atual do prédio do TJPB, de modo que a solução resultou das mais belas e criativas: deu nova vida e significado à foto.

Revistas Especializadas
Da mesma forma que produzia um anúncio para jornal ou revista, era capaz, também, de ilustrar e/ou aperfeiçoar o design de home pages, portais eletrônicos, sites e outras áreas do design digital ou web design. Mais bem eficientemente do que a gente lida com palavras, Mílton tratava as imagens e outros elementos gráficos (claros e escuros, serifas, pretos e brancos, layout, tipografia e demais elementos) com incrível familiaridade. Incursionava alacremente pelos campos do design editorial, do design industrial, da identidade corporativa (branding), do design de embalagens (packaging design), do design de interação e até pelas bandas da sinalética (o design de sinalização) e do web design (a programação visual de sites).

Conhecia e fazia uso das mais variegadas técnicas e ferramentas de desenho, mas não se conformava apenas com isto, arriscando-se com muita felicidade por outras áreas da cultura visual.          
          
Inspirava-se nas mais variadas fontes e, o que nem todo mundo sabe, gostava de colecionar aqueles álbuns produzidos por "The Art Directors Club", de Nova York (que distribui anualmente os prêmios na área do design); os magazines especializadas da indústria da impressão, nomeadamente aqueles distribuídos pela ABIGRAF (Associação Brasileira da Indústria Gráfica); a revista Humboldt, insuperável publicação do Instituto Goethe, felizmente hoje disponível "on line" [www.goethe.de], nos formatos ePUB (para leitura em eReader, iPhone e iPad) ou MOBI (para Kindle, Palm, Blackberry e dispositivos com sistema operativo Symbian).

        
Total Autodidatismo
Gonzaga Rodrigues tem razão ao afirmar que Mílton (Ferreira da) Nóbrega "trabalhava o tempo todo", sem nunca tirar férias — porque o trabalho era efetivamente sua diversão. E esses interesses iam desde as primeiras pinturas humanas nas pré-históricas cavernas de Lascaux até as garatujas itacoatiáricas da Pedra do Ingá e as telas de LCD, plasma, LED etc. Não tinha muito tempo para analisar os aspectos psicológicos, da Teoria da Arte, da Teoria da Comunicação, as demais ciências ligadas à cognição, de modo que nunca chegou a se submeter a cursos regulares, muito menos os de Mestrado e de Doutorado, existentes na área.
        
Supria essa falta de tempo lendo tudo o que lhe caía às mãos sobre as vertentes de seus interesses artísticos, o que sem dúvida contribuía para tornar mais refinada a sua arte. Ao invés de conceitos abstratos, princípios obscuros, linguagens experimentais, ele partia logo era para a prática, para o empírico, ordenando informações e artefatos com sentimentos, formas e expressões com ideias, espectros apenas sonhados com efetivas experiências humanas sensíveis.          

Fissurado em Artes Gráficas
Como todos nós, também Mílton procurava se informar sobre as novidades das principais feiras gráficas internacionais, como a DRUPA, de Düsseldorf, Alemanha, considerada o maior evento do gênero no Planeta. 

Estimava muito quando eventualmente lhe levávamos reportagens ou ensaios, por exemplo, sobre inesperadas ou inacreditáveis publicações surgidas, por exemplo, ainda durante a Dinastia T'ang, entre os séculos sétimo e nono de nossa era comum, graças a blocos de madeira destinados à impressão de textos.
         
Mílton examinava tudo demoradamente, querendo saber mais sobre aquele que se acredita ser o primeiro livro publicado no mundo: as escrituras budistas impressas no remoto ano de 868 na China. Para nós, ligados às Artes Gráfico-Editoriais, todas essas coisas ligadas à História do Livro (e a publicações afins) constituem permanente fonte de prazer, entusiasmo e gozo intelectivo.

          
Design e/ou Designer
Não há como confundir design com designer. O primeiro termo refere-se à arte (como na frase "é belo o design deste automóvel"), ao passo que designer, na definição mais simples do Cambridge Dictionary of American English é "uma pessoa que imagina como algo pode ser feito e desenha ou cria os planos para que isto aconteça". 

Pode-se ser, por exemplo, um designer gráfico, um designer de moda (fashion designer), um designer de produtos, um designer da indústria automobilística, um designer de mobiliário...
          
Como observa o especialista William Lidwell, em seu com toda justiça famoso manual Princípios universais do Design, os melhores designers muitas vezes colocam de lado as regras do design; mas, quando agem assim, eles compensam tal violação das leis gerais com o emprego de mais talento. "Então, a não ser que Você esteja absolutamente certo de que terá esse necessário talento suplementar, é melhor ater-se às normas, às leis, aos princípios elementares desta arte".

Uma Trajetória Invejável
Mílton Nóbrega, um instintivo do design, não precisava seguir invariavelmente tais parâmetros: aplicava suas soluções e, depois, se fosse preciso, ia ver se o resultado feria alguma regra básica — o que provavelmente nunca ocorreu... 

Sua trajetória foi uma vida passada entre lascas de carvão e crayon, lápis e borracha, régua e compasso, Staedtler pigment liners e Unipin fine liners, pinturas e desenhos, linhas e formas, luzes e sombras, motivos e padrões, espaços e texturas, negritos e itálicos, closes e gradações, peso relativo das figuras e ponto de fuga, reflexos e perspectivas, camisetas e diagramas, regras de legibilidade e consultoria gráfica, decoração de ambientes e design de cenários, capas de discos e design multimídia, caracteres e glifos, pictogramas e outros elementos da comunicação visual, a comunicação impressa e a comunicação on line, as relações entre o texto e as imagens... 

Vivia, assim, cercado de papéis e livros, revistas e posters, house organs e programação visual, banners e buttons, capas e cardápios, carteiras e cartões, plaquettes e estojos, selos e carimbos, folders e mil ilustrações, informativos e jornais, projetos de páginas de Internet e livros, artigos e livros sobre linguagem visual...

Sem prestar muita atenção a essas coisas, com pouco mais estava enfronhado com os conceitos fundamentais da Publicidade, da Propaganda e do Marketing, com a Teoria das Cores, em sua busca de uma consistente combinação de matizes primários, secundários e terciários, com ênfase nos atributos e na hierarquização de elementos numa peça de arte, muitas vezes com um tanto de brilho e outro de saturação, fossem as formas geométricas, mecânicas, orgânicas (ou naturais).
      
Ao final, dava um sentido de controle do design que não poderia ter sido criado apenas com o uso das comezinhas regras clássicas. Em sua mente e em suas mãos, objetos bidimensionais que se travestiam em tridimensionais, quadridimensionais, fantásticos... Linhas adquiriam altura e largura. Seu tempo decorreu entre a unidade na variedade e a harmonia, cabeçalhos e margens, fotos e movimento, contrastes e estrutura organizacional interna, simetria e assimetria, escala e senso de proporção, sentido de distância e ritmo, similaridade e proximidade, ponto focal dinâmico, com a equalização da tensão e a obtenção do equilíbrio final.

Foi o Que Queria Ser
O termo que preferia para definir sua própria atividade era designer gráfico, o que talvez, para os remanescentes puristas da língua, constitua pecado rebarbativo, vez que se pode alegar: "todo design já é gráfico". Não se deve esquecer, porém, que, na tradição anglo-americana, em que as correspondências etimológicas com o latim nem sempre se fazem explícitas, a expressão para nomear a atividade é justamente graphic design (algo como "desenho gráfico" ou "projeto gráfico").

De outra parte, como se podia depreender de algumas conversas com Mituca, o bom enquadramento das cenas e da fotografia em muitos e ótimos filmes de arte (ou talvez, em seu caso, deva-se dizer "filmes cults") da mesma forma lhe serviam de modelo que, em sua imaginação, iam se transformando até lhe fornecerem novas soluções plásticas para seus próprios projetos.
         
Outra Sugestão para o Liber Amicorum
Ah, ultimamente Mílton se apegara ao uso de duas typefaces de sua especial predileção (e por que não usá-las em seu liber amicorum?): 1) o MyriadPro (para textos em geral); e 2) o MinionPro (para legendas), além do Geo703 para títulos e subtítulos. São famílias de fontes tipográficas que não vêm normalmente com o Word for Windows, mas que eventualmente podem ser encontradas nas versões mais novas do CorelDraw, do InDesign e de outros programas avançados de desktop publishing.

Em busca de melhores apresentações gráficas, Mílton também recorria frequentemente àqueles CDs com "milhares de fontes" que nos são periodicamente oferecidos, gratuita ou onerosamente, até mesmo em bancas de jornais & revistas. E é de reiterar a sugestão: no aguardado liber amicorum em homenagem a ele, sejam usados tão somente estes tipos altamente belos e legíveis (MyriadPro, MinionPro e Geo703), em diferentes corpos de pontos tipográficos.

Do Desenho à Mão ao Computador
Pelo caminho, Mílton veio se adaptando à composição em máquinas IBM, ao off-set, depois às técnicas da editoração eletrônica. Subjacente a tudo isto, havia em mente sua perícia com os blocos de textos & ilustrações. Fez naturalmente a transição (hoje diz-se migração), quando, em meados dos anos de 1980, ocorreu a chegada daquilo impropriamente chamado "diagramação por computador", quando se tratava, em verdade, da editoração eletrônica (desktop publishing ou computer graphic design).

Dito de outra forma, com maior exatidão, deu-se em 1984 que o setor gráfico, no Brasil, como no resto do Mundo, entrou de rijo na Era da Informática, na Era da Tecnologia da Informação. Ficávamos livres da máquina de escrever (que tanta serventia tivera!) e da obrigação de preparar os layouts à mão. Na tela (melhor, no monitor), podia-se ver imediatamente qual o efeito de qualquer mudança tipográfica feita num design.

No Disco de Carlos Aranha
Na homenagem que fez a Mílton, em sua coluna "Essas Coisas", do jornal Correio da Paraíba, o escritor e acadêmico Carlos Aranha lembra, a certa altura, sob o título de "O Designer de Todas as Artes":

— Mílton Nóbrega, que tinha saído da EMATER-PB, era o diretor de Arte da editora pessoense ITERPLAN, onde realizou, com Evandro da Nóbrega (nosso querido e cultíssimo Druzz), o Guia dos monumentos históricos paraibanos, infelizmente não reeditado até hoje, depois de esgotado.

Relembra Aranha, de boa memória, que a ITERPLAN, com sede na Rua Duque de Caxias, proximidades do prédio da Academia Paraibana de Letras, era de propriedade conjunta de Jório Machado e de Ivan Machado [...], "que não eram parentes".

Uma das obras-primas de Mílton Nóbrega, como designer, foi justamente a capa (com a contracapa e o encarte) de um dos discos de Carlos Aranha, Sociedade dos poetas putos (1990). Sobre isto, especificamente, diz Aranha:

— Quando lancei meu disco [...], em vinil [...], a quem poderia recorrer para fazer a capa, a contracapa e o encarte? Somente a Mílton Nóbrega, o único designer, no Nordeste, que poderia traduzir graficamente a proposta [...] Quem conhece a música entende o que afirmo. Mílton não partiu para um trabalho multicolorido. Ele fez tudo em vários tons de cinza (predominantes), preto e branco. Resultou numa obra-prima, como foram outros trabalhos seus, através dos anos [...]".

Um Artista do Século XX
Milton Nóbrega foi sobretudo um artista do Século XX, o Século em que explodiu o interesse mundial pela Comunicação Visual, da extrema funcionalidade dos símbolos gráficos, da "arte da comunicação estilizando e resolvendo problemas com a combinação de palavras, tipos, espaços, imagens, layouts de páginas".

Foi ele um auto-declarado partícipe desta que é uma categoria ligada à área maior da Comunicação Visual e do Design Comunicacional, com a representação visual de ideias e mensagens. Na Propaganda e/ou na Publicidade, seu interesse não consistia apenas em vender o produto, mas, também, o de ordenar a informação, formar ideias, expressar sentimentos por intermédio de uma dos mais significativas manifestações da experiência humana.


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Sunday, August 17, 2014

MORRE O NOTÁVEL DESIGNER MÍLTON FERREIRA DA NÓBREGA

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UM NÓBREGA DE CRUZ DO ESPÍRITO SANTO AO LADO DE OUTRO NÓBREGA, ESTE ORIUNDO DOS VALES DO PIRANHAS, SABUJI & SERIDÓ — Uma foto minha com Milton Nóbrega (E), que fiz questão de publicar em meu modesto livro intitulado Brasão d'armas do Judiciário da Paraíba: Sua descrição heráldica e simbologia histórica (Edições do TJPB, João Pessoa, 2007) — cuja capa (abaixo) foi aliás por ele concebida e desenhada. Em virtude da admiração que lhe votava o Autor, fotos de Mílton aparecem em mais duas outras páginas do mesmo volume.



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AS ÚLTIMAS LIGAÇÕES TELEFÔNICAS DE MÍLTON NÓBREGA — Em meu phablet [phone + tablet], as anotações automáticas das últimas ligações entre mim e Mílton Nóbrega. A última dessas ligações ocorreu às 11h04m, como se pode ver acima, na tela autocapturada. Possivelmente, então, devo ter sido a última pessoa a falar telefonicamente com o Mílton — porque, logo depois, o escritor e publicitário Juca Pontes tentaria comunicar-se com Mituca pelo celular, sem êxito. [Please, clique em qualquer das fotos para ampliá-la
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EVANDRO DA NÓBREGA COM MAÍLSON DA NÓBREGA — Na foto batida por minha filha Manuela Mariz-Nóbrega, no início da tarde de 17 de agosto de 2014, durante o velório do designer Mílton Nóbrega, vê-se o grande economista brasileiro (paraibano, espírito-santense) Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda, consultor econômico e articulista da Grande Imprensa, depois de receber minhas condolências pelo falecimento do amado irmão. [Please, clique em qualquer das fotos para ampliá-la
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A SIMPLICIDADE DE MÍLTON NÓBREGA NA FILA — Com dois exemplares da obra, Mílton Nóbrega é aqui visto na fila da tarde de autógrafos promovida pelo poeta, publicitário e escritor Juca Pontes, na Livraria Leitura, para o lançamento de seu mais novo livro, Ciclo vegetal. [Please, clique em qualquer das fotos para ampliá-la
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Recente foto de Mílton Nóbrega, de autoria do fotógrafo Ednaldo Araújo, para uso em seu perfil do Facebook.
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Mílton Nóbrega, em foto de Ednaldo Araújo, para seu perfil no Facebook.
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EM LIVRO, EMBORA MODESTAS, AS HOMENAGENS MERECIDAS — Em meu modesto livro intitulado Brasão d'armas do Judiciário da Paraíba: Sua descrição heráldica e simbologia histórica (Edições do TJPB, João Pessoa, 2007), fiz questão de colocar três fotos do designer Mílton Nóbrega em três partes diferentes do volume, tendo em vista não apenas nossa condição de amigos, mas, sobretudo, de colegas de trabalho. As três fotos são de autoria de Ednaldo Araújo. E, abaixo, uma das páginas do livro em que Mílton é com justiça citado, por ser um cinco criadores do Brasão de Armas do Poder Judiciário do Estado da Paraíba.



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Foto de autoria do fotógrafo Ednaldo Araújo, do TJPB, e retirada do perfil de Mílton Nóbrega no Facebook. 

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Num flagrante da fotógrafa Germana Bronzeado, Mílton Nóbrega ao lado de outro de seus grandes amigos, o artista plástico Flávio Tavares. 

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PLACA DE RECONHECIMENTO DO TRE-PB — Mílton Nóbrega recebe, em 2013, das mãos do então presidente do TRE-PB, uma placa em reconhecimento a seus serviços em prol do êxito das comemorações pelos 80 anos de instalação da Justiça Eleitoral no país e, por consequência, na Paraíba.

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Mílton Nóbrega, em detalhe de uma foto de Germana Bronzeado.



Mílton Nóbrega conversa, no TRE-PB, com o desembargador Marcos Cavalcanti de Albuquerque, ladeado pelo Dr. Márcio Roberto Soares Ferreira, pelo também designer Martinho Sampaio e pelo jornalista Genésio de Souza Neto [Foto de Germana Bronzeado]
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Detalhe de uma foto maior e bem representativa de Mílton Nóbrega.
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Mílton Nóbrega novamente com um de seus parceiros editoriais, o escritor, publicitário e poeta Juca Pontes, da Forma Editorial. 
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RESTAURAÇÃO DE IMPORTANTES FOTOGRAFIAS ANTIGAS — Acima, como se encontrava uma foto integrante dos arquivo do TJPB, mostrando uma sessão do Tribunal Pleno, em 1921. Abaixo, como ficou a foto, totalmente recuperada, depois da intervenção do designer Mílton Nóbrega e sua equipe.



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Outra foto antiga do acervo do Poder Judiciário, totalmente recuperada por Mílton Nóbrega e sua equipe; mostra o velho prédio do Tesouro Estadual, em cujo segundo pavimento se instalou por vez primeira o Superior Tribunal de Justiça do Estado do Parahyba do Norte, hoje TJPB.
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ETERNO MENINO, MÍLTON NÓBREGA COMEÇOU DESENHANDO PASSARINHOS QUE DE TÃO PERFEITOS PARECIAM VIVOS, REAIS, AVOANTES...


Evandro da Nóbrega
escritor, jornalista, editor
[druzz.judiciário@gmail.com]
      
      

       Não é coisa para se vangloriar. Mas fui, provavelmente, senão a última, uma das últimas pessoas a falar, pelo celular, com Mílton Nóbrega, no final da manhã deste sábado, 16 de agosto, pouco tempo antes de ele falecer, vítima de fulminante parada cardíaca.
       Os dados estão aqui, no meu phablet Galaxy Note II, da Samsung. Exatamente às 11h04, dei o último telefonema para Mílton, de uma série de chamadas recíprocas que se havia iniciado na quinta-feira anterior.
       Nesse dia, fornecendo-lhe os dados necessários (dizeres, fotos, dimensões etc), solicitei-lhe que aprontasse a capa do novo livro do desembargador Marcos Cavalcanti de Albuquerque, sob o título de Centenário de nascimento do desembargador Luiz Sílvio Ramalho. Acabara eu de editar o texto e de concluir a editoração eletrônica desta obra.
       Mílton Nóbrega me pedira mais um dia, porque estava concluindo em ritmo acelerado a arte-final do Calendário do TJPB para o ano de 2015. Mas ele aprendeu nas Redações dos jornais, como eu, a trabalhar muito rápido, e já na noite da sexta-feira enviara-me o projeto da capa encomendada. Então, telefonei-lhe às 11h04 deste sábado e a conversa foi mais ou menos no seguinte tanjo:
       — "Primo" Mílton, a capa está im-pres-sio-nan-te-men-te bela! Por mim, não mudaria nada! Mas ainda dependemos do "aprovo" do Autor...
       — Ah, então Você gostou? — era o Mílton Nóbrega, falando naquele seu jeito encabulado.
       — Se gostei?! Ora, se lhe estou dizendo que está uma obra-prima!
       Milton deu aquela risadinha dele, agradado, e me despedi.
       A gente se chamava "primo", mas, em verdade, o parentesco vem a ser este: ele é do ramo dos Nóbrega que veio bater em Cruz do Espírito Santo, ao passo que meu ramo anovercense é aquele dos Vales dos Pinharas, Sabuji e Seridó: Patos, Santa Luzia, São Mamede...
       Mílton, que tantas capas criou para tantos livros meus e para os inúmeros livros que editei ao longo da vida, concluíra em maio, a pedido do médico José Mário Espínola e do jurista Humberto Pedrosa Espínola, as magníficas capa & contracapa de nova obra minha, aquela que marcou o centenário de nascimento do desembargador Francisco Floriano da Nóbrega Espínola, o inesquecível "Doutor Chico Espínola".  

       AGOSTO, MÊS DE DESGOSTO
       Quando foi às 13h39, me liga o Martinho Sampaio, chefe das Publicações Oficiais do TJPB e editor do Diário da Justiça Eletrônico:
       — Druzz, está sabendo da triste novidade, da nova peça que nos prega o mês de agosto?!
       — Não, Martinho, não ouvi falar em nada. Estava aqui engolfado em muito trabalho e fiquei um pouco fora do mundo... Outro avião que caiu?!
       — Não. É que acaba de falecer nosso amigo Mílton Nóbrega.
       — Não pode ser, Martinho! Há menos de duas horas, falei com o Mílton, pelo celular, e ele estava ledo, lépido e fagueiro! Não acredito nesta má notícia!
       Mas Martinho foi para o apartamento do Mílton, lá constatou seu passamento e me telefonou novamente, com a lúgubre confirmação. Nesse ínterim, eu já falara com outro Martinho, o Moreira Franco, e o MMF estava também deveras chocado com a infausta ocorrência.
       Também outro primo, o Dr. Márcio Roberto Soares Ferreira, me telefonara do Recife (PE), onde teve que se internar numa clínica para se submeter a rotineiros exames pós-operatórios de catarata, já sabendo da triste notícia e lamentando profundamente o desaparecimento do amigo Mílton, que já era notícia no Portal WSCom do jornalista Walter Santos, nos sites do Jornal da Paraíba e do Correio da Paraíba, além das redes sociais.    
       Não havia mais dúvidas: muita gente boa perdera um amigo admirável. E a Paraíba via-se desfalcada de um de seus mais expressivos valores culturais. Diz-se, não sem certa razão, de um ponto de vista, que não há pessoas insubstituíveis. No caso do Mílton Nóbrega, porém, quem o substituirá?       

       VELÓRIO & SEPULTAMENTO
       Foi, portanto, sob todos os aspectos, mui lamentável a morte prematura do Mílton Nóbrega, publicitário e artista plástico que preferia ser chamado de designer gráfico. Seu corpo está sendo velado desde as 19 h deste mesmo sábado, 16 de agosto de 2014, na Central de Velórios São João Batista, onde deverá ficar até as 13 h deste domingo, 17 de agosto, horário em que seguirá, de carro, para sua cidade natal, Cruz do Espírito Santo. Nessa sua cidade natal é que se dará o sepultamento, às 16 h do mesmo domingo.
       Consta que, por volta de meio-dia, Mílton Nóbrega (Mituca, para a esmagadora maioria dos amigos e familiares) almoçou normalmente, com os familiares, no apartamento para o qual se mudara havia vários meses. Depois da refeição, sentou-se, como de costume, a um sofá, para ver TV, já que, aos sábados à tarde, a não ser excepcionalmente, não dava expediente em sua sala da Oficina de Propaganda (lá comparecia apenas pela manha).   Momentos depois, é o que se deduz, sofreu a parada cardíaca. E faz-se tal dedução porque, nesse ínterim, outro publicitário, o escritor Juca Pontes, para ele telefonou várias vezes, sem obter resposta.
       Juca estava interessado em saber de Mílton Nóbrega detalhes a respeito de outra capa de livro que os dois estavam editando conjuntamente pela editora Grafset, de nossos comuns amigos incomuns José Neiva e Vladimir Neiva.
       Alertados por nova chamada de Juca, dessa vez para outro telefone da casa, os familiares acorreram, mas já encontraram Mílton sem vida.
       O socorro médico/paramédico foi de imediato chamado e chegou de ambulância bem equipada; o pessoal especializado ainda tentou reanimar nosso amigo, por mais de meia hora, sem resultados. A Indesejada das Gentes fizera mais uma de suas inesperadas colheitas.

       70 ANOS EM DEZEMBRO
       Mílton Nóbrega preparava-se, com familiares e amigos, para comemorar seus 70 anos de idade no próximo dia 22 de dezembro (do corrente ano de 2014). A esta mesmíssima data do primeiro decanato do signo astrológico de Capricórnio pertence muita gente boa, inclusive admiradores de Mílton Nóbrega, como o artista plástico e escritor Chico Pereira, meu filho Dmitry Luna da Nóbrega, meu sobrinho Eduardo Dantas da Nóbrega Filho...
       Entre os irmãos de Mílton [Ferreira da] Nóbrega, destacam-se Milson [Ferreira da] Nóbrega e o economista Maílson [Ferreira] da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda, também nascido em Cruz do Espírito Santo (PB), mas que iniciou sua carreira no Banco do Brasil de Catolé do Rocha. Foi lá que sua brilhante inteligência foi descoberta pelo pessoal da Administração Central do BB em Brasília (DF), para onde foi chamado para colocar em execução seus planos de modernização das agências bancárias. Rapidamente galgou outros postos no BB e, especializando-se em Economia, brilhou como ministro da área das Finanças e é hoje respeitado analista, consultor e comentarista, inclusive na mui respeitável revista Veja.
      
       PLACA PARA MILTON
       Juntamente com o historiador Humberto Cavalcanti de Mello, com o arquiteto  Umbelino Peregrino de Albuquerque (do IPHAN) e com este escriba que vos fala, Mílton Nóbrega fez jus a uma placa especial de agradecimento pelos serviços prestados quando das comemorações pelo transcurso das oito décadas de instalação da Justiça Eleitoral no Brasil (e, consequentemente, em nosso Estado).
       As placas nos foram entregues pelo então desembargador-presidente do TRE-PB, Marcos Cavalcanti de Albuquerque. Na placa de Mílton, podia-se ler: "Ao insigne designer Mílton Nóbrega, os agradecimentos do TRE-PB por sua inestimável colaboração para o êxito das comemorações pelos 80 anos de instalação da Justiça Eleitoral da Paraíba. - Desembargador Marcos Cavalcanti de Albuquerque, Presidente do TRE-PB - João Pessoa, 13 de dezembro de 2012”. [A placa de Mílton viria a ser entregue em janeiro de 2013].

       UM LIBER AMICORUM
       Os holandeses têm um costume mui interessante, que antecede mesmo o seu Século das Luzes. Trata-se de homenagear pessoas de destaque com um liber amicorum, o que, em latim, equivale a um "livro dos amigos", um álbum destinado a reunir impressões de admiradores de tal ou qual personalidade de relevo.
       A expressão original e o costume, porém, iniciaram-se na Alemanha, com o Festschrift (plural Festschriften ou até Festschrifts), literalmente "escrita da festa" ou, numa tradução mais abrangente, "publicação comemorativa".
       Tal expressão, com suas variações, designa algo como "celebração de forma escrita" ou "peça de comemoração por escrito"; e se viu posteriormente adotada pelos próprios anglo-americanos como se inglês da gema fosse. Diz-se também Festgabe, que da mesma forma designa o liber amicorum. Especialmente nos meios acadêmicos, refere-se ao "livro de honra" em homenagem a uma pessoa que adquiriu o respeito da comunidade, por suas consideráveis atividades como professor, escritor, cientista, pensador, artista... Quando publicado postumamente, esse álbum comemorativo pode ser chamado de Gedenkschrift, uma "publicação em memória".
       Dou apenas um exemplo de liber amicorum dentre os muitíssimos já publicados no Brasil: aquele em homenagem ao professor doutor Antônio José Avelas Nunes (especialista em Direito Constitucional). Este liber amicorum foi escrito por vários autores, justamente em louvor do citado mestre.
       O liber amicorum tanto pode ser uma plaquette quanto um grosso volume — e até uma coleção de obras. A propósito, talvez o mais célebre (ou, pelo menos, o mais extenso!) liber amicorum já surgido no Mundo tenha sido aquele dedicado ao historiador clássico Joseph Vogt [que viveu de 1895 a 1986 e cujo sobrenome pronuncia-se fôkt] em seu septuagésimo-quinto aniversário. Inicialmente, pensou-se no lançamento de quatro volumes, mas, ao final, estendendo-se de 1972 a 1998, o número de volumes chegou a 89!
       Normalmente, um liber amicorum intitula-se algo como Ensaios em honra de... ou expressões parecidas. E, quando um Festschrift é publicado em meio eletrônico (na Internet, por exemplo), recebe a designação de Webfestschrift [pronuncia-se vép-fest-xrift].

       OS 70 ANOS DE MÍLTON
       Mas por que lhes estou dizendo tudo isto sobre "os livros dos amigos"? É que, tão logo soube do falecimento do amigo Mílton Nóbrega, senti o ímpeto de recomendar a outros amigos dele (Juca Pontes, Martinho Moreira Franco, Mengo, Martinho Sampaio, Alberto Arcela et alii) que lhe dedicassem uma obra em tais moldes, como forma de assinalar em grande estilo sua passagem por este Vale de Lágrimas a que se dá o nome de Terra.
       E isto para que não ocorra como quase ocorreu recentemente (só para citar três exemplos) com nossos grandes e admiráveis amigos semi-esquecidos Marcos do Carmo Tenório (um dos editores da Revista do Fisco); Giovani Montenegro (Bau Caceteiro ou Bau Calça-Velha) e Edmilson Silva (Missula), intelectual, linguista, professor de Português, revisor do antigo O Norte, ex-servidor dos Correios e Telégrafos.
       Já à noite, conversando pelo fone com Juca Pontes, vi que, enquanto busco os cajus, o pessoal já vem com as castanhas devidamente assadas. Vale dizer, tal projeto estava em pleno andamento, mesmo antes de falecer Mílton Nóbrega.
       É que Juca e outros amigos pretendiam homenagear a passagem dos 70 anos de Mílton, em dezembro, com a publicação de um livro assim. E será homenagem mais que merecida, por ser o de cujus reconhecido por suas contribuições em diversas áreas de atividades.
      
       ALGO DE SUA FOLHA CORRIDA
       Nem preciso dizer que sempre fui incondicional admirador do Mílton Nóbrega. E mui dificilmente editei um livro, dos muitíssimos com que já me peguei, que não procurasse, logo de início, assegurar que a capa da obra seria de autoria de Mílton Nóbrega. De fato, brindava-nos ele com capas lindíssimas, de montagem sóbria e eficaz, "pra ninguém botar defeito". A última que produziu foi essa a que me referi, a do livro Centenário de nascimento do Desembargador Luiz Sílvio Ramalho, de autoria do desembargador Marcos Cavalcanti, presidente da Comissão de Cultura e Memória do Poder Judiciário do Estado da Paraíba.
       Juntamente com Martinho Moreira Franco e Alberto Arcela, Mílton Nóbrega fundou e tornou-se sócio de uma das principais agências de publicidade da Paraíba, a Oficina de Propaganda.
       Um dos irmãos de Mílton, o Mílson Nóbrega, colocou recentemente no Facebook uma foto da década de 1960, mostrando a brava equipe futebolística do Santos (de Cruz do Espírito Santo) em que Mílton Nóbrega aparece como um dos atletas/craques. Mílson era o... mascote do time. Vale a pena dar uma boa olhada na foto, que continua, claro, no perfil de Mílton na rede social Facebook. 

       BOTO A CULPA NO CIGARRO
       Recentemente, Mílton tivera que ser atendido pelos médicos. Mas fora algo referente à próstata, sem nenhuma ligação com problemas coronarianos. Feitos os exames, tudo estava normal.
       No entanto, ele fumava muitíssimo, fumava demasiado. Não conto o número de vezes que, no cafezinho da parte dos fundos da Oficina de Propaganda, ele me prometia deixar de lado o cigarro, mas sem apreciável convicção.
       Eu, de fato, fumava bem mais que ele (quatro carteiras diárias, dá pá tu?!). Mas, no meu caso pessoal, um começo de enfarte — seguido de três pontes de safena e duas mamárias — me convenceu a abandonar o vício, sob a segura orientação do supercardiologista e hipercirurgião Maurílio Onofre Deininger.
       No mesmo cafezim da propagandística Oficina, Mílton me elogiava pela decisão de largar o branco cilindro de fumaça cancerígena — e debilmente prometia fazer o mesmo. Mas todos sabemos quanto isto é difícil, a não ser que haja uma força maior, como no meu caso: era fugir definitivamente do tabaco ou morrer!...

       A FILHA & OS DOIS FILHOS 
       Além da viúva Gil Nóbrega, Mílton deixa três filhos:

       1) Patrícia Nóbrega (Patty), que estudou Arquitetura e Urbanismo, dedicando-se à Publicidade e à Propaganda e tendo trabalhado também na antiga Coordenadoria de Comunicação do TJPB, além de casada com o educador cajazeirense Chiquinho Pereira, radicado em João Pessoa;

       2) Bruno Nóbrega, também casado (com a Sra. Thaísa Furtado Fernandes Nóbrega); e

       3) Victor Nóbrega, ainda solteiro.
       
       Esses filhos lhe deram netos e netas. E era comovente ver a diligência diária com que Mílton, largando o trabalho no final do expediente, apressava-se no trânsito, com seu carro, para ir buscar uma ou outra neta à saída da escola! Nesses momentos, não atendia nem mesmo ao Papa...   
      
       ALGUMAS MANIFESTAÇÕES
       Em nota de luto divulgada pelo Facebook, anunciando o passamento do pai, Bruno Nóbrega disse, entre outras coisas, que ele foi "um grande exemplo para todos nós aqui na Terra". Agradeceu a Mílton "por todos esses anos de convivência", durante os quais "muito aprendi com sua simplicidade, honestidade e paciência". Agradeceu-lhe também por haver sido "um avozão para meus filhos", mesmo porque "todos eram loucamente apaixonados por Você" e "sei que eles sentirão muito sua ausência nos passeios aos sábados à tarde ao shopping e aos domingos de manhã à Bica [do Parque Arruda Câmara]". Enfim, conclui Bruno, dirigindo-se ao genitor, "ficarás para sempre em nossa memória".
       No perfil facebúquico de Juca Pontes, vê-se uma foto em que ele, na data do lançamento de seu livro Ciclo vegetal, coletânea de poemas editada pela Forma Editorial, aparece abraçado, na Livraria Leitura, aos amigos Bola Targino, de um lado, e, do outro, justamente o Mílton Nóbrega.
       Logo abaixo, Syllas Mariz comenta que "a notícia da perda do nosso querido Mituca [Mílton Nóbrega] me deixou tomado pela tristeza. O vazio toma conta dos nossos corações. As boas lembranças dos bons momentos e trabalhos que com ele compartilhamos invadem nossos pensamentos. Além da estimada amizade, perdemos igualmente uma grande referência profissional. Perdemos o nosso mestre. Tudo isto muito triste, mesmo"...
       E Juca Pontes complementa o que diz o Syllas: "Agora, só ficou o vazio. A terna e eterna saudade de sua amizade, mas do que a sincera companhia do parceiro e irmão de jornada".
      
       CONFORTO & DESABAFO
       No perfil da filha Patrícia Nóbrega, do Facebook, amigas como Juliete Silveira, Priscilla Souto Maior, Aninha Vãs, Lizianne Lins, Maria Rosa Jacinto Amorim, Kay Vieira, Rosário Dias, Kayfrancis Leal Leite e muitíssimas outras pessoas apresentavam seus sentimentos a toda a família e expressavam sua solidariedade, neste momento de dor. Uma dessas mensagens diz: "Ele era seu herói; agora será sua estrela".
       No perfil de um dos filhos, Bruno Nóbrega, pessoas como Sérgio Oliveira, Augusto Junior, Juliana Nóbrega e muitos outros também manifestavam suas condolências. Em seu perfil, o outro filho, Víctor Nóbrega, desabafava: "Vai ser tão difícil viver aqui sem Você, meu pai!"...

       A TRAJETÓRIA DE MÍLTON
       Uma das versões da estória quase-lenda em torno da infância de Mílton Ferreira da Nóbrega refere-se a um menino tímido, de olhos muito vivos e com um pedaço de carvão entre os dedos. O garoto, sempre encabulado, mas de inteligência coruscante, desenhava passarinhos tão perfeitos, num muro caiado da rua, que as pessoas, de longe, achavam tratar-se não de figuras pintadas, mas de aves reais.
       Foi com essa fama de ótimo desenhista, de mestre do traço que o jovem veio morar em João Pessoa. Bem mais tarde é que Milton Nóbrega cursaria Comunicação Social na UFPB. E sempre esteve ligado a nós, bem como a vários outros amigos, nos mais diversificados empreendimentos publicitários, propagandísticos, literários, culturais etc — embora, óbvio, invariavelmente tenha tido voo próprio, inclusive na Oficina de Propaganda, de que era diretor de Arte e um dos sócios-proprietários, ao lado de Alberto Arcela. 
       Embora muito orgulhoso de seu valor pessoal e cioso da importância de seu trabalho, Mílton era, simultaneamente, bastante modesto, simples, humilde até. Uma das coisas que atraíam, em sua personalidade, era seu bom humor, tendo especial predileção por anedotas inteligentes, de alto nível, isto é, "piadas que fazem pensar". 

       Atuou o Mílton Nóbrega, também:
  • na EMATER-PB (entre 1965 e 1970), como desenhista e programador gráfico;
  • na Iterplan Editorial Propaganda (como diretor de Arte, de 1970 a 1974, e onde tivemos até a oportunidade de realizar um rapidamente esgotado Guia dos monumentos históricos paraibanos e um Guia de João Pessoa);
  • na Indústria Gráfica do Recife, de 1974 a 1975, como programador gráfico/visual;
  • em A União Companhia Editora, de 1975 a 1983, como chefe de Artes Gráficas, e, de 1983 a 1985, como Diretor Técnico;
  • na Secretaria de Comunicação Social do Governo do Estado, de 1985 a 1989, como publicitário;
  • na TV Cabo Branco (afiliada da Rede Globo), entre 1987 e 2001, como designer gráfico (como se viu, seu título preferido). 

       Mílton Nóbrega foi ainda programador gráfico da Editora Acauã e programador gráfico-editorial e diretor de Arte da Editora Grafset. Prestou relevantes serviços às editoras de A União, da Gráfica JB, Acauã e Massao Ohno, da Gazeta Mercantil, das Edições Siciliano, da Dinâmica Editora, da Tessitura Editora, da editora Brasília Jurídica, da Forma Editorial, das Edições Varadouro, da Juruá Editora, da Editora Universitária da UFPB [para as quais igualmente criou capas memoráveis], das Edições Unipê [para a qual ele e eu contribuímos, por dois anos consecutivos, com Calendários anuais particularmente caprichados, sem falsa modéstia]; etc etc etc. 

       UMA ENFIADA DE PRÊMIOS
       Em vista dessa incessante atividade artístico-cultural, seria previsível que Milton Nóbrega recebesse prêmios e distinções. Dentre as que guardei em meus alfarrábios, citam-se:

• Troféu do Centenário do jornal A União [João Pessoa, PB, 1993;

• Prêmio “Noite da Cultura” [Menção Honrosa do Conselho Estadual de Cultura da Paraíba, 1994];

• Troféu “Baile dos Artistas”, na categoria de Melhor Programador Visual [João Pessoa (PB), 1995];

• Vencedor do Concurso Estadual para criação da logomarca da Fundação “Casa de José Américo” [João Pessoa, PB, 1997];

• Vencedor de Melhor Cartaz do Premium Press, nos 15 anos da Gráfica JB [João Pessoa, PB, 1998];

• Jurado convidado do Prêmio Abril de Publicidade Impressa  [Salvador, BA, 1998];

• Troféu “Heitor Falcão”, do Sistema Correio de Comunicação (Correio da Paraíba), como Destaque do Ano nas Artes Visuais [João Pessoa (PB), 1999];

• Troféu Imprensa, do Sindicato dos Jornalistas da Paraíba, na categoria Publicidade e Propaganda [2000];

• Prêmio Publicitário Latino-Americano do XIV Festival Mundial de Publicidade de Gramado, RS [junho de 2003].

       NA ÁREA DA JUSTIÇA
       Seja como Assessor Técnico do TJPB, seja noutros cargos que lá exerceu, Mílton sempre deu conta do recado, com ganhos para o Judiciário. É quase impossível enumerar (e não ser que se pesquise por muito tempo e se escreva a mancheias!) tudo o que Mílton Nóbrega, ao longo de anos, produziu para o TJPB, em termos de capas de livros, projetos de revistas, stands e outras publicações, banners, calendários anuais, folders, convites, papéis personalizados, cartões, informativos, carteiras, plaquettes...
       Dizendo assim de oitiva, responsabilizou-se por vários projetos de reforma do Diário da Justiça (em papel e eletrônico); redesenhou por mais de uma vez o Portal Institucional On Line do Poder Judiciário (também conhecido como "o site do TJPB); estruturou convites para as mais diversas solenidades, inclusive posses presidenciais. Também integrou a equipe responsável pela criação do Brasão do Judiciário paraibano, da Bandeira do Tribunal, do Brasão do TRE-PB.
       Bem, depois destes meus dados secos, frios, desprovidos de poesia, Vocês não perdem por esperar o intenso lirismo da crônica que Gonzaga Rodrigues decerto escreverá sobre Mílton Nóbrega, seu grande amigo por uma inteira vida.


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