Tuesday, April 28, 2015

CRÍTICO JOSÉ MÁRIO SOBRE A ESCRITORA GRAÇA SANTIAGO


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DO PROFESSOR, CRÍTICO LITERÁRIO E NOVO IMORTAL DA APL, DOUTOR JOSÉ MÁRIO DA SILVA BRANCO, NO JORNAL DA PARAÍBA, A PROPÓSITO DE UMA DAS OBRAS DA ESCRITORA MARIA DAS GRAÇAS SANTIAGO

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Pela apresentação do texto,
Evandro da Nóbrega
escritor, jornalista, editor
[druzzevandro@gmail.com]
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A escritora Maria das Graças Santiago, autora, entre outros livros, da coletânea de crônicas Gavetas da Alma. A obra viu-se lançada, em 2014, em solenidade ocorrida na própria Academia Paraibana de Letras, sendo apresentada pela também acadêmica e crítica literária Ângela Bezerra de Castro. Como a escritora Graça Santiago é igualmente artista plástica, foi aberta, na ocasião, na mesma APL, uma exposição
de pintura intitulada "Pássaros Brasileiros", de sua autoria.[Clique na foto para ampliá-la]
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O professor e crítico literário José Mário da Silva Branco, recentemente eleito imortal da Academia Paraibana de Letras. [Clique na foto para ampliá-la]
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Quando do lançamento de mais esse livro de autoria de Maria das Graças Santiago na Academia Paraibana de Letras, em 2014, a apresentação da obra ficou a cargo da professora e crítica literária Ângela Bezerra de Castro, vista nesta foto quando, noutra oportunidade, lançava, na ESMA-PB, um de seus próprios livros, sob o título de Um certo modo de ler. [Clique na foto para ampliá-la]
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O Dr. José Mário da Silva Branco — notável professor de Literatura, respeitado crítico literário e intelectual recém-eleito como membro da Academia Paraibana de Letras — publicou, no domingo, 26 de abril de 2015, no Jornal da Paraíba, o seguinte artigo, sobre o livro Gavetas da alma, de autoria da conhecida escritora paraibana Maria das Graças Santiago:


"Escritora, professora universitária e membro da Academia Paraibana de Letras, bem como de outras instituições de significativo prestígio cultural, Maria das Graças Santiago lançou no ano passado uma admirável coleção de crônicas intitulada sugestivamente de Gavetas da Alma, nas quais, com refinada sensibilidade e cuidadoso apuro linguístico, mergulha num diversificado universo de cenas, cenários, paisagens, personagens, assuntos, procurando imprimir em tudo quanto escreve a marca indelével da sua subjetividade.

Gênero brasileiríssimo, dado que não se tem notícia de que em outra geografia haja uma configuração textual semelhante à que se pratica entre nós, a crônica, apesar da sisudez de certas teorias da literatura mais hierarquizadas e autoritárias, é uma verdadeira unanimidade nacional. 

Ocupando cadeira cativa em quase todos os jornais espalhados pelo país, a crônica, por causa dos componentes de literariedade de que se acha impregnada, quando feita com engenho e arte, rapidamente se liberta da precariedade fugaz do signo jornalístico de feição meramente informativa e, de pronto, ganha as páginas duráveis do livro e, de igual modo, o estatuto de permanência e atemporalidade inerente à velha, atual e boa literatura.

É aqui que visualizo a excelente conceituação de crônica postulada pelo mestre Eduardo Portella: “gênero da literatura que sobrevive da permanente tensão entre o imediatismo circunstancial e o apelo à transcendência”. 

É exatamente o que ocorre com o cronicário de Maria das Graças Santiago. Migra da coluna jornalística mais factual e aparentemente despretensiosa, aloja-se nas páginas perdurantes do livro e alimenta-se dos nutrientes estéticos fornecidos pela literariedade, variado conjunto de investimentos linguísticos que o escritor realiza na palavra, a fim de elevá-la à categoria de arte, operação da qual Maria Santiago sai plenamente vitoriosa.

Dividindo o livro em sete partes, Maria Santiago vai a pouco e pouco abrindo as gavetas da sua alma atenta e sensível ao quase incontornável espetáculo do mundo, a fim de que nós, os seus leitores, possamos interagir com ela e compreender a maneira como ela enxerga o mundo e procura transfigurá-lo por meio do trabalho consciente e criativo da linguagem.

A primeira gaveta da alma da cronista ancora no porto luminoso das artes. Aqui, a magia da arte prefigura-se nos sons (Música), nas cores (Pintura) e nas Formas (Escultura), alguns dos caminhos encontrados pelo homem para emular com a morte e se eternizar no milagre da beleza que somente a grande arte é capaz de realizar.

A segunda gaveta se abre sobre o mundo desbordante dos livros e sobre o fascinante universo das pessoas que nos cercam e com as quais interagimos em nossa travessia terrena, dado que, conforme preconiza Eduardo Portella, “somos um ser para o outro e fora do diálogo o que existe é o precipício”.

A terceira gaveta, com ludismo e ternura, reconfigura as “pequenas história” de seres muitas vezes anônimos, mas sempre ricos e tocados daquela chama de mistério inerente a quem, longe de ser resultado de processos evolucionistas impessoais e despropositados é fruto de um sábio e amoroso ato de criação divina. 

A quarta gaveta põe em cena o código humorístico, não raro tingido de justo sarcasmo, com o qual a cronista espicaça certas manifestações da desinteligência nacional, notadamente as que se materializam no território de uma praga linguístico-ideológica chamada de politicamente correto. 

A quinta gaveta incursiona, criticamente, pelos “paradoxos da modernidade, pontuando as virtudes e os malefícios de um mundo onde “tudo que é sólido se desmancha no ar”.

A sexta gaveta matiza-se por um viés mais meditativo, no afã de captar, por dentro, os grandes desconcertos do mundo.

A sétima e última gaveta volta-se para o código memorialístico, nostálgico, consciente da dolorosa e inflexível passagem do tempo. 

Mostra-nos, de igual maneira, uma cronista fincada na tópica da viagem, precioso instrumento de nossos horizontes existenciais.

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