Thursday, November 14, 2019

HERMOSA: MISSA DE SÉTIMO DIA



___________________


Dona Hermosa Góis Sitônio, quando comemorava, no ano passado, seu centésimo quinto aniversário; participou da festa caseira com muito humor e pleno domínio de todas as suas faculdades. [CLIQUE NA FOTO PARA VÊ-LA AMPLIADA]
 ___________________


Hermosa não dispensava o uso das tecnologias modernas: o celular, como o computador, era um valioso auxiliar em seu dia-a-dia existencial. [CLIQUE NA FOTO PARA VÊ-LA AMPLIADA]
 ___________________


Dona Hermosa em casa: um cotidiano enviado de lembranças centenárias. [CLIQUE NA FOTO PARA VÊ-LA AMPLIADA]
 ___________________


O pernambucano Sr. José Alves de Campos Góis de Mello Filho, oriundo da região do Pajeú e pai de Dona Hermosa. [CLIQUE NA FOTO PARA VÊ-LA AMPLIADA]

___________________


A sertaneja paraibana Alexandrina (Xandu ou Xanduzinha) de Campos Góis, mãe de Dona Hermosa. [CLIQUE NA FOTO PARA VÊ-LA AMPLIADA]
 ___________________
  


Da esquerda para a direita, os irmãos, filhos de Xanduzinha com José Alves de Campos Góis de Mello Filho: na fila da frente, Hermosa, João e Maria das Dores; atrás, Maria de Lourdes e Jandira, [CLIQUE NA FOTO PARA VÊ-LA AMPLIADA]
 ___________________


O deputado estadual sertanejo Zacarias Sitônio, marido de Dona Hermosa Góis Sitônio. [CLIQUE NA FOTO PARA VÊ-LA AMPLIADA]
 ___________________
  


Dona Hermosa ao lado do marido Zacarias Sitônio, na antiga residência do casal, no bairro do Miramar, em João Pessoa (PB). [CLIQUE NA FOTO PARA VÊ-LA AMPLIADA]

___________________
  


Dona Hermosa, nos últimos tempos: ouvindo música (antiga ou moderna) e/ou superintendendo o dia-a-dia das filhas, dos netos e dos bisnetos — tarefas que desempenhava com muita satisfação, amor e desejo de servir. [CLIQUE NA FOTO PARA VÊ-LA AMPLIADA]
 ___________________


Um belo e expressivo texto da filha Maria Ângela (Mariângela ou Mallanja, carinhosos apelidos pelos quais é conhecida dos amigos mais íntimos); o escrito data de 2015, quando a mãe dela, Dona Hermosa, completava exatos 102 anos de idade, em plena saúde e ativa convivência com familiares e amigos. [CLIQUE NA FOTO PARA VÊ-LA AMPLIADA]
 ___________________


Dona Hermosa comemora com o marido Zacarias Sitônio as Bodas de Ouro do casal: 50 anos de um companheirismo sem percalços. [CLIQUE NA FOTO PARA VÊ-LA AMPLIADA]
 ___________________


Quando Dona Hermosa completou seu centenário, a cidade de Princesa Isabel prestou-lhe significativa homenagem pública, expressa num texto hoje conservado pela família da princesense emérita. [CLIQUE NA FOTO PARA VÊ-LA AMPLIADA]

___________________


UMA VIDA QUE RE-AL-MEN-TE VALEU A PENA: OS 106 ANOS DA SAUDOSA DAMA, RESPEITÁVEL CIDADÃ E INESQUECÍVEL MATRIARCA PRINCESENSE HERMOSA PEREIRA GÓIS SITÔNIO
________________

por Evandro da Nóbrega,
escritor, jornalista, editor, membro do IHGP
(Instituto Histórico e Geográfico Paraibano)
[druzzevandro001@gmail.com]
________________


Apesar dos inegáveis avanços esperançosamente observados nas últimas décadas nos campos da Medicina, da Geriatria, da Gerontologia, da Macrobiótica e de outras ciências, disciplinas, tecnologias e técnicas que intentam prolongar nossa existência sobre este vale de lágrimas denominado Terra, não é todo dia que cristãmente se reza uma missa de sétimo dia pela alma de alguém recém-falecido aos 106 anos de idade.
Mas vamos todos nós, justamente, nesta quarta-feira, 13 de novembro de 2019, comparecer ao rito católico em homenagem a nossa boa amiga Dona Hermosa Góis Sitônio, desencarnada no dia 7 próximo passado, em João Pessoa (PB), depois de viver exatos 106 janeiros. A missa será celebrada a partir das 17 h, na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, no bairro do Miramar. A família agradece penhoradamente a todos os que comparecerem a esse ato de fé e caridade cristã, como faz questão de ressaltar uma de suas filhas, a Dra. Maria Ângela Sitônio Wanderley, professora, socióloga, ex-diretora do CCHLA/UFPB (Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal da Paraíba).

QUEM ERA DONA HERMOSA
Nem todos sabem que a falecida, Dona Hermosa Góis Sitônio, era sobrinha do “coronel” José Pereira Lima, o chefe político e militar do movimento revoltoso surgido no interior da Paraíba, mais exatamente na cidade de Princeza (“sic”; depois Princesa Isabel), durante os governos do presidente (nacional) Washington Luís e do presidente estadual João Pessoa. Zé Pereira, do PRP e portanto “perrepista”, chegou a proclamar a secessão do município de Princeza, transformando-o num “território livre”, em sangrenta guerra contra o Governo estadual, que declaradamente procurava derrubar.
Pereira somente abandonou a luta separatista quando da vitória nacional da Revolução (liberal) de outubro de 1930, poucos meses depois do assassinato do mesmo presidente João Pessoa, em Recife (PE), por um partidário do “coronel” José Pereira, o advogado João Duarte Dantas. Sob o novo regime, tropas do Exército ocuparam Princeza, eliminando por completo quaisquer veleidades de resistência por parte dos revoltosos perrepistas.

EM 1930, ERA SÓ UMA MOCINHA
Quando desses trágicos acontecimentos, envolvendo figuras de relevo em sua família, a depois matriarca Hermosa era apenas uma mocinha de seus 17 anos, pois nascera exatamente na depois revolucionária Princeza no dia 18 de fevereiro de 1913.
Mas toda essa saga envolvendo Política e sangue, Revolução e embates cívicos, Polícia Militar, “macacos”, revoltosos, jagunços, cangaceiros, orgulho bairrista e tudo o mais, ficaria indelevelmente gravada em sua mente. E Hermosa, ao longo da vida, não deixou de ir-se inteirando de tudo quanto ocorresse em Princeza (Princesa Isabel a partir da década de 1930), de modo que se transformou numa espécie de “princesóloga”, podendo discutir quaisquer aspectos da História e do dia-a-dia de sua querida urbe princeso-isabelense.

O PAI & A MÃE DE HERMOSA
O pai de Dona Hermosa, o Sr. José Alves de Campos Góis de Mello Filho, provinha da importante região pernambucana do Pajeú. O nome tupi do Pajeú [= "rio do pajé"] deriva do curso d'água predominante na área, o homônimo Rio Pajeú, que nasce na Serra da Balança, no atual município de Brejinho, nas proximidades da divisa entre os Estados de Pernambuco e da Paraíba. Ainda hoje o rio em pauta, afluente do São Francisco, tem muito relevo na vida de quase 30 municípios, incluindo as cidades pernambucanas de Itapetim, Tuparetama, São José do Egito, Ingazeira, Afogados da Ingazeira, Carnaíba, Flores, Calumbi, Serra Talhada, Floresta e Itacuruba.
Pois bem, o citado pernambucano José Alves de Campos Góis de Mello Filho casou-se na antiga Princeza com uma irmã do “coronel” José Pereira Lima, a jovem Alexandrina Pereira de Campos Góis. O nome “Alexandrina” era então muito comum no Brasil, especialmente nos Sertões — e seu apelido respectivo era Xandu, com o diminutivo Xanduzinha. Quem, da velha guarda, não se lembra de uma Dona Xandu, na infância? Em Patos, lembramo-nos de várias delas — e até mesmo no ramo local dos Nóbregas havia mais de uma!

NA TERRA DAS XANDUZINHAS
O que imediatamente nos remete à célebre canção de 1950, intitulada precisamente "Xanduzinha" e composta pela genial dupla Humberto Teixeira/Luiz "Lua" Gonzaga, homenageando a real história de amor nordestina, tipicamente sertaneja, que envolvia o casal Alexandrina Diniz (apelidada Xandu ou Xanduzinha). Ela, jovem apaixonada, ajudou o marido, o fazendeiro Marcolino Diniz, a reconstruir suas propriedades, uma vez encerrada a “Guerra de Princesa”, durante a qual haviam sido quase por inteiro destruídas essas fazendolas. Ficou imortalizado esse amor, na música popular brasileira:

O caboco Marcolino
tinha oito boi zebu;
uma casa com varanda,
dando pro norte e pro su;
seu paió tava cheinho
de feijão e de andu,
sem contar com mais uns cobres
lá no fundo do baú...
Marcolino dava tudo
pur um chêro da Xandu!

Ai, Xanduzinha,
Xanduzinha minha flô,
como foi que você deixô
tanta riqueza pelo meu amô?
Ai, Xanduzinha,
Xanduzinha meu xodó,
eu sô pobre, mas você sabe
que meu amô
vale mais que ouro em pó.

DIGRESSÃO ETIMOLÓGICA ETC
Pois é, o “cabôco”, o caboclo Marcolino Diniz... Seria essa sua Xandu prima ou, se não, parente da Xanduzinha que viria a ser mãe de Dona Hermosa? Mas interrompemos a nós mesmos com uma digressão talvez impertinente, desnecessária, aqui descabida. Não resistimos ao impulso linguajeiro, porém! É que uma corrente de filólogos acha que o termo CABOCLO fez a seguinte trajetória etimológica no português do Brasil: tupi “kuri-boka” [= “que veio do branco”] > karboko > carboco > cabocro > caboclo. Outra corrente, porém, sustenta que tudo vem, sim, do tupi, mas do étimo "caã-bok", "retirado do mato", já que "caá", sabidamente, é "capim", "mato", "vegetação".
Na década de 1950, conhecemos um primo (ou, de todo modo, parente dele, isto é, do caboclo Marcolino Diniz), chamado José Diniz. Era um galego bem apessoado, mui do corpulento, bravo, destemido, que, às segundas-feiras, ia à feira de Patos com seu caminhão de duas boleias, trazendo gente e mercadorias — e que era muitíssimo amigo de nosso pai, o comerciante local Fernando Fernandes da Nóbrega. Zé Diniz não se separava de seu revólver calibre ’38, nem de sua pistola 9 mm, daquele modelo de parabellum germânico, remanescente da Primeira Guerra Mundial.

BRAÇO QUEBRADO A BALA
Esse Diniz tinha lá suas razões para ser tão precavido. Certa feita, já bem na saída de uma área urbana, área de rarefeita ocupação humana (não nos recordamos bem se perto de Princesa Isabel, de Teixeira ou do Vale do Piancó), fora atacado de emboscada por dois pérfidos pistoleiros. Uma das balas disparadas pelos facínoras quebrou-lhe o braço esquerdo à altura do cotovelo, de modo que Zé Diniz ficou sem forças para armar o ferrolho do parabelo calibre 9 mm. E sem isso, claro, as cápsulas mortíferas não iam para o “tambor” principal da pistola.
Teve Zé Diniz então a ideia de, jogando-se de bruços no tosco calçamento do fim de rua, pressionar a arma contra o meio-fio de pedra bruta, com o braço ileso. Deu certo: com a mão boa, conseguiu acionar o mecanismo principal da Luger — arma preferida pelo cangaceiro-mor Lampião (fora respectivamente adotada, no Brasil, pela Marinha, em 1904, e pelo Exército, em 1908).

APRESSANDO ENCONTRO COM DEUS
Uma vez armado, o parabelo de Zé Diniz, galego de invejável pontaria provada & comprovada noutras refregas, despejou sobre os criminosos a carga inteira dos letais petardos. Diniz não costumava se gabar de haver tirado a vida desses (ou outros) bandidos. Provavelmente adepto daquele pensamento segundo o qual “não matamos maus elementos; quem os mata é Deus; nós só apressamos o encontro entre eles e a Divindade”, apenas dizia: “Eles ficaram lá”.
— Lá, como, Zé Diniz? Você matou ou não matou os cabras?! — provocava “seu” Nanane, nosso pai.
— Não sei. Como vou saber? — era a resposta de Diniz — Eles apenas ficaram lá, sem se bulir, um pendurado na cerca, outro na porteira. Não fui olhar de perto, não...

IRMÃO & IRMÃS DE HERMOSA
Mas que digressão danada de longa! Mas, afinal e felizmente estamos de volta ao tema “Dona Hermosa”, valendo lembrar, pela ordem cronológica de nascimento, quais foram os filhos do nobre casal pernambuco-paraibano José Alves de Campos Góis de Mello Filho/Alexandrina Pereira de Campos Góis, a Xanduzinha:
1)  Jandira
2)  Maria de Lourdes
3)  HERMOSA (o objeto deste artigo)
4)  João Alves de Campos Góis e
5)  Maria das Dores. 

CASADA COM ZACARIAS SITÔNIO
A jovem Hermosa viria a se casar, em maio de 1946, na já então cidade de Princesa Isabel, com um correligionário do deputado e chefe político José Pereira Lima, de nome ZACARIAS SITÔNIO, o qual mais tarde viria a ser deputado estadual com atuação destacada e com enorme círculo de admiradores em praticamente todo o território paraibano. Zacarias, homem franco, disposto, inteligente, preparado, de moral ilibada e de muita palavra, nascera em 24 de novembro de 1909, na pequena cidade de Jericó, próxima a Princeza. Tinha cerca de quatro anos a mais que sua esposa Hermosa. Ainda no interior do Estado, isto é, antes de vir morar definitivamente na capital João Pessoa, o casal Zacarias Sitônio/Hermosa Góis Sitônio legou ao mundo três filhas:
1)  Marta;
2)  Maria Ângela (Mallanja, para os íntimos); e
3)  Berta Margarete.

UMA VISÃO DE ALCIDES CARNEIRO
Marta, Mariângela, Berta Margarete... Três lindas meninas, podem acreditar. Se dúvidas houvesse sobre essa tripla boniteza, está aí o grande escritor, ministro, tribuno e poeta Alcides Carneiro, o imenso Alcides Vieira Carneiro que não nos deixa mentir. O Dr. Alcides, ele mesmo um princesense da gema (embora liberal e não perrepista), em visita ao casal Zacarias Sitônio/Hermosa, lá mesmo em Princesa Isabel, viu que Dona Hermosa estava numa rede, com as três filhas sentadas ao chão, a seus pés, lendo, conversando, rezando. O poeta Alcides não se conteve e desabafou em voz alta:
— A Constelação das Três Irmãs... As Três Graças... As Três Marias... Uma visão realmente divina, digna de ser testemunhada por um poeta! 
  
FILHOS, NETOS & BISNETOS
Além das três filhas (Marta, Maria Ângela, Berta Margarete), Dona Hermosa deixou, ao falecer, na semana passada, sete netos e dez bisnetos (até agora). Sim, porque aqui está a descendência dela e de suas filhotas:

1)  Marta, viúva de Cleanto Lemos Coutinho e mãe de Luciana, Germana (falecida aos 15 anos de idade) e Juliana, com os netos Rafael, João, Gabriel e Júlia (bisnetos de Dona Hermosa);

2)  Maria Ângela Sitônio Wanderley, socióloga, educadora, docente universitária aposentada da UFPB (onde, entre outros importantes cargos, foi diretora do CCHLA), viúva do médico-psiquiatra Marcos Alberto Peixoto Wanderley, nosso saudoso amigo, intelectual antenado com os avanços espirituais de todo o Planeta, cronista de mancheia, prematuramente desaparecido — e com quem teve os seguintes filhos: Marília, Olavo e Rogério, deles resultando os netos Camila, André, Sabrina, Melina, Ester e Pedro, todos bisnetos de Dona Hermosa; e

3)  Berta Margarete, casada com Manuel Souto, pais de um filho, Rodrigo, neto de Dona Hermosa.

JOVEM MAIS QUE CENTENÁRIA
Prima, entre outros, do escritor, poeta e cronista Otávio Sitônio Pinto e da jornalista Marcela Xavier Sitônio Lucena, Dona Hermosa faleceu na semana passada, mais exatamente no dia 7 de novembro de 2019, como ficou dito. Seu corpo foi sepultado no jazigo da família, no Cemitério do Senhor da Boa Sentença, onde já se achavam inumados os restos mortais de seu marido, o deputado Zacarias Sitônio, falecido em 13 de maio de 1998.
Durante muito tempo, em companhia de sua filha e amiga Maria Ângela Sitônio Wanderley, frequentamos, o degas aqui e nosso dileto primo Márcio Roberto Soares Ferreira, intelectual, ex-secretário-geral do TJPB e “memória viva do Judiciário paraibano”, o amplo e nobre sobrado (melhor diríamos, o solar) do casal Zacarias/Hermosa, ali em Miramar, bem ao lado da sede social do Esporte Clube Cabo Branco — imóvel que, hoje, em regime de incorporação, viu-se transformado em luxuoso edifício.

NÃO LHE PESAVAM OS ANOS
Não havia aniversário na residência do escritor, poeta, ex-conselheiro e ex-presidente do TCE-PB Luiz Nunes Alves, o Severino Sertanejo, que não contasse com a simpática participação de Dona Hermosa, sempre firme, vivaz, de tino perfeito — sejam fiadores de nossa palavra o editor/poeta Juca Pontes e o escritor Braulio Tavares. 
O passar dos anos em nada jamais afetou seu bom humor, seu gosto pela vida, seu amor e dedicação à família. Porque muito vivera, muito tinha a contar. A ancianidade não lhe roubou a tolerância, não lhe obliterou a memória, nem “in processa aetate” abdicou de sua condição de cidadã entusiasta da democracia. Prova disto é que, em época de eleições, mesmo tendo que usar cadeira de rodas (para evitar quedas perigosas em sua provecta idade, por exemplo), não deixava de entrar na fila para votar!
Suas filhas, seus netos e seus bisnetos podem muito bem atestar melhor que nós: à medida que sua cabeça se cobria de cãs, Dona Hermosa, crescentemente, voltava-se para o cuidado e o interesse com o bem-estar dos familiares, dos concidadãos, dos contemporâneos. Vai-se a provecta dama, fica a legenda de 106 anos que re-al-men-te valeram a pena.
 ___________________


O neto, Olavo, um dos filhos da Dra. Maria Ângela Sitônio Wanderley. [CLIQUE NA FOTO PARA VÊ-LA AMPLIADA]
 ___________________


Ainda o neto Olavo, filho da professora Maria Ângela, com os familiares dele e em companhia da avó Hermosa. [CLIQUE NA FOTO PARA VÊ-LA AMPLIADA]
 ___________________


No jornal "A União", edição de 19 de fevereiro de 2013, o escritor, poeta e cronista Otávio Sitônio Pinto, também princesense da gema e primo legítimo de Dona Hermosa Góis Sitônio, publicou um artigo especial abordando os cem anos de vida então completados pela simpática e respeitada matriarca paraibana. [CLIQUE NA FOTO PARA VÊ-LA AMPLIADA]

___________________


Quando Dona Hermosa Pereira Góis Sitônio completou 100 anos, "ainda com vigor, serenidade, lucidez e amor para com todos", o poeta, escritor e cineasta Marco di Aurélio exibiu o filme documentário que, com esmerada equipe, dirigira pessoalmente para homenagear a ilustre aniversariante. Eis aqui o registro ou ficha técnica dessa produção cinematográfica. [CLIQUE NA FOTO PARA VÊ-LA AMPLIADA] 
___________________
  



"As guerras passam, Hermosa fica" foi o título de um artigo do escritor, jornalista, poeta e cronista do cotidiano Otávio Sitônio Pinto sobre Dona Hermosa Góis Sitônio. O artigo é aqui apresentado em suas duas páginas datilografadas — e não o texto impresso que saiu publicado na Imprensa pessoense. [CLIQUE NA FOTO PARA VÊ-LA AMPLIADA]

___________________


Numa página inteira do jornal "Correio da Paraíba", edição de domingo, 26 de fevereiro de 2017, o jovem Luís Eduardo Andrade publicou reportagem sobre os então completados 104 anos de vida de Dona Hermosa Pereira Góis Sitônio, com ela inclusive abordando o relacionamento que mantivera com o tio José Pereira Lima, o "coronel" que chefiara a Política da antiga Princeza, depois Princesa Isabel. [CLIQUE NA FOTO PARA VÊ-LA AMPLIADA]

___________________


Um dos mais frequentes interlocutores de Dona Hermosa era o historiador, poeta popular, escritor, ex-conselheiro e ex-presidente do TCE-PB, o Dr. Luiz Nunes Alves, aqui recepcionando em seu lar (ao lado da esposa Bernadeth, “in memoriam”) a ilustre princesense mais que centenário e cuja conversa representava sem dúvidas um multifacetado repositório de fatos históricos de expressiva relevância.. [CLIQUE NA FOTO PARA VÊ-LA AMPLIADA]

___________________
  


O convite para a missa de sétimo dia pela alma de Dona Hermosa Góis Sitônio, rezada nesta quarta-feira, 13 de novembro de 2019, em João Pessoa. [CLIQUE NA FOTO PARA VÊ-LA AMPLIADA]

___________________

Friday, August 30, 2019

DUPLA RENÚNCIA NO IHGP



________________________


O Dr. Guilherme Gomes da Silveira d’Avila Lins, médico, professor, historiador, escritor, acadêmico e um dos maiores especialistas internacionais em História Colonial, que vem de renunciar ao direito de disputar a reeleição para a Presidência do IHGP, tendo ainda renunciado ao próprio cargo presidencial que exercia. [Clique na foto para vê-la ampliada]
________________________


O Dr. Joaquim Osterne Carneiro, engenheiro-agrônomo, escritor, memorialista e historiador , que renunciou ao direito de disputar a reeleição para a Vice-Presidência do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, tendo ainda renunciado ao próprio cargo vice-presidencial que exercia, como eventual substituto do Dr. Guilherme. [Clique na foto para vê-la ampliada]

________________________


A sede do IHGP, no centro da cidade de João Pessoa, capital do Estado da Paraíba. [Clique na foto para vê-la ampliada]

________________________


O brasão d'armas (ou escudo) do IHGP. [Clique na foto para vê-la ampliada]

________________________

O Auditório Humberto Nóbrega, no andar superior do prédio do IHGP. [Clique na foto para vê-la ampliada]
________________________



PRESIDENTE E VICE-PRESIDENTE DO IHGP RENUNCIAM PARA EVITAR UMA ESPÉCIE DE DISPUTA POLÍTICA NA MAIS ANTIGA INSTITUIÇÃO CULTURAL EM ATIVIDADE CONTÍNUA NA PARAÍBA

________________________

por Evandro da Nóbrega,
escritor, jornalista, editor, filólogo, historiador, sócio efetivo
do IHGP - Instituto Histórico e Geográfico Paraibano
[druzzevandro@gmail.com]

________________________


Continua a repercutir intensamente, em todos os meios sociais, em especial nos setores cultural, artístico e intelectual, a dupla renúncia recém-ocorrida no âmbito do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano (IHGP). Aliás, não se tratou apenas de uma “dupla renúncia”, como se vai agora explicar. Ocorre que o presidente do IHGP, historiador, médico e escritor Guilherme Gomes da Silveira d’Avila Lins, acaba de renunciar ao cargo que vinha exercendo há cerca de três anos à frente da mais antiga instituição cultural em atividade contínua no Estado - e, consequentemente, também decidiu não mais disputar a reeleição para um novo mandato.
Horas depois, o vice-presidente do mesmo IHGP, historiador e engenheiro-agrônomo Joaquim Osterne Carneiro não só renunciou a seu cargo de eventual substituto do Dr. Guilherme d’Avila Lins, como também desistiu de tentar, pelas urnas, uma recondução à Vice-Presidência da Casa da Memória Paraibana, como é igualmente conhecido o Instituto.
Essas renúncias e desistências foram comunicadas aos sócios efetivos do IHGP por intermédio de e-mails contendo os textos das cartas de “resignment” assinadas pelos Drs. Guilherme d’Avila Lins e Joaquim Osterne. Tais e-mails viram-se expedidos pela Secretaria do Instituto e se constituíram na mais absoluta surpresa para todos os integrantes do IHGP.

CAUSAS DA DUPLA RENÚNCIA
Em sua carta de dupla renúncia (renúncia a disputar a reeleição e renúncia ao próprio cargo que já exercia), o historiador Guilherme d’Avila Lins, considerado uma das maiores autoridades mundiais em História Colonial, afirma, entre outras coisas, que, “ao menos para mim, infelizmente, o IHGP está neste momento em vias de entrar numa nova era da sua própria história, ou seja, a era da disputa partidária da sua gestão cultural e administrativa, disputa esta que, embora legítima e até democrática, todavia, não se enquadra na tradição histórica da citada Entidade de Cultura desde a sua fundação em 1905”.
Estamos portanto no limiar de uma nova era da História do IGHP — explica ainda o Dr. Guilherme — Não sou a favor do continuísmo, mas a verdade é que, como em diversas entidades congêneres deste País, a possibilidade de recondução à Presidência da Casa era ilimitada, inclusive no IHGP. Somente nas últimas décadas esta Instituição restringe esta possibilidade a apenas uma recondução. Aliás, desde então todos os que pretenderam esta recondução a obtiveram sem uma única voz discrepante, voz esta que surge agora com o lançamento de uma chapa dissidente (com força política), o que significa a existência de uma facção discrepante e isto respinga necessariamente sobre minha pessoa, embora fique a destoar da tradição da Casa.

DE TODO MODO, O GRANDE PERDEDOR
E o historiador, médico e escritor Guilherme Gomes da Silveira d’Avila Lins prossegue:
Discrepar é sem dúvida um direito democrático, mas eu não tenho nem aspirações de Poder, nem sou um animal político-partidário. Se nunca tive unanimidade de adesão, também nunca tive oposição expressamente constituída. O mesmo aconteceu com os que me antecederam. Sou apenas um pesquisador de História que gostaria de completar as realizações que prometi ao tomar posse da Presidência, em 2016. Insisto: não tenho aspirações políticas de mando, nem minha biografia permite que eu me transforme num participante desta inédita cena de embate político que ora se avizinha no IHGP. Ganhando ou perdendo esta disputa, eu seria o grande perdedor, porque agora estaria estabelecida enorme rachadura nas tradicionais condutas do IHGP, ao longo do tempo. Em suma, seria uma “guerra” de bancadas que nem desejo para mim, nem para o próprio IHGP. Esta não é a tradição dos Institutos Históricos do Brasil. Seria um embate político-partidário, o que considero lamentável. O IHGP é uma Casa de Cultura, não uma câmara de “Xiririca da Serra” (nome fictício que se costuma ouvir no linguajar do Sudeste). Enfim, esta possibilidade de uma eventual recondução significa para mim apenas uma questão de princípios além de um enorme sacrifício pessoal. Como se pode verificar no próprio IHGP, sou um homem ligado à Cultura [Vide meu Curriculum Vitae (Sinopse) com 96 páginas dedicadas somente às áreas de História e Letras, além e do respectivo Anexo Bibliográfico contendo 115 verbetes].

A PRÁTICA NOUTROS INSTITUTOS
O Dr. Guilherme explicita que “também não estava pretendendo a recondução apenas para me conceder um oportuno “repouso do guerreiro”. Desta maneira, não consigo ver transformada uma bem intencionada gestão cultural numa disputa de poder político com formação de bancadas que se opõem uma à outra. Para mim, isto é impensável numa Instituição como o IHGP. Repito aqui que nunca defendi o continuísmo em tais situações, embora esta praxe se mostre muito bem exemplificada, inclusive no IHGP e pelo Brasil afora.” E dá continuidade a seus raciocínios:
Apenas a título de ilustração, ainda nos seus primórdios o IHGP teve o Dr. Flávio Maroja como seu Presidente por mais de duas décadas. No Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN) o saudoso Enélio Lima Petrovic foi seu Presidente por bem mais de três décadas. Por sua vez, José Antonio Gonsalves de Mello foi Presidente do Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP) em dois diferentes períodos, um dos quais com dez anos de duração. Já no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL) Jaime Lustosa de Altavilla é seu Presidente há várias décadas. A seu turno, a saudosa Maria Thetis Nunes foi Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE) durante três décadas. A igualmente saudosa Consuelo Pondé de Sena foi Presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) durante cinco mandatos, até o seu falecimento. Por sua vez, Nelly Martins Ferreira Candeias foi Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP) por cerca de duas décadas. A esta relação deve obrigatoriamente ser acrescentado o caso do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), celula mater de todos os seus congêneres no Brasil, teve Arno Wehling como seu Presidente durante quase vinte e cinco anos, até se exonerar do cargo em 2019 por motivo de saúde. Já que Arno Wehling também é membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) seja-me permitido acrescentar que esta última teve como Presidente, durante trinta e quatro anos, o saudoso Austregésilo de Athayde. Não estou aqui me comparando a cada uma destas insignes figuras, mas tão somente ilustrando a tendência do tradicional modelo de funcionamento destas memoráveis instituições de Cultura no Brasil, o qual não se coaduna com as disputas políticas que são mais próprias do meio político geral.

NÃO QUER PARTICIPAR DE DISPUTA POLÍTICA
       Igualmente em seu arrazoado, o Dr. Guilherme d’Avila Lins acrescenta: “Mas voltemos ao âmago da questão local. É inegável admitir que existe hoje uma não ponderável fatia do IHGP que não quer que eu seja reconduzido à Presidência, mesmo que com o propósito de (durante três anos) vir a concluir o que comecei. Fiat voluntas tua. Esta fatia corresponde à maioria ou à minoria da Casa?
Ao meu ver — reforça o renunciante, na carta de dupla “resignation” — isto pouco importa (mas não com disputas abertas). O que importa é que existe uma rachadura no vaso da Cultura do nosso Estado. E eu não posso contribuir para isto ainda mais. Ademais, não desejo, eventualmente, gerir uma casa onde há membros que não me aceitam, pouco importa quantos eles são. O IHGP é pequeno demais para este tipo de dissidência; entretanto, a História é grande demais para que eu me conserve incluído nela.
Na missiva de dupla renúncia, o Dr. Guilherme d’Avila Lins lista igualmente uma série de realizações que pôde concretizar durante seu período à frente do IHGP. E, entre outras coisas, também agradece à colaboração de servidores da Instituição, cujos nomes faz questão de citar.

________________________
                                                                                                                                                                                                           
A CARTA DE RENÚNCIA DO DR. GUILHERME GOMES DA SILVEIRA D’AVILA LINS
  
CARTA DE DESISTÊNCIA QUANTO AO PLEITO DE RECONDUÇÃO AO CARGO DE PRESIDENTE DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO PARAIBANO (IHGP) E DE RENÚNCIA AO MANDATO DE ATUAL PRESIDENTE DA MESMA INSTITUIÇÃO

Excelentíssimo Sr. Dr. Joaquim Osterne Carneiro
M. D. Vice-Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano

          Como se lê no cabeçalho esta é uma carta de minha desistência para concorrer à recondução ao cargo de Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano (IHGP) e, ao mesmo tempo, é também uma carta de renúncia ao mandato de Presidente da mesma Instituição. Evidentemente, este documento está acrescido de algumas reflexões oportunas nesta ocasião, as quais serão vistas adiante.

É bem sabido que o IHGP, também conhecido como a Casa de Irineu Ferreira Pinto constitui a mais antiga Casa de Cultura deste Estado em atividade contínua, cujo foco primordial de seus objetivos na condição de Instituição de direito privado sem fins lucrativos (aliás, como todas as congêneres neste País) é promover a pesquisa e a difusão do conhecimento primordialmente nas áreas da História, da Geografia e das ciências afins.

Ao menos para mim, infelizmente o IHGP está neste momento em vias de entrar numa nova era da sua própria história, ou seja, a era da disputa partidária da sua gestão cultural e administrativa, disputa esta que, embora legítima e até democrática, todavia, não se enquadra na tradição histórica da citada Entidade de Cultura desde a sua fundação em 1905.

Estamos portanto no limiar de uma nova era da História do IGHP. Não sou a favor do continuísmo mas a verdade é que, como em diversas entidades congêneres deste País, a possibilidade de recondução à Presidência da Casa era ilimitada, inclusive no IHGP. Somente nas últimas décadas esta Instituição restringe esta possibilidade a apenas uma recondução. Aliás, desde então todos os que pretenderam esta recondução a obtiveram sem uma única voz discrepante, voz esta que surge agora com o lançamento de uma chapa dissidente (com força política), o que significa a existência de uma facção discrepante e isto respinga necessariamente sobre a minha pessoa, embora fique a destoar da tradição da Casa.

Discrepar é sem dúvida um direito democrático mas eu não tenho nem aspirações de poder nem sou um animal político-partidário. Se nunca tive unanimidade de adesão também nunca tive oposição expressamente constituída. O mesmo aconteceu com os que me antecederam. Sou apenas um pesquisador de História que gostaria de completar as realizações que prometi ao tomar posse da Presidência em 2016. Insisto, não tenho aspirações políticas de mando nem minha biografia permite que eu me transforme num participante desta inédita cena de embate político que ora se avizinha no IHGP. Ganhando ou perdendo esta disputa eu seria o grande perdedor porque agora estaria estabelecida uma enorme rachadura nas tradicionais condutas do IHGP ao longo do tempo. Em suma, seria uma “guerra” de bancadas que nem desejo para mim nem para o próprio IHGP. Esta não é a tradição dos Institutos Históricos do Brasil. Seria um embate político-partidário, o que considero lamentável. O IHGP é uma Casa de Cultura, não uma câmara de “Xiririca da Serra” (nome fictício que se costuma ouvir no linguajar do Sudeste). Enfim, esta possibilidade de uma eventual recondução significa para mim apenas uma questão de princípios além de um enorme sacrifício pessoal. Como se pode verificar no próprio IHGP, sou um homem ligado à Cultura [Vide meu Curriculum Vitae (Sinopse) com 96 páginas dedicadas somente às áreas de História e Letras, além e do respectivo Anexo Bibliográfico contendo 115 verbetes].

Também não estava pretendendo a recondução apenas para me conceder um oportuno “repouso do guerreiro”. Desta maneira, não consigo ver transformada uma bem intencionada gestão cultural numa disputa de poder político com formação de bancadas que se opõem uma à outra. Para mim isto é impensável numa Instituição como o IHGP. Repito aqui que nunca defendi o continuísmo em tais situações, embora esta praxe se mostre muito bem exemplificada, inclusive no IHGP e pelo Brasil afora.

Apenas a título de ilustração, ainda nos seus primórdios o IHGP teve o Dr. Flavio Maroja como seu Presidente por mais de duas décadas. No Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN) o saudoso Enélio Lima Petrovic foi seu Presidente por bem mais de três décadas. Por sua vez, José Antonio Gonsalves de Mello foi Presidente do Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP) em dois diferentes períodos, um dos quais com dez anos de duração. Já no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL) Jaime Lustosa de Altavilla é seu Presidente há várias décadas. A seu turno, a saudosa Maria Thetis Nunes foi Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE) durante três décadas. A igualmente saudosa Consuelo Pondé de Sena foi Presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) durante cinco mandatos até o seu falecimento. Por sua vez, Nelly Martins Ferreira Candeias foi Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP) por cerca de duas décadas. A esta relação deve obrigatoriamente ser acrescentado o caso do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), celula mater de todos os seus congêneres no Brasil, teve Arno Wehling como seu Presidente durante quase vinte e cinco anos, até se exonerar do cargo em 2019 por motivo de saúde. Já que Arno Wehling também é membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) seja-me permitido acrescentar que esta última teve como Presidente, durante trinta e quatro anos, o saudoso Austregésilo de Athayde. Não estou aqui me comparando a cada uma destas insignes figuras, mas tão somente ilustrando a tendência do tradicional modelo de funcionamento destas memoráveis instituições de Cultura no Brasil, o qual não se coaduna com as disputas políticas que são mais próprias do meio político geral.

         Mas voltemos ao âmago da questão local. É inegável admitir que existe hoje uma não ponderável fatia do IHGP que não quer que eu seja reconduzido à Presidência, mesmo que com o propósito de (durante três anos) vir a concluir o que comecei. Fiat voluntas tua. Esta fatia corresponde à maioria ou à minoria da Casa ? Ao meu ver isto pouco importa (mas não com disputas abertas). O que importa é que existe uma rachadura no vaso da Cultura do nosso Estado. E eu não posso contribuir para isto ainda mais. Ademais, não desejo, eventualmente, gerir uma casa onde há membros que não me aceitam, pouco importa quantos eles são. O IHGP é pequeno demais para este tipo de dissidência, entretanto a História é grande demais para que eu me conserve incluído nela.

         Ao meu opositor-chefe e confrade Severino Ramalho Leite (não necessariamente o idealizador desta contenda que inclusive tem articuladores ocultos mas não tanto), pessoa a quem muito considero por sua competência política (cujas atividades, segundo ele próprio, está encerrando), preciso fazer uma oportuna retificação diante de um comentário generoso que ele fez ao afirmar que o meu currículo é até superior ao dele próprio. Esta afirmativa não expressa toda a verdade, meu caro confrade, e a bem dela devo dizer que o seu currículo político é infinitamente superior ao meu embora no campo da História o meu currículo seja infinitamente superior ao seu (sem qualquer imodéstia) e isto é fácil de comparar mas não é este o meu objetivo.

Por outro lado, alimento algumas curiosidades em relação a este pleito que se aproxima. Por exemplo, como se explica o interesse cultural do meu opositor-chefe e de seus correligionários no sentido de ajudar a melhorar o IHGP, levando em conta que é virtualmente nula ou simplesmente nula as respectivas presenças na sua sede (seja para uma mera visita, seja para alguma contribuição intelectual) ? O livro de presença dos associados está à disposição de todos, assim como está à disposição de todos o livro de presença dos pesquisadores diuturnos desta Instituição, estes sim, realmente numerosos. Que contribuição imaterial efetiva (você e) os seus correligionários deram nos últimos três anos para ajudar o IHGP a resolver seus problemas cruciantes ? É chegada a hora, portanto, de meus opositores passarem por todas as atribulações para manter o IHGP ao menos ainda existente diante da sua mais grave crise financeira até hoje vivida nos seus 114 anos de idade. Ponham-se à vontade porque eu não vou lhes dar o gosto de transformar uma eleição de natureza cultural numa eleição política. Este é o seu ramo, não o meu. Competir politicamente não é a minha área. Enfim, você não saberá se teria mais votos ou menos votos que eu porque qualquer resultado final agora não será mais uma boa medida. Nem eu tenho esta curiosidade. Não estou numa corrida de bigas nem farei parte deste tipo de jogo democrático. Eu ainda tenho muito o que fazer nas minha pesquisas de História e ainda não estou precisando do ócio do guerreiro. Enfim, honrarei o costume da Casa que já dura 114 anos. Aliás, já que falei de 114 anos de existência, peço ao meu confrade Severino Ramalho Leite que por favor diga ao seu Imediato que ele precisa conhecer melhor a História do IHGP. Fica feio para ele, sendo do ramo da História, dizer que o IHGP já teve disputa pelo cargo de Presidente numa das duas gestões do saudoso Joacil de Brito Pereira (Consulte os documentos da Casa). Enfim, como este seu Imediato é ainda bastante jovem (e sem experiência como gestor cultural) resta-lhe tempo suficiente para aprender a História do IHGP. De todo modo, há gente do melhor respeito entre os seus correligionários mas há também certos exemplos que eu até prescindiria. Um deles, em particular, iniciou sua escalada para ingressar nesta Instituição divulgando uma lista dos membros do IHGP que iriam votar nele para conseguir sua admissão no respectivo quadro. Nesta lista figurava o meu nome e eu jamais lhe prometi voto. Por fim, o mesmo correligionário, apresentando-se há poucas semanas num grupo que compõe a chapa opositora e na frente de três dos seus parceiros, sentiu-se na liberdade de me perguntar quando eu ia liberar a relação dos sócios inadimplentes do IHGP e ainda em quanto montavam as suas respectivas dívidas. Diante disto ele recebeu uma educada mas sonora negativa ao seu pedido pois atendê-lo significaria um ato antiético de minha parte (Ignoro quais eram seus objetivos com aquela pergunta e também não quero saber). Fica mais uma vez claro que de uma disputa como esta eu me recuso a participar. Prefiro respeitar a minha biografia e continuar elaborando as minhas pesquisas históricas. Saio desta cena com a consciência tranquila de que fiz o melhor que pude mas não tudo que eu queria fazer. No IHGP inclusive desgastei a minha saúde com a perda de quinze quilos em três anos que servem para sugerir as vicissitudes pelas quais passei.

         Já caminhando para o final deste longo documento e depoimento devo acrescentar mais algumas coisas sobre a minha passagem como Presidente do IHGP. Ao tomar posse em Setembro de 2016 constatei logo a situação caótica pela qual esta benemérita Entidade passava.

1)    Sem recursos materiais verificou-se logo que toda a estrutura do teto da sua sede poderia ruir a qualquer instante, o que me fez interditar todo o andar entretanto o IHGP continuou funcionando nos demais andares, todavia sempre em reformas que duram até hoje. Diante desta situação o Auditório (último andar) seria esmagado e tudo o mais ruiria atingindo o andar de baixo onde estão o Museu e a Divisão de Obras Raras. Catástrofe anunciada. Na sequência o prédio todo ruiria atingindo o andar térreo onde estão a Biblioteca, a Hemeroteca e a Sala da Presidência. Desastre total. Desde então o IHGP está em permanente restauração mas, repito, nunca deixou de funcionar mesmo que precariamente. Um de meus primeiros atos foi interditar o Auditório e batalhar recursos para a reconstrução do seu teto e tais obras precisariam estar terminadas antes do início das chuvas de inverno. Graças a Deus e ao gesto generoso de cerca de quinze associados que, atendendo ao meu pedido, fizeram uma contribuição extraordinária (pagáveis em duas prestações embora nem todos tenham completado sua contribuição) e o fato é que o teto e o Auditório estão reconstruídos com o piso novo e estrado novo (este ainda por terminar). Enfim, o IHGP não tem mais risco de ruir, de desaparecer. Entre as medidas então tomadas, uma foi resguardar e acondicionar o melhor possível as centenas de obras iconográficas raras e outros objetos de valor.
2)   Infelizmente não consegui implantar no Auditório o serviço de climatização por absoluta falta de recursos. Sua implantação na época foi orçada em torno de R$ 25.000,00.
3) No Auditório 65 poltronas estavam semidestruídas. Esta obra de recuperação já foi contratada e as poltronas recuperadas estão sendo entregues. Finalmente conseguimos as condições financeiras para esta recuperação.
4)  Como em diversas outras ocasiões no passado a publicação da nossa Revista estava parada dormitando mais uma vez o sono dos pobres de dinheiro e ricos de cultura, já que não tínhamos recursos para esta publicação. Esta situação é tão crônica que há quase um século um dos antigos Presidentes afirmou que se dava por satisfeito por ter conseguido publicar um número desta Revista. Confesso que por um bom tempo resisti à opção de adotar uma publicação digital da mesma mas, finalmente, levando em conta que o próprio Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), muitas vezes mais rico que o IHGP, rendeu-se ao rigor da sua própria crise, não tive mais dúvidas e o Número 44 da Revista do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano em formato digital está sendo dado à luz ainda na vigência do meu mandato. Há ainda bastante material para o próximo número.
5) Ainda a propósito da nossa Revista, esta sai agora com algumas modificações na formatação, inspiradas na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, e além disto a sua capa aparece com nova fisionomia, mais histórica e menos política; mostra a imagem original do brasão nassoviano para a Capitania da Paraíba, deveras imponente e, aparentemente, da autoria de Franz Post. Aliás, para a minha agradável surpresa, o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, ao que parece, acaba de adotar o brasão nassoviano da vizinha terra potiguar. Adicionalmente, na capa da nossa Revista também aparece uma lapidar frase do historiador e filósofo Beda (Século I d.C.), o padroeiro dos historiadores britânicos.
6)    Um elevador para o IHGP sempre foi um dos meus propósitos. Trabalhei arduamente neste sentido e encetei tratativas com a Atlas Schindler do Brasil (João Pessoa e São Paulo) e esta me providenciou inclusive o projeto de instalação para o necessário elevador. Esta parte está pronta todavia para a aquisição e instalação nós precisamos nos enquadrar num projeto com base na Lei Rouanet a fim de enviá-lo àquela Empresa. Caímos na mesma desgraça, os custos para tal projeto são elevados e não temos recursos para tanto. Enfim, esta impossibilidade momentânea também nos impede de transferir a Sala da Presidência para o segundo andar, ao lado do Auditório, local muito mais apropriado para este fim e inclusive longe da localização devassada e sem qualquer privacidade como o local em que se encontra atualmente no andar térreo. Adicionalmente é neste local do segundo andar que se encontra a galeria dos ex-Presidentes apontando que é ali seria a área adequada para a Sala da Presidência, onde já existem os móveis convenientes.
7)    Convênio entre o IHGP e a Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Há algum tempo tive a ideia de vir a estabelecer um abrangente e valioso convênio técnico-científico e cultural (tipo “guarda-chuva”) com a UFPB. Levei esta idéia à Vice-Reitora desta Universidade que, como pessoa de mente aberta a tais iniciativas, logo a acolheu e está mandando providenciar os termos para o estabelecimento desta colaboração recíproca. Ainda não recebi este protocolo até porque a Vice-Reitora, por motivos universitários, está ausente do Brasil e só retornará em Outubro próximo.
8)  Convênio entre o IHGP e a Prefeitura do Município de João Pessoa (PMJP). Antes mesmo de eu assumir a Presidência do IHGP o próprio Prefeito da Capital veio a esta sede a fim de assinar um protocolo de intenções no sentido de firmar um convênio com a dita Prefeitura. Até hoje este propósito continua tramitando nas vias burocráticas em face de sucessivas legislações a seu respeito. Parece que, finalmente, este convênio está agora para ser concretizado.
9)    Um Estatuto novo para o IHGP foi discutido e aprovado ao longo do ano de 2017. Só não foi registrado em cartório porque ainda está faltando a mesma medida com relação ao novo Regimento. Outra razão também impediu o registro deste novo Estatuto. Seu registro em cartório implicaria em criar incongruências entre o novo Estatuto e o velho Regimento (ainda em vigor). Mediante este novo Estatuto, entre muitas alterações, os membros desta Instituição estarão finalmente desagrilhoados de continuar pertencendo à mesma, mesmo sem quererem mais que isto aconteça.  
10)   [A partir daqui só estão discriminados os eventos dos anos de 2016 e 2017 sem contar as reuniões de confraternização de final do ano além de outras] Entre 04/11/2016 e 25/11/2016 foi realizado no IHGP o CICLO DE PALESTRAS ACADÊMICO LUIZ AUGUSTO DA FRANCA CRISPIM: A ARTE POÉTICA DE AUTORES PARAIBANOS POR ELES PRÓPRIOS (envolvendo os poetas Políbio Alves dos Santos, Sérgio de Castro Pinto, Hildeberto Barbosa Filho e Otávio Augusto Sitônio Pinto).
11) Solenidade de outorga do TÍTULO DE SÓCIO HONORÁRIO DO IHGP AO DR. DAISAKU IKEDA (Fundador de duas universidades, uma no Japão e outra nos Estados Unidos), ILUSTRE FILÓSOFO, POETA LAUREADO NO JAPÃO, ESCRITOR, EDUCADOR E PACIFISTA DE RENOME INTERNACIONAL, BENEMÉRITA INSTITUTIÇÃO COM MARCANTE ATUAÇÃO JUNTO À ORGANIZAÇÃO DA NAÇÕES UNIDAS – ONU.
12) SESSÃO COMEMORATIVA DO BICENTENÁRIO DA REVOLUÇÃO DE 1817.
13) PALESTRA (06/11/2017 SOBRE O BICENTENÁRIO DA REVOLUÇÃO DE 1817 NA PARAÍBA, PROFERIDA PELA PROF.ª DR.ª ELIETE DE QUEIROZ GURJÃO, PROFESSORA TITULAR DA UFPB E DA UFCG.
14) SOLENIDADE DE SESSÃO MAGNA DO IHGP (01/12/2017) EM QUE FOI CONFERIDO O TÍTULO DE SÓCIA HONORÁRIA À EXMª. SRª PROF.ª DR.ª SONIA APARECIDA DE SIQUEIRA, PROFESSORA EMÉRITA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP).           

Isto posto, a este respeito só posso dizer que fiz o que pude; que façam melhor os mais poderosos. De todo modo, eu não poderia terminar este documento sem neste momento pedir a compreensão dos associados do IHGP para este meu gesto. Eu não fugi da disputa, apenas preferi manter a tradição desta Casa. Também não posso concluir sem antes fazer de público um agradecimento muito especial aos funcionários do IHGP, os quais, mais que subordinados foram parceiros amigos e dedicados que mostraram o seu zelo por esta Instituição. Sem a eficaz ajuda deles o IHGP já estaria fechado há bastante tempo. Registro aqui os nomes deles que devem ser por todos reverenciados:

1)    Maria do Socorro Lacerda
2)    Leonilda Góis Diniz
3)    Erivan Garcia Dantas
4)    Adonai Lacerda da Silveira.

A todos estes e aos demais membros do IHGP desejo o melhor sucesso.

João Pessoa, 26 de Agosto de 2019.

Guilherme Gomes da Silveira d’Avila Lins
Professor Emérito da Universidade Federal da Paraíba (desde 2003)

________________________


A CARTA DE RENÚNCIA DO
DR. JOAQUIM OSTERNE CARNEIRO
                                               

É o seguinte o texto completo da carta-renúncia do vice-presidente do IHGP, historiador e engenheiro-agrônomo Joaquim Osterne Carneiro:

"João Pessoa, 26 de agosto de 2019.

Senhores sócios do IHGP (Instituto Histórico e Geográfico Paraibano):
Por meio desta missiva, informo que estou me exonerando em caráter irrevogável do cargo de Vice-Presidente do IHGP (Instituto Histórico e Geográfico Paraibano).

Nesta oportunidade, agradeço às atenções recebidas dos sócios e dos servidores da centenária Casa da Memória paraibana.

Atenciosamente,

Joaquim Osterne Carneiro."

________________________