Wednesday, March 30, 2005

AINDA OS CEM ANOS DA TEORIA DA RELATIVIDADE

Mais dois cientistas brasileiros também participaram
da Conferência de Tenerife citada no artigo logo abaixo

No artigo/reportagem/entrevista abaixo, faltou dizer, a bem da verdade, que, além do físico Carlos Romero Filho (um dos conferencistas), participaram da Conferência de Tenerife mais dois brasileiros:

1) a professora Circe da Silva, da Universidade Federal do Espírito Santo, que falou sobre "a Teoria da Relatividade no Brasil"; e

2) o especialista Alfredo Tiomno Tolmasquim, do Museu de Astronomia do Rio de Janeiro, abordando o tema "Repercussões da visita de Einstein aos países da América do Sul".

Logo que possível, divulgaremos aqui e noutros saites (inclusive em nossa coluna do Portal do Jornal O NORTE ON LINE, no URL www.jornalonorte.com.br/colunas) a excelente entrevista completa com o físico ítalo-brasileiro internacionalmente conhecido Mario Novello. Pelo alto grau de clareza em sua exposição de idéias, assim como pelas revelações que faz e pelo didatismo histórico-científico de suas respostas, posso lhes assegurar com total segurança: Vocês não perdem por esperar!

Tuesday, March 29, 2005

CEM ANOS DA TEORIA DA RELATIVIDADE


Cientistas buscam terceira revolução na Física
[Entrevista especial com o físico Carlos Romero Filho]

Evandro da Nóbrega
escritor, jornalista, editor
[evandro.da.nobrega@gmail.com]

[druzz@openline.com.br]


Para além do dever de ofício, do amor à Cultura e da admiração pela Ciência, tivemos o raro prazer de jantar recentemente com dois grandes físicos brasileiros — e a ainda mais rara oportunidade de entrevistá-los, para saber a quantas anda a Cosmologia no Brasil e no Mundo. Na verdade, são eles dois grandes físicos de renome internacional: os Drs. 1) Mario Novello, de origem italiana e sediado no Sudeste brasileiro, além de professor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas do Rio de Janeiro e autor de várias obras na área de Física; e 2) Carlos Romero Filho, integrante do Grupo de Gravitação e Cosmologia do Departamento de Física da UFPB.
Novello esteve em João Pessoa, PB, a 18 de fevereiro de 2005, para lançar seu mais novo livro sobre a origem do Universo (“Os jogos da Natureza”, editora Campus/Elsevier) e pronunciar conferência especial na UFPB sobre Cosmologia, buracos-negros, evolução das estrelas e, também, sobre o tema do livro, as origens do Cosmo. Da conferência, realizada no Centro de Ciências Exatas e da Natureza, patenteia-se que o notável cientista não se inscreve entre os partidários da teoria do “big bang” — a alegada grande explosão que teria dado início ao Universo tal qual o conhecemos hoje. Ao contrário, sustenta tese frontalmente contrária: a de que o Universo seria eterno.

“OS JOGOS DA NATUREZA”
Como explicam os editores do livro, nesta nova obra Mario Novello usa seu conhecimento de pioneiro em estudos cosmológicos no Brasil para abordar os mais diversos fenômenos e mistérios que sempre envolveram o Universo e que também sempre fascinaram a Humanidade. Para isto, lança mão de jogos de tabuleiro e outras brincadeiras de criança “como metáforas para facilitar a compreensão do leitor”. Desta forma é que, “a partir dos sonhos e dúvidas da personagem central (Maria Luísa, menina curiosa e inteligente), vamos acompanhando o autor em seu desvelo em esclarecer os temas. As conversas da menina com o pai cientista são mais ou menos as que nós mesmos nos fazemos, vez por outra na vida. Enfim, uma maneira simples e divertida de saciar a curiosidade dos leitores de todas as idades”.
Como divulgou um texto da Assessoria de Comunicação Social da UFPB, Novello, em “Os jogos da Natureza”, discorre “com perspicácia sobre a evolução do Universo, usando as regras do jogo do xadrez GO (que é jogado no mesmo tabuleiro do xadrez convencional, mas cujas peças têm outro valor e se encontram fora do tabuleiro no início da partida). Com argumentação perfeita, procura despertar no leitor o interesse pela ciência. O livro discorre sobre o princípio antrópico, espaço-tempo, teoria da incerteza e muitos outros pontos da Física moderna, oferecendo ainda ao leitor um glossário com explicações para termos como bárions, grávitons, léptons, vácuo etc”.

NOVELLO & ROMERO NA COMISSÃO
Em 2004, na Universidade de Lyon, França, Novello recebeu o título de Doutor Honoris Causa, justamente por causa de seus estudos sobre a origem do universo. Ele — que já publicou mais de 100 apreciados artigos em revistas especializadas nacionais e internacionais — integra a Comissão Organizadora do Congresso sobre Cosmologia e Gravitação, a realizar-se em junho próximo, na Rússia. O outro integrante brasileiro dessa comissão internacional é o Dr. Carlos Romero, do Departamento de Física do CCEN/ UFPB, Campus de João Pessoa.
Para ser ter uma idéia da importância dessa XII Conferência Russa sobre Gravitação — ou, au grand complet, Conferência Internacional sobre Gravitação, Cosmologia e Astrofísica), dedicada ao centésimo aniversário da teoria da Relatividade Especial e ao nonagésimo aniversário da teoria da Relatividade Geral (dentro do Ano Mundial da Física —, basta citar alguns dos tópicos a serem nela discutidos: a) Relatividade Geral Clássica, b) Astrofísica Relativística, c) Cosmologia Teórica, d) Cosmologia Observacional, e) Buracos-Negros, f) Gravidade Quântica, g) Modelos Multidimensionais [do Universo] e Constantes Fundamentais e h) Experimentos Gravitacionais.

ROMERO NAS CANÁRIAS & PORTUGAL
Nem é preciso referir que resultou ótima a entrevista realizada com Novello. Ótima, evidentemente, pelo que ele revelou, em material a ser brevemente aqui divulgado. Por enquanto, fiquemos com outras observações altamente pertinentes, feitas pelo outro físico, amigo pessoal de Mario Novello, o professor Carlos Romero Filho.
Romero acaba de regressar da Europa, onde participou de dois novos eventos internacionais em sua área e em torno do centenário do surgimento da Teoria da Relatividade de Einstein: 1) um seminário internacional em Tenerife; e 2) e outra série de conferências na cidade do Porto, Portugal, com o professor Carlos Romero Filho pronunciando conferência sobre “Gödel Universe as viewed from Higher Dimensions”.
O “Gödel” do título de sua conferência alude a Kurt Gödel (1906-1978), matemático americano de origem austríaca, teórico da Lógica e criador da “prova de Gödel”, cujas descobertas científicas tiveram implicações nos modelos de Universo propostos pelos cosmólogos. Romero foi o único conferencista brasileiro do encontro.

EINSTEIN EM TODA A EUROPA
Tenerife, a maior das Ilhas Canárias, fica no oceano Atlântico, diante da costa noroeste da África, e sedia a província espanhola de Santa Cruz de Tenerife, integrante da comunidade autônoma das Canárias.
Antes que nos debrucemos sobre o que acaba de ocorrer em Tenerife, é preciso ouvir o físico Carlos Romero Filho assinalar que “está havendo, na Europa [e Tenerife é território de um país europeu, a Espanha], uma onda de comemorações pela passagem dos cem anos do aparecimento da Teoria da Relatividade. Uma série de eventos está sendo programada nas Universidades, centros de pesquisa, e mesmo em escolas secundárias, para rediscutir a teoria da relatividade, seu impacto na Ciência moderna, suas conseqüências e perspectivas para um futuro próximo ou remoto”.

EINSTEIN TAMBÉM EM TENERIFE
Na conferência internacional de que participou, a convite, em Tenerife, o físico Carlos Romero Filho destaca que “Einstein e a teoria da relatividade foram discutidos quase à exaustão. Meu trabalho, juntamente com o de outros, no entanto, focaliza novos desenvolvimentos da teoria da gravitação e cosmologia, a partir do trabalho de Einstein, mas incorporando a este idéias novas que surgiram no final do século XX. Em particular, em minha palestra, apresentei resultados recentes que procuram fundamentar matematicamente a idéia de que o nosso Universo pode ter mais dimensões do que as quatro que usualmente percebemos — isto é três dimensões espaciais e uma dimensão temporal”.
— Não restam dúvidas de que a física teórica hoje caminha na direção dessa busca de dimensões extras — prossegue o Dr. Carlos Romero Filho — E a razão disto é que aparentemente só é possível se chegar a uma superteoria que unifique todas as interações da Natureza, e ao mesmo tempo inseri-la no contexto de uma teoria quântica, se admitirmos a existência dessas dimensões extras. Era este o grande sonho de Einstein [a unificação de todas as interações da Física] e tema a que dedicou os últimos 30 anos de sua vida.
Ainda segundo Romero, “hoje busca-se concretizar esse sonho, por trilhas algo diferentes. Nosso trabalho, fruto das pesquisas aqui, na Paraíba, com o Grupo de Gravitação e Cosmologia, do Departamento de Física, na UFPB, desenvolve o que se poderia chamar uma fundamentação matemática necessária para dar suporte a algumas dessas teorias contemporâneas: as teorias multidimensionais do espaço-tempo”.

TERCEIRA REVOLUÇÃO NA FÍSICA
Antes de voltar ao Brasil, o físico Carlos Romero Filho esteve na cidade do Porto, em Portugal, onde ministrou aquela citada palestra a convite do Departamento de Física da Universidade do Porto. “Abordei mais uma vez o tema da existência de dimensões extras e dissertei também sobre o papel que a teoria da relatividade tem desempenhado no pensamento científico moderno. Concluí dizendo que, mais do que nunca, é necessário haver uma terceira revolução na Física.
— As duas primeiras revoluções — explica ele — aconteceram no início do século passado e deram origem à teoria da relatividade e à mecânica quântica. A terceira revolução ainda está por vir, estabelecendo um novo 'paradigma', para usar a linguagem do filósofo Thomas Kuhn. Mas, nós físicos, não sabemos como, nem quando, virá essa terceira revolução.

SOBRE AS REVOLUÇÕES CIENTÍFICAS
Esse Kuhn citado por Romero outro não é senão aquele notável físico americano e historiador da Ciência, Thomas Samuel Kuhn (1922-1996), de Harvard, autor da famosa obra “A estrutura das revoluções científicas”, livro de 1962 que exerceu grande influência também na Filosofia e na História do século 20 e que todos tivemos a oportunidade de ler, tardiamente, no Brasil, em volume da editora Perspectiva [1975], após o que até podíamos confrontar suas idéias com as de Karl Popper, também figura influente da Ciência, da Filosofia, da História etc.
Outro importante livro com uma compilação das idéias de Kuhn é “A tensão essencial: Estudos selecionados sobre a tradição e a mudança no âmbito da Ciência”, saído no ano de 1993 pelo Fondo de Cultura Económica, em Madrid.

DIMENSÕES EXTRAS DO UNIVERSO
A propósito das dimensões extras, o físico paraibano Carlos Romero Filho, de renome internacional (tanto que integra a Comissão Organizadora do Congresso Internacional sobre Cosmologia e Gravitação organizado para este ano, na Rússia), já publicara artigo em "A União" em inícios de 2002, sob o título de “As dimensões escondidas do Universo”. Nele, o cientista explicava, inclusive para os leigos, que “até o aparecimento da teoria da relatividade, parecia fora de cogitação que o Universo em que vivemos tivesse mais de três dimensões. É plausível que essa concepção de tridimensionalidade tenha origem no simples fato de que os objetos físicos que encontramos no nosso cotidiano possuem, de acordo com nossa experiência sensorial, comprimento, largura e altura”.
— Além disso, em nosso primeiro contato com a geometria plana ou espacial, na escola, temos a tendência natural de atribuir aos teoremas o status de fatos geométricos, como se eles tivessem uma existência real, transcendendo a natureza puramente abstrata e axiomática da Matemática. Aliás, a esse respeito não nos esqueçamos de que o famoso teorema de Pitágoras, o mais importante da geometria euclidiana, foi ‘descoberto’ empiricamente pelos agricultores egípcios, e só posteriormente depurado do seu conteúdo empírico pelos geômetras gregos.

GEOMETRIA EUCLIDIANA & HERESIA
— A identificação da geometria euclidiana como sendo a própria geometria do mundo — prosseguia Romero — se constituiu historicamente num dos maiores entraves ao desenvolvimento da geometria moderna. Imaginar a existência de um outro tipo de geometria seria não só uma atitude fútil como herética. Assim, foi necessário esperar pela genialidade e coragem de Nikolai Lobachevsky (1793-1856) e János Bolyai (1802-1860) para que a geometria finalmente se libertasse do jugo euclidiano. Também a arraigada crença de que a geometria do mundo teria de ser necessariamente euclidiana, esta seria brilhantemente contestada pela perspicácia não de um físico, como seria de se esperar, mas de um matemático, Bernhard Riemann (1826-1866), sucessor de Carl Gauss (1777-1855) na Universidade de Göttingen.
Os quatro cientistas a que se refere Romero são:
a) o matemático russo Nikolay Ivanovich Lobachevsky, fundador da geometria não-euclidiana (por ele desenvolvida cerca de três anos antes e independentemente dos trabalhos de János Bolyai e Karl Gauss);
b) o matemático húngaro János Bolyai, um dos fundadores da geometria não-euclidiana (distingue-se uma da outra especialmente por suas definições em torno das linhas paralelas);
c) o matemático alemão Georg Friedrich Bernhard Riemann cuja visão moderna do estudo da geometria assegurou os fundamentos da teoria da relatividade de Einstein e que também fez grandes contribuições à teoria do número, à análise complexa e à teoria das funções; e
d) o matemático alemão Carl Friedrich Gauss, que deu grandes contribuições à teoria do número, à geometria, à teoria da probabilidade, à astronomia planetária, à geodésica, à teoria das funções, eletromagnetismo e outros campos da Matemática, da Física e da Ciência em geral.

MAIOR REALIZAÇÃO INTELECTUAL
Carlos Romero Filho ainda com a palavra: “O movimento dialético que opôs a geometria euclidiana às chamadas geometrias não-euclidianas teve, na Física, um paralelo bastante expressivo. De fato, a teoria da relatividade especial, proposta por Albert Einstein (1879-1955), em 1905, e aprimorada por Hermann Minkowski (1864-1909), pouco depois, começa diferindo da física newtoniana em termos de geometria e dimensionalidade do mundo. Na visão relativista, o velho espaço de três dimensões tem de ser substituído por um novo espaço-tempo, de quatro dimensões. Além disso, a geometria desse espaço-tempo não é euclidiana, e sim minkowskiana”.
— O tempo passava assim a ser concebido como uma quarta dimensão — são ainda palavras de Romero —, o que foi absolutamente fundamental e necessário para a construção da teoria da relatividade geral e a subseqüente revolução científica promovida por ela. Na relatividade geral, considerada por muitos como a maior realização intelectual humana, a geometria deixava de ser minkowskiana para ser riemanniana. E a gravitação entre os corpos deixava de ser vista como uma força física para ser considerada uma propriedade geométrica do espaço-tempo.
Hermann Minkowski, aqui citado por Romero, foi o matemático alemão que desenvolveu a teoria geométrica dos números e que fez várias outras contribuições de vulto à teoria dos números, à física matemática, à teoria da relatividade etc, possibilitando a predominância de um modelo em quatro dimensões: as três dimensões do espaço físico e uma quarta, a do tempo.

TEORIA UNIFICADA DAS INTERAÇÕES
Continuando no relato, Romero acrescenta que, “apesar da grande beleza de suas equações, que descreviam parte da física (a gravitação) como sendo pura geometria, a teoria da relatividade, concluída em 1916, não satisfazia plenamente ao senso estético de seu criador. Na realidade, Einstein ainda sonhava geometrizar o eletromagnetismo, obtendo, assim, uma teoria unificada das interações da física. Foi então que, no início da década de 1920, dois físicos teóricos, Theodor Kaluza (1885-1954) e Oscar Klein (1894-1977) formularam uma hipótese estranha, mas que conduzia a resultados interessantes”.
— A teoria de Kaluza-Klein, como ficou conhecida posteriormente, demonstrou que se o espaço-tempo postulado por Einstein e Minkowski for acrescido de uma quinta dimensão, então, usando-se as próprias equações da teoria da relatividade, mostra-se que os fenômenos eletromagnéticos podem ser interpretados como tendo origem geométrica. Em outras palavras, o campo eletromagnético, à semelhança do campo gravitacional, também é geometrizável. Durante toda a vida, a reação de Einstein à teoria de Kaluza-Klein oscilou entre a aceitação entusiástica e o ceticismo total. O grande problema, para ele e para muitos, era aceitar a existência de uma dimensão que não se via, que não se detectava experimentalmente. A quinta dimensão era uma dimensão "escondida", por assim dizer.

DEZ OU ONZE DIMENSÕES?!
Acompanhemos, porém, as palavras do dr. Carlos Romero Filho: “A teoria de Kaluza-Klein original não considerava, por se desconhecerem na época em que foi formulada, as chamadas interações nucleares. No entanto, o modelo matemático em que se baseava a teoria serviu de inspiração para novas tentativas de unificação entre as forças da natureza. Foi assim que, nos anos 1970 e 1980 do século XX, surgiram a ‘teoria de supercordas’ e a ‘teoria de supergravidade’. Ambas buscavam um esquema de unificação à la Kaluza-Klein, mas com um postulado ainda mais exótico: nosso Universo teria dez ou onze dimensões!”
— A verdade é que não se pode dizer, neste início do século XXI, se a teoria de supercordas ou de supergravidade são viáveis ou não, como teorias da física. Ambas lidam com um aparato matemático extremamente complicado, o que faz com que muitos físicos as considerem com certa desconfiança. Afinal, as leis da Natureza, como acreditava o físico inglês Paul Dirac (1902-1984), deveriam ser descritas por uma matemática simples e elegante... Além disso, dez ou onze são muito mais dimensões para digerir do que as cinco da teoria de Kaluza-Klein. Qualquer tentativa de explicar por que existem tantas dimensões escondidas, não observáveis diretamente, sempre pode parecer um tanto artificial, ou, pelo menos, ad hoc, do ponto de vista epistemológico.

DIMENSÕES ESCONDIDAS DO UNIVERSO
Para tentar explicar o fato de que até agora não se observou nenhuma dimensão além das quatro do espaço-tempo, tem-se postulado que as dimensões extras, isto é, as dimensões escondidas do Universo, são minúsculas e se curvam sobre si mesmas. Na terminologia matemática, diz-se que essas dimensões são compactas. Recentemente, uma nova versão não-compacta da teoria de Kaluza-Klein foi sugerida pelo físico inglês Paul Wesson, da Universidade de Waterloo, no Canadá. Nos modelos cosmológicos propostos por Wesson, o Universo em que vivemos tem cinco dimensões, sendo que a quinta dimensão, não-compacta, é a responsável pela existência da matéria. Em outras palavras, o que chamamos de matéria seria, em última instância, meramente geometria, a qual se manifesta como substância quando observada por seres que vivem numa hipersuperficie de quatro dimensões. Teorias que postulam a existência de tais hipersuperfícies são conhecidas pelos matemáticos pelo nome de ‘teorias de imersão’. O nome é sugestivo, pois a idéia implícita é a de que o universo que observamos fisicamente estaria imerso num Universo maior, de cinco dimensões.
— Outra teoria de imersão que surgiu no apagar das luzes do século XX deve-se aos físicos Lisa Randall, da Universidade de Princeton, e Raman Sundrum, da Universidade de Boston. Conhecida simplesmente como o modelo de Randall-Sundrum, essa teoria também considera que vivemos sobre uma hipersuperfície de um espaço-tempo maior, de cinco dimensões. O interessante é notar que tanto Wesson como Randall-Sundrum se utilizam de todo o formalismo matemático desenvolvido por Einstein, em sua teoria da relatividade geral, mudando apenas a dimensionalidade, que passa a contemplar cinco dimensões.

ALGO MAIS SOBRE PAUL WESSON
Dentre os acima citados por Romero, destacam-se Paul Wesson, astrônomo, astrofísico e cosmólogo da Universidade de Waterloo, em Ontário, Canadá, que, nos últimos anos, entre outras atividades, tem-se dedicado a conferências sobre as fronteiras da Astrofísica e a rebater, com cautela, teorias consideradas mais extravagantes. Alguns de seus livros mais conhecidos são “The Interstellar Undertakers” [= Coveiros interestelares]; e, com Robert Mann, “Gravitation: A Banff Summer Institute” [Banff Center, Banff, Canadá, 1990], além de (em parceria com James Overduin) “Dark sky, dark matter” [Institute of Physics Press, Bristol, Inglaterra, 2003].
Wesson é também reconhecida autoridade nas relações entre os mundos subatômico e cósmico, sempre preocupado com as implicações astrofísicas e cosmológicas de qualquer nova descoberta, hipótese ou teoria, embora mais voltado para os problemas da constante cosmológica (o artifício introduzido por Einstein nas equações da relatividade geral para “favorecer” o espaço livre com energia extra capaz de assegurar o efeito gravitacional; Einstein chegou a abandonar a constante cosmológica, considerando-a seu maior erro; mas não faltam hoje especialistas desejosos de a ela retornar, vez que soluciona algumas das questões mais complicadas da cosmologia (massa perdida, vácuo pleno de energia, idade do Universo etc).

GARANTINDO A CONSISTÊNCIA TEÓRICA
Mas voltemos às palavras de Romero, que assegura: “Desde o momento em que a física ‘virou’ geometria, os físicos passaram a ter que pagar um tributo aos geômetras. Por exemplo, não é permitido ao físico construir uma teoria baseada num modelo geométrico sem antes saber se esse modelo é consistente com os teoremas fundamentais da geometria. Vejamos então o que sucede com as chamadas teorias de imersão”.
— Quando Paul Wesson publicou sua teoria, que pretendia geometrizar a matéria, o mecanismo matemático pelo qual se fazia a imersão em cinco dimensões era apenas uma conjectura. Não estava garantido por um teorema conhecido. Para felicidade de Wesson, todavia, descobriu-se que o teorema necessário para garantir a consistência de suas idéias já havia sido demonstrado por um obscuro matemático inglês, Campbell, em 1926, e publicado postumamente num pequeno livro de geometria diferencial.

ESTIMULANDO A PESQUISA MATEMÁTICA
Diz ainda Carlos Romero Filho: “O teorema que garante a consistência matemática da teoria de Wesson não se aplica ao modelo de Randall-Sundrum. Eis aí uma situação em que a física estimula a pesquisa matemática. Para prosseguir com teorias de imersão mais gerais que a de Wesson, para explorar novas possibilidades teóricas, o teorema de Campbell não seria mais suficiente. Seria preciso generalizá-lo. E a busca de níveis crescentes de generalização de teoremas e teorias parece ser historicamente o movimento mais natural da pesquisa matemática”.
— A generalização do teorema de Campbell foi demonstrada este ano por Fábio Dahia, um ex-aluno do curso de Doutorado em Física da Universidade Federal da Paraíba. Na verdade, Dahia conseguiu demonstrar não apenas um, mais três tipos diferentes de generalização do teorema, um dos quais se aplica ao modelo de Randall-Sundrum.

UNIVERSO NUMA CASCA DE NOZ
Romero chega a um ponto crucial: “Por outro lado, a resposta à questão se existem ou não dimensões escondidas no Universo parece ainda bastante elusiva. Alguns físicos contemporâneos entrevêem nas dimensões extras a solução de vários problemas ainda insolúveis da física moderna, entre eles a quantização do campo gravitacional”.
— Stephen Hawking, eminente cosmólogo inglês, é um desses — lembra o físico paraibano — Em recente entrevista sobre seu livro ‘O Universo numa casca de noz’, Hawking declara abertamente sua crença num universo de várias dimensões extras. Porém, caso cheguemos à conclusão de que dimensões extras realmente existem, uma série de outras questões inevitavelmente se seguirá. Por exemplo, o que acontece com essas dimensões à medida que o Universo se expande? Podem as dimensões extras serem da mesma natureza que o tempo, implicando com isso na existência de diferentes tempos cósmicos?

O “ANO EINSTEIN” NO BRASIL
O Brasil não esqueceu de todo o “Ano Einstein”. Como o físico Carlos Romero Filho, recomendamos o acesso a vários artigos que vêm saindo na Internet “brasileira”, especialmente na revista eletrônica de divulgação científica “Comciência", no URL www.comciencia.br.
Romero até contribuiu com declarações para um dos mais interessantes artigos dessa publicação. Para acessá-lo, basta clicar na foto de Einstein que aparecer quando o leitor chegar ao saite e então procurar o texto "Viagem no tempo: Teoricamente possível, tecnicamente inviável" [www.comciencia.br/reportagens/2005/03/04.shtml]. Aí há também um artigo do mais que conhecido físico Mario Novello sobre "A nova causalidade". No artigo sobre a viagem no tempo, lemos que “a dilatação do tempo, na teoria da relatividade restrita, é um efeito puramente cinemático. O atraso nos relógios dos observadores deve-se única e exclusivamente ao seu estado de movimento”, enfatiza o físico Carlos Romero Filho, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
— Mas, antes de entender como ocorre o efeito de dilatação do tempo, é importante entender o conceito de espaço-tempo, fundamental para a teoria da relatividade geral. A junção de espaço e tempo em um único conceito foi proposta por um ex-professor de Einstein, o matemático Herman Minkowski, em 1908. Por meio desse novo modelo, os objetos e eventos tinham que ser pensados de forma quadridimensional (4D) descritos através de três coordenadas de espaço (comprimento, largura e altura) e o tempo.
[...] Segundo Romero, a dilatação do tempo acontece pelo simples fato de que no espaço-tempo de Minkowski, partículas não aceleradas seguem curvas geodésicas que, ao contrário do que se passa no espaço euclidiano, podem ser definidas como curvas que maximizam a distância entre dois pontos. “Quero dizer aqui que o campo gravitacional não entra em jogo, e que o atraso nos relógios dos observadores deve-se única e exclusivamente ao seu estado de movimento acelerado”, esclarece Romero.
POESIA & HISTÓRIA DA FÍSICA
— Na verdade, foi Minkowski e não Einstein quem expôs a idéia de que o espaço e o tempo dependem crucialmente do observador e são, portanto, relativos. “A distância espacial entre dois eventos não é a mesma para dois observadores em estado de movimento diferente. O tempo também não flui igualmente para esses observadores” — exemplifica o físico paraibano. Foi com base nesse conceito de espaço-tempo que Einstein formulou sua proposta de geometrizar a gravitação na teoria da relatividade geral. Para ele a geometria do universo é curva e não plana. “Olhando em retrospectiva, vemos que seria impossível realizar essa tarefa mantendo espaço e tempo como grandezas independentes e separadas”, analisa Romero.
Por esta e por outras, este saite é imperdível — tem até um belo artigo de Carlos Vogt sobre a Poesia na História da Física moderna!...

INAUGURAÇÃO DA TV-UFPB

Na inesquecível noite desse dia 17 de fevereiro de 2005, todos os que se achavam no grande coquetel realizado na Sonho Doce Recepções queriam posar para uma foto ao lado do Reitor Rômulo Soares Polari, da vice-Reitora Iara Matos, do vice-Prefeito Manuel Júnior (representante do Prefeito Ricardo Coutinho), do multimídia José David Campos Fernandes, do multiinformático Mário Assad — enfim, ao lado dos principais envolvidos na histórica inauguração da TV-UFPB, que desde o dia 18 passou oficialmente a ser sintonizada no canal 22 da BigTV, através do sinal da Rede Futura, da TV Globo. A TV-UFPB vinha funcionando experimentalmente neste mesmo endereço televisivo.

Quem sabe não seja este o maior acontecimento de 2005 na vida universitária paraibana. Ou talvez devêssemos dizer igualmente nas áreas cultural, comunicacional, científica... Primeiramente, trata-se da concretização de sonho longamente acalentado por várias gerações de dirigentes, professores, cientistas, pesquisadores, funcionários, jornalistas, fotógrafos e outros especialistas da Universidade Federal da Paraíba. O último ato do antecessor de Polari, Reitor Jáder Nunes de Oliveira, foi mui significativamente inaugurar moderno Pólo Multimídia, com equipamentos (câmaras, ilhas de edição, som etc) dignos de uma emissora televisiva de Primeiro Mundo.

Entusiasmado com as possibilidades do Pólo Multimídia, o atual Reitor Rômulo Polari prosseguiu dando todo apoio a David Fernandes, Mário Assad e demais membros da equipe. Uma série de providências, demandando tempo e árduo trabalho, resultou na parceria que ora se inicia entre a UFPB, o Canal Futura, da Fundação Roberto Marinho; bancos como o Banespa; iniciativa privada; entidades comunitárias; e, “last, not least”, a Assessoria de Comunicação Social da UFPB e o Departamento de Comunicação do CCHLA, cujos alunos e professores terão mais um espaço para treinamento e estágios.

Em inícios da noite da quinta-feira, na Sonho Doce Recepções — ao cessarem os acordes do Brazilian Trombone Ensemble, do genial Radegundes Feitosa e sua trupe de excepcionais músicos, e antes de se iniciarem os comes-e-bebes do coquetel propriamente dito —, o gerente geral da BigTV na Paraíba, João Vieira, foi à tribuna para cumprimentar a UFPB. Dispõe ela, agora, do primeiro e pelo menos até agora único canal universitário do Brasil na Rede Futura. Para Vieira, a decorrente e frutífera troca de conhecimentos tecnológicos não beneficiará apenas o Sul/Sudeste, mas igualmente a Paraíba e o Norte/Nordeste. Por seu turno, a Rede Futura é o único canal educativo do Mundo sustentado pela iniciativa privada.

Jaime Campos, gerente geral do Banespa em João Pessoa, também parabenizou o Estado por contar agora com um empreendimento deste vulto, com o apoio do Banespa e outros bancos, além da colaboração da iniciativa privada.

David Fernandes lembrou que “o impossível a gente faz; já o milagre demora um pouquinho, mas acaba saindo”, para referir-se à árdua e progressiva superação das dificuldades encontradas na concretização da TV-UFPB, em especial por se tratar de empreendimento baseado em princípios éticos. Explicou que o Pólo Multimídia — ora envolvendo o trabalho de mais de 200 pessoas, inclusive alunos do Departamento de Comunicação — ajudará a UFPB a enxergar melhor a sociedade e vice-versa.

A gerente geral do Canal Futura, Lúcia Araújo, considera o trabalho da TV-UFPB uma autêntica mobilização comunitária. Além do mais, trata-se de um canal do Conhecimento — um pólo que produz o Saber, mostrando o que de melhor se realiza não só na comunidade universitária, mas também na comunidade paraibana em geral.

Segundo a Dra. Lúcia, cabe à TV-UFPB e ao Canal Futura, “esta vitrine de baixo custo”, o privilégio de levar a todo o País o Conhecimento produzido na Universidade; a Cultura local; as realizações da Extensão Comunitária; os materiais didáticos (que não são um fim em si mesmos, mas uma maneira de levar esse Conhecimento às populações brasileiras); os resultados das pesquisas científicas (como acaba de ocorrer no Globo Ciência)...

Como o Futura, a TV-UFPB embasa-se em quatro princípios gerais: a ética, o espírito de empreendedorismo, o sentido comunitário das ações e o pluralismo. Trabalha com o “ordinário, o invisível”, o que normalmente não se vê na tela da TV comum. Dá igual atenção a “todos os sotaques” do País. Não é uma simples rede de televisão, mas uma “rede comunitária”, que a UFPB agora ajudará a fortalecer.

Com seus educadores especializados, o Canal Futura está presente em milhares de escolas em todo o País e une seus esforços aos de 12 mil instituições das mais diversas áreas (hospitais, creches, escolas, presídios, bibliotecas, associações comunitárias, bancos, movimentos sociais, assentamentos, cooperativas populares, artesanatos etc etc etc). Entre as atrações da TV-UFPB (como se deduz de suas criativas vinhetas), teremos debates, fóruns, noticiário, divulgação científica, concertos, além de atrações nos campos da História, Música, Língua Portuguesa, Literatura, Poesia, Terceira Idade, Botânica e Ecologia, Física e Química...

Neste contexto, a TV-UFPB — que também conta com o inteiro apoio de autoridades como Lúcia de Fátima Guerra Ferreira (Prac/UFPB) e José Rômulo Gondim de Oliveira (Cefet-PB) — não “apenas” nos brindará a todos com autênticas aulas eletrônicas, penetrando de rijo nas escolas públicas, com “audiência dirigida”. Da mesma forma mostrará à comunidade o que realiza a UFPB em seus mais diversos setores, nas três áreas do Conhecimento, em seus centros, departamentos, núcleos, laboratórios. Terá um “Fórum Idéias”, uma “Conexão Ciência”, transmitirá o conteúdo do Canal Futura — e até já elaborou um programa especial, o “Cordel da Moça Feia”. Em março, teremos diariamente, sempre às 19 h, de segunda a sexta-feira, o “Jornal da UFPB”, referido com ênfase no próprio discurso do Reitor Polari.

A mais nova TV universitária do País, com sua programação local produzida pelo Pólo Multimídia da UFPB, será enfim um dos trunfos do Reitor Polari em seu confessado esforço de transformar a Universidade Federal da Paraíba numa das mais importantes instituições federais de Ensino Superior do Norte e Nordeste do País. O Reitor tem a mesma visão de David Fernandes e Mário Assad: com o surgimento da TV-UFPB — para além do suporte que prestará à televisão convencional — abrem-se novas e insuspeitadas perspectivas de experimentos inovadores nas áreas da TV de alta definição, pesquisas ópticas e aperfeiçoamento, via Tecnologia da Informação, do próprio conceito do sistema televisivo do País. Será o impossível e o milagre concretizando-se diariamente, a uns 30 quadros-por-segundo...


Druzz (now without beard) Posted by Hello

Druzz (when he was bearded) Posted by Hello