Friday, April 29, 2005

Linda Kerby de Leawood, enfermeira & intelectual

Lembram-se os prezados leitores daqueles antigos programas de estudo do inglês por correspondência, a que todos nos integrávamos como “penpals” (= “amigos por caneta”, “amigos da pena”, “amigos por carta”)?

Também participei deles...

Aí pelos 14, e ainda morando em Patos, já me correspondia com as Estranjas, no doido e vão afã de aprender línguas.

A primeira correspondente internacional foi uma bela menina sueca, com o sugestivo nome germano-escandinavo de Ulrika. Logo na primeira carta, num inglês supinamente melhor que o meu, ela enviou uma foto sua. De tão loura, sobrancelhas e cabelos pareciam neve!

Essa antiga mania de cartear-se com pessoas de fora do Brasil cresceu muitíssimo com o surgimento da Internet.

Em pouco tempo, estava eu, por exemplo, em contato por e-mail com pessoas da mais prendadas qualificações: professores universitários da Austrália; editores de jornais americanos; gente de Oxford, Harvard, Yale, MIT; ex-editoras de revistas no Canadá; mestras do maior gabarito na Inglaterra; “nerds” da Finlândia e da Letônia; gramáticos russos; editores de livros dos EUA; lingüistas e tecnólogos da Informação em Israel; estudiosos franceses de História medieval; doutores do Líbano e de outros países árabes; escritores e docentes chineses...

Tudo isto me volta à mente ao ler, em mais um e-mail, o comentário de minha querida amiga americana Linda Kerby (Linda Lea Kerby):

“É impressionante como a Internet nos permite inesperados encontros de natureza global. Você, aí, na Paraíba, Brasil, lendo tudo aquilo, lá em Israel, sobre mim, que estou no Kansas, bem no meio dos EUA, a propósito de Avital, uma japonesa que edita a revista eletrônica ‘Camel’ e é casada com um judeu que emigrou após obter o Doutorado em estudos sobre os manuscritos do Mar Morto na Universidade Harvard”...

De fato, está tudo lá, em www.angelfire.com/art2/oasisguild/news2_4.html#kerby1...

Descendente de ingleses e escoceses, a escritora, paramédica, contista, poetisa, enfermeira e intelectual Linda Kerby vive em Leawood, Kansas. Por causa de seu segundo nome, freqüentemente a chamo de Linda of Leawood. “Leawood”, em inglês, significa mais ou menos “lenha da várzea”, de forma que ficamos empatados por ela se haver impressionado com o nome de minha “segunda cidade natal”, Patos — Ducks, em inglês...

A escritora e enfermeira Linda Kerby antes tinha um gato chamado Andy Rooney (xará de conhecido “filósofo” e frasista americano da Net). Após 22 anos de “vida em comum”, Andy faleceu de pura velhice e, apesar de toda a saudade que ainda hoje persiste no coração de Lea de Leawood, foi substituído por novo gato, Schroeder Grimes — o qual, por vezes, disputa espaço na casa com dois outros felinos, Large Cat e Constant Companion.

Profunda conhecedora da língua inglesa (e também de francês e outras línguas), Linda é por vezes questionada, de parte dos próprios amigos, por escrever usando Big Words, isto é, palavras multissilábicas (como o termo “rebarbative”), quando a maioria das pessoas limita-se a palavras de uma ou duas sílabas, do gênero “to do”, “until” etc. Mas ela está certa, está corretíssima — os outros é que não sabem usar essas longas e belas palavras, e ficam apenas criticando...

Linda Kerby também utiliza palavras de origem grega e/ou latina, o que, em tese, tornaria o texto algo pretensioso, em se tratando do inglês, idioma germânico com sabor greco-latino ou franco-românico.

No caso dela, porém, o vocabulário assim “erudito” não constitui exibição de conhecimentos, mas a manifestação da riqueza da língua por parte de quem a conhece em toda sua expressividade. Mesmo porque Linda sempre leu o que de melhor produziu e produz a literatura anglo-americana. Seus e-mails revelam, junto com seus contos, vivacidade literária a toda prova, num vocabulário rico, colorido, surpreendente. Por falar nos contos de Lea de Leawood, já li, gostei muito e traduzi dois deles. Não se surpreenda o leitor se qualquer dia eu publicar um deles...

Como Linda Kerby arranja tempo para fazer tanta coisa? Além de escritora, é

* enfermeira-chefe de importantes instituições médicas e paramédicas;
* já publicou livros e artigos sobre cuidados intensivos a pacientes com necessidades especiais;
* gerenciou, supervisionou e/ou presidiu empresas;
* coordenou publicações; atuou e atua como instrutora clínica em colégios e universidades;
* trabalha em hospitais, clínicas, hospícios e estabelecimentos do gênero;
* é enfermeira da Cruz Vermelha desde 1973;
* anima ações comunitárias;
* ministra cursos de educação continuada;
* organiza festas beneficentes;
* escreve capítulos de livros e revistas especializadas sobre temas médicos e paramédicos...

Lea de Leawood é ainda autora de um diretório de saites médicos on line, já em segunda edição, e de livros sobre educação de pacientes, visão multidisciplinar do diabetes, o papel da estimulação elétrica na cura de ferimentos, o uso de hormônios do crescimento e de monofilamentos, a ventilação oscilatória de alta freqüência em recém-nascidos, cirurgia de redução de volume do pulmão em pacientes com enfisema terminal e muitos outros temas. Um dos livros que organizou está em quinta edição: o “Mosby’s Guide to Physical Examination”. E ainda lhe sobra tempo para dedicar-se nas poucas horas vagas a um gênero de arte chamado Rubberstamp e a ensinar Reiki...

É sempre uma satisfação renovada abrir a caixa de correio eletrônico e lá encontrar um espirituoso e-mail, um mail vivamente escrito no mais literário estilo da prosa poética anglo-americana, um e-mail de Linda de Leawood — que a estas horas, graças ao milagre da Internet, deve estar lendo este artigo lá no também ensolarado Kansas, Estados Unidos, ao lado de seu gato Schroeder Grimes.

LLANTO EN HOMENAJE A DON AUGUSTO ROA BASTOS

EN LA MUERTE DEL GRANDE
AUTOR PARAGUAYO Y UNIVERSAL
DON AUGUSTO ROA BASTOS

Se murió "Hijo de Hombre"
Don Augusto Roa Bastos.
Pero su fama y renombre
conocía de otros fastos.

De todo el Planeta vasto
era más que paraguayo.
Y es por eso que contrasto
los hechos que acá subrayo.

De la Literatura ayo
en el hogar de su tío
tras leer todos los libros
— ningún hallaba vacío.

Escapó al desvarío
de aquella Guerra del Chaco.
Enfrentó los dictadores
y sus gobiernos opacos.

Estudió hasta el maniaco
llamado "Yo, el supremo";
el nombre le dió a la obra,
aquél Gaspar tan extremo.

Y Don Augusto, supremo,
con renovador lirismo,
con su talento y ingenio,
del exilio iba al abismo.

Conoció el ostracismo,
cinquenta años exilado
— el dolor, la soledad,
la invidia de los grados.

Después de haber ganado
el grande Premio Cervantes,
aún luchó por justicia
— no apartaba Rocinante.

Sin embargo fué adelante,
gloria de las Letras hispanas
en la escena paraguaya
y latinoamericana.

En tierras nuevas o ancianas
tiene obras traducidas.
¿Cómo decir que su pátria
es la única hoy dolorida?

Tan sencillo era en vida
como muerto es humilde:
SIN su nombre en avenidas
— que el testamento lo pide.

Pasarán siempre en la vida
los dictadores nefastos.
Pero no pasa ese ejemplo:
Don Augusto Roa Bastos.

Evandro da Nóbrega [Druzz]
Praia de Manaíra, 26 de abril de 2005