Tuesday, March 07, 2017

AS INDAGAÇÕES ALEATÓRIAS DE HILDEBERTO


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O crítico literário, escritor, acadêmico, professor universitário, poeta e ensaísta Hildeberto Barbosa Filho. [Clique na foto para ampliá-la]
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EM SUAS “INDAGAÇÕES ALEATÓRIAS”, O CRÍTICO LITERÁRIO HILDEBERTO BARBOSA FILHO NOS PERGUNTA “QUE MUNDO É ESSE EM QUE”...

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Evandro da Nóbrega,
escritor, jornalista, editor, sócio efetivo do
Instituto Histórico e Geográfico Paraibano
[druzzevandro@gmail.com]

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Temos a satisfação de reproduzir abaixo o mais recente artigo do professor universitário, escritor, poeta e crítico literário Hildeberto Barbosa Filho.

Este escrito foi publicado na sua coluna do jornal A UNIÃO, em João Pessoa, neste final de semana. Hildeberto está para lançar mais dois livros, mas, por enquanto, vamos nos contentar com a leitura de mais um de seus imperdíveis comentários:

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COLUNA: LETRA LÚDICA
TÍTULO DO ARTIGO: Indagações aleatórias
AUTOR: Hildeberto Barbosa Filho

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No campo literário:
Que mundo é esse em que não posso, posto em sossego, prosear com meu velho amigo Charles Baudelaire? Em que poetas menores, seduzidos pelo canto de sereia dos brinquedos linguísticos, cortam uma palavra aqui, invertem os parênteses ali e alongam os dois pontos no começo do verso, consideram-se, por estes falsos artifícios formais, os descobridores da pólvora poética? 

Que mundo é esse no qual a poesia se transformou numa coisa de plástico biodegradável a que todos têm acesso, quer na fatura, quer na recepção? Que mundo é esse em que Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac não soube ler Augusto dos Anjos, expelindo sobre sua lírica antiestelar toda sua marmórea indiferença de viperino parnasiano?

No setor dos eventos:
Que mundo é esse em que no “Agosto das Letras” se tratam intelectuais e poetas à maneira de João Machado em relação a Augusto, não lhes dando, de forma decente e em tempo hábil, a devida contraprestação pelos serviços ofertados?  Que mundo é esse onde existe um Cariri na memória e, na memória, uma FLIBO, cuja coordenadoria não paga o cachê do palestrante convidado nem lhe restitui a gasolina do transporte particular, pesar de todo acerto que houve antes, seja por telefone ou por e-mail? 

Que mundo é esse onde gestores de seletos condados intelectuais não desenvolvem a capacidade de escuta e simplesmente ignoram seus pares, valendo-se apenas dos suspensórios de sua vaidade pessoal para tomar ridículas, absurdas e patéticas decisões? Onde academias de letras e institutos históricos acolhem togados, políticos e amanuenses, na mais das vezes medíocres em suas respectivas áreas de atuação, e rejeitam cientistas, estudiosos, ensaístas, artistas e escritores de talento?

Na esfera do mercado:
Que mundo é esse onde Roberto Carlos é rei, onde Paulo Coelho é escritor e onde um tal de “Pato” se diz craque de bola? Que mundo é esse onde o cidadão de bem está preso e refém das grades, alarmes e cercas elétricas de seus cárceres privados, enquanto o crime organizado comanda a ordem política, econômica e social? 

Que mundo é esse onde o capital simplesmente devora o trabalho e a mais-valia cresce assustadoramente na mesma proporção em que cresce assustadoramente a ferrugem da miséria? Que mundo é esse onde a alguns só resta venderem seus órgãos para poder sobreviver? Onde multidões de exilados amargam a insegurança das fronteiras e perderam, em definitivo, suas pátrias de origem?

Em âmbito educacional:
Que mundo é esse em que a Universidade não mais encontra o rumo do pensamento crítico e, à medida que o tempo passa, se transforma num colejão de periferia? 

Que mundo é esse em que professor não consegue ministrar uma aula sem as muletas do data-show e em que a pesquisa científica segue as leis do empreendedorismo mercadológico?  Que mundo é esse onde não se sabe mais ler, nem em voz alta nem silenciosamente, e onde o livro – parece - já é coisa do passado?

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