Wednesday, January 18, 2006

HOMENAGEM À POETISA AMERICANA VIRGINIA MANNING, QUE COMPLETARÁ 85 ANOS DE IDADE NESTE 2006


Um poema de
Ginny Manning


Traduzimos e divulgamos, em agosto de 2004, um poema de 1971, em versos brancos, da excelente escritora e poetisa americana Virgínia Manning, que acabava de completar 83 anos de idade (naquele ano de 2004) — sem parar de produzir. No corrente ano de 2006, Virginia Manning fará 85 anos, sempre ativa. Ainda esta semana, me enviou novo e-mail, para saber como iam as coisas.

Nascida Virginia Ray Nichols, ganhou o sobrenome Manning quando se casou, há mais de 64 anos. É mais conhecida pelos amigos como Ginny, embora use ocasionalmente o pseudônimo de Ginman. Tornou-se nossa amiga pela Internet e, entre mensagens e outros escritos, mandou-nos recentemente esta amostra poética, cujo título original é “Unfulfillment”. Não reclamem muito da má tradução: grande teórico já disse que “poesia é o que se perde na tradução”...


INCONCRETIZAÇÕES


por Ginny Manning

(Virginia Ray Manning)


Nunca ter visto aqueles campos da França,

as cicatrizes de sol nas montanhas da Sicília,

ou as planícies marrom-amareladas da Espanha

— tudo isto me deixa por dentro uma dor infinda.


Nunca sentir de perto as brumas da Escócia,

as sempre abrasadoras pirâmides do Egito,

ou as pulsantes selvas ao longo do Amazonas

— tudo isto me traz lágrimas de tristeza.



Nunca haver tocado o rico solo da Irlanda,

a multifária beleza da Malásia e do Tibet,

ou os mui duradouros mistérios do México

— tudo isto me aumenta a solidão interior.



Nunca haver vencido os altaneiros Andes,

nem ter perambulado pelas estepes russas,

ou visitado as sete colinas históricas de Roma

— tudo isto são apenas desejos não cumpridos.



Nunca ter explorado as vastidões antárticas,

nem pradarias crestadas pelo sol da África

ou os belos confins desertos da Austrália

— tudo traz o senso de destino não cumprido.



Nunca ter provado os prazeres do Oriente,

os frutos proibidos das Ilhas Oceânicas,

nem os fartos tesouros das ilhas gregas

— tudo isto é uma vida ainda não consumada.



Nunca haver bebericado vinho em Portugal,

ou tomado o rum cor-de-mel de Barbados,

nem provado os ricos cafés em Madagascar

— tudo isto é privação maior dos sentidos.



Nunca ter ouvido os sons de Londres,

ou a multifária cacofonia das Américas,

nem o tranqüilizante murmúrio dos oceanos

— tudo é um mundo inacabado, por descobrir.


(Tradução de Evandro da Nóbrega)