Sunday, April 21, 2019

HISTÓRIA COLONIAL




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O médico, historiador e presidente do IHGP Guilherme Gomes da Silveira d'Avila Lins, em sua residência da praia do Cabo Branco, em João Pessoa (PB). 
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Um trabalho publicado em 1994, pelo professor Guilherme Gomes da Silveira d'Avila Lins, justamente sobre a obra Diálogos das Grandezas do Brasil, de autoria por ele atribuída, com toda a probabilidade, a Ambrósio Fernandes Brandão, que a teria escrito na Paraíba
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Capa da nova edição dos Diálogos das Grandezas do Brasil, organizada para a editora CEPE pelo Dr. Caesar Sobreira - e a ser lançada no Recife (PE), nesta terça-feira, 23 de abril de 2019 - SEM o Prólogo especialmente escrito para este volume, a convite, pelo Dr. Guilherme Gomes da Silveira d'Avila Lins - en passant, também DECANETO de um dos heróis da fundação da Paraíba, Duarte Gomes da Silveira
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UM EX-FUTURO PRÓLOGO

O historiador Guilherme Gomes da Silveira d'Avila Lins, um dos maiores especialistas mundiais em História Colonial, redige (a convite) o Prólogo de nova edição dos Diálogos das Grandezas do Brasil - e, aqui, reage com altivez, à decisão do editor do volume de NÃO publicar seu mais que esclarecedor, oportuno e erudito texto. 

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por Evandro da Nóbrega,
escritor, jornalista, editor, sócio efetivo do IHGP
(Instituto Histórico e Geográfico Paraibano)
[druzzevandro@gmail.com]
p
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O historiador Guilherme Gomes da Silveira d'Avila Lins escreveu este PRÓLOGO (frise-se que a convite) para uma nova edição dos Diálogos da Grandeza do Brasil - mas, infelizmente, seu texto não vai ser publicado no volume que ora se lança em Pernambuco. 

Ocorre que o Prólogo solicitado viu-se também recusado, com toda probabilidade porque o Dr. Guilherme discordou APENAS DE UM DOS ITENS ESPOSADOS PELO EDITOR DA OBRA. 

Lendo a nota do Autor, Dr. Guilherme, apensa logo à primeira página desta postagem, o leitor facilmente entenderá o que ocorreu. 

Mas fique logo advertido do que diz, inicialmente, na nota explicativa, o historiador Guilherme Gomes da Silveira d'Avila Lins: 

"Este texto foi originalmente elaborado, mediante específico convite do Editor da obra em epígrafe, a fim de servir de Prólogo para a mesma. A seguir envidei esforços no sentido de atender àquele pedido honroso com a erudição que pude acumular e com o senso ético que me dita o rumo a seguir. Foi com grande surpresa que vi meu proêmio ser rejeitado sem qualquer explicação razoável, muito menos civilizada e, assim mesmo, somente depois de oito meses de espera consegui uma resposta ridícula e hilária que não se dá nem a oligofrênicos, muito menos tangencia a realidade dos fatos."

LANÇAMENTO NESTA TERÇA-FEIRA
O livro de que aqui se trata é a nova edição dos Diálogos das Grandezas do Brasil, escrito na Paraíba colonial, com toda probabilidade pelo cristão-novo (judeu convertido à força ao Cristianismo) Ambrósio Fernandes Brandão. 

Escrita, portanto, nos tempos coloniais do Brasil, este valioso e imprescindível livro é agora novamente organizado e editado, com novel transcrição, pelo Dr. Caesar Sobreira.

O novo texto será lançado nesta terça-feira, dia 23 de abril de 2019, às 19 h, no IAHGP (Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano), localizado na Rua do Hospício, 130, bairro de Boa Vista, no Recife (PE). Trata-se de lançamento da CEPE (Companhia Editora de Pernambuco).

PERNAMBUCO X PARAÍBA
Não se sabe (ainda?) se por bairrismo ou se por qualquer outra razão obscura o editor desta nova versão afirma que os originais de tais diálogos foram escritos EM PERNAMBUCO, ao passo que o Dr. Guilherme - especialista mundialmente reconhecido em História Colonial (ao ponto de já ter sido convidado pela Holanda para apresentar seus trabalhos em instituições acadêmicas de Amsterdam) - sustenta com argumentos válidos que isto se deu na Paraíba.

Não se deve esquecer, como bem ressalta o historiador Guilherme Gomes da Silveira d'Avila Lins, que a obra Diálogo das Grandezas do Brasil é sem qualquer sombra de dúvidas fundamental para a compreensão da História do Nordeste do Brasil no século XVII. 

BRANDÔNIO & ALVIANO
Sim: veja-se que, na nota explicativa que acompanha a publicação do "ex-futuro Prefácio", o Dr. Guilherme diz novamente com todas as letras que os Diálogos foram redigidos na Paraíba (e não em Pernambuco) pelo citado Ambrósio Fernandes Brandão - o alegórico personagem lusitano Brandônio, já veterano no Brasil-Colônia e que conversa com o português recém-chegado Alviano, nos seis diálogos que compõem o volume.

Os diálogos entre esses dois personagens detalham as "grandezas", vale dizer, as riquezas apresentadas por cada Capitania brasileira, assim como descreve a flora, a fauna e outros importantes itens que todo mundo precisa conhecer a respeito de nossa terra.

Explica-se o grande hiato de tempo entre a composição da obra de Ambrósio Fernandes Brandão e sua publicação: a Corte portuguesa era mui ciosa de suas riquezas na América - e não desejava que as demais nações, especialmente as inimigas, tivessem suas ambições despertadas justamente por livros publicados em Portugal ou alhures.

EDIÇÃO FAC-SIMILAR
Além de fac-similar, esta nova edição é também diplomático-interpretativa. Segundo o organizador/editor, o citado Dr. Caesar Sobreira, a nova edição que ele montou "analisa e quando necessário corrige equívocos das edições anteriores", apresentando, ainda, centenas de notas que acompanham a transcrição paleográfica, o que mantém "a integralidade do texto - inclusive os erros constantes no manuscrito". 

E os editores acrescentam: "O fato de se tratar de uma edição justalinear permite ao leitor realizar sua própria interpretação do apógrafo original".

A CORREÇÃO DO DR. GUILHERME
De todo modo, é preciso atentar para a correção fundamental que o Dr. Guilherme Gomes da Silveira d'Avila Lins aponta nesta edição:

* a correção que mui provavelmente resultou na RECUSA do aproveitamento de seu Prólogo - o qual, ressalte-se novamente, foi escrito A CONVITE do organizador/editor.




QUEM É O DR. GUILHERME GOMES DA SILVEIRA D'AVILA LINS
O Dr. Guilherme Gomes da Silveira d'Avila Lins, médico, historiador, intelectual de "primer plana", autor de dezenas e mais dezenas de livros e incontáveis outros trabalhos, atualmente presidindo o IHGP (Instituto Histórico e Geográfico Paraibano) e considerado uma das maiores autoridades mundiais em História Colonial, não carece de apresentações, mas, de todo modo, aqui vão algumas de suas qualificações suas:

Guilherme Gomes da Silveira d’Avila Lins  

Bacharel em Ciências e Letras (Colégio Pedro II - Internato - Rio de Janeiro), 
Professor Emérito da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), 
ex-Pesquisador do Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional da Universidade Federal da Paraíba (NDIHR/UFPB), 
Membro Titular do P.E.N. Clube do Brasil, 
Membro Efetivo do Centro de Investigação Professor Doutor Joaquim Veríssimo Serrão (CIJVS) [Portugal], 
membro efetivo do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica (IPGH) [ex-Presidente], 
membro da Academia Paraibana de Letras (APL), 
membro da Academia de Letras de Areia (ALA-PB), 
membro da Academia Paraibana de Filosofia (APF), 
membro da Academia Paraibana de Medicina (APMED), 
membro da Sociedade Paraibana de Arqueologia (SPA), 
membro da Associação Paraibana de Imprensa (API), 
membro fundador do Instituto Histórico e Geográfico de Areia (IHGA-PB), 
membro honorário do Instituto Histórico e Geográfico do Cariri (IHGC-PB), 
sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano (IHGP) [atual Presidente], 
membro correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB),
membro dos Institutos Históricos de Campina Grande (IHCG-PB), de Patos (IHGP-PB), do Maranhão (IHGMA), do Rio Grande do Norte (IHGRN), de Pernambuco (IAHGP), de Alagoas (IHGAL), de Sergipe (IHGSE), da Bahia (IGHB), de São Paulo (IHGSP), do Paraná (IHGPR), do Mato Grosso (IHGMT), do Distrito Federal (IHGDF) etc.

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A seguir, vem o texto do Prólogo escrito pelo Dr. Guilherme Gomes da Silveira d'Avila Lins, a convite, para a obra em referência:


Uma nova e exemplar publicação do DIÁLOGO DAS GRANDEZAS DO BRASIL 1


Pesa-me sobre os ombros neste momento uma tarefa de elevada responsabilidade, qual seja, a de atender adequadamente a um convite, tão generoso quão honroso, do meu fraternal amigo de pelo menos uma década, o Prof. Dr. [Juarez] Caesar Malta Sobreira __ muito digno Professor Titular de Antropologia, Cátedra Anita [Waingort] Novinsky, do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e também Membro da Academia Recifense de Letras para só dizer isto __ no sentido de eu vir a escrever um Prólogo para a obra magnífica que ora é republicada de forma exemplar e sobremaneira enriquecida.
Devo admitir que, embora vivamente agradecido por esta gentil solicitação inesperada, fiquei todavia deveras surpreso e até curioso em relação aos motivos que a desencadearam. Desta maneira, antes de adentrar ao âmago do assunto em pauta vou me permitir fazer aqui uma compreensível digressão de caráter pessoal.
Começo, pois, esta digressão preliminar com a seguinte indagação calcada num linguajar antigo que diz “a que graça este pobre marquês deve tamanha distinção” ? Isto porque, com toda a sinceridade, ao escolher este “simples mortal” para participar do seu magnífico empreendimento editorial o ilustre Prof. Dr. Caesar Malta Sobreira criou para mim e talvez para muitos dos seus leitores uma incógnita que somente ele próprio pode clarificar. De todo modo, imagino que em boa parte isto possa ser explicado através dos  laços  de  amizade
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1.        Este texto foi originalmente elaborado, mediante específico convite do Editor da obra em epígrafe, a fim de servir de Prólogo para a mesma. A seguir envidei esforços no sentido de atender àquele pedido honroso com a erudição que pude acumular e com o senso ético que me dita o rumo a seguir. Foi com grande surpresa que vi meu proêmio ser rejeitado sem qualquer explicação razoável, muito menos civilizada e, assim mesmo, somente depois de oito meses de espera consegui uma resposta ridícula e hilária que não se dá nem a oligofrênicos, muito menos tangencia a realidade dos fatos. Que brilhantismo mental ! Como pude bem perceber o que deve ter ocorrido e como escrevi um estudo crítico, tenho o direito de não desperdiçá-lo frente aos deselegantes caprichos alheios onipotentes. Desta maneira, este texto vem agora a lume, desgarrado da obra a que se destinava e aparece na íntegra, inclusive com os elogios que na ocasião fiz ao Editor da mesma. Ele também contém, de forma eticamente intocável, uma única discordância de natureza histórica que registrei de maneira documentada e embasada em luzes mais iluminadas. Refere-se a certo detalhe equivocado desprovido de qualquer argumentação crítica, ao qual aquele Editor desgraçadamente aderiu no seu Estudo Introdutório. Ainda há gente que não suporta ver seus deslizes assinalados ainda que com respeito. Assim, este texto será agora dirigido ao alvitre dos leitores arduamente conquistados durante décadas, os quais têm me respeitado como pessoa e como pesquisador de História Colonial ao acolherem o que escrevo. Afinal, só escrevo sobre o que sei sem nunca dizer Amem a tudo o que se alardeia. Concluindo, a ignóbil rejeição de que fui vítima neste caso não chega sequer a constituir uma frustração, exceto pela vilania que ela dispersa. Uma prova disto é que, coincidentemente, diante das circunstâncias, obrigo-me agora a ferir aqui meu feitio morigerado e nada ostentador ao dizer que meu nome figura em inúmeras menções constantes do Índice de Citações no meu Curriculum Vitae onde destaco, pela sua oportuna propriedade, apenas uma tese estrangeira (Degree of Doctor of Philosophy in The Ohio State University, 2017) da autoria de Gabriel Mordoch, B.A., M.A., intitulada NEW CHRISTIAN DISCOURSE AND EARLY MODERN PORTUGUESE OCEANIC EXPANSION: THE CASES OF GARCIA D’ORTA, FERNÃO MENDES PINTO, AMBRÓSIO FERNANDES BRANDÃO AND PEDRO DE LEÓN PORTOCARRERO (Três menções nominais: citação na nota de rodapé de n.º 77 [p.78, Cap. 3], citação ao longo do texto à p. 79 [Cap. 3] e referência bibliográfica à p. 163).


existentes entre nós, ao lado dos vários interesses culturais comuns. Mesmo assim, vale lembrar que com certeza ele tem à sua disposição inúmeras outras pessoas nas mesmas condições, muitas delas morando bem mais perto dele e quiçá até bem mais representativas. A meu favor posso dizer que embora eu seja um professor universitário (aposentado), o que não é muito, que durante bastante tempo militou profissionalmente em São Paulo e na Paraíba, não passo de um tipo de “anfíbio”, ou seja, um médico com formação na Universidade Federal de Pernambuco e pós-graduação na Pauliceia que culminou sua vida profissional ao receber o galardão de Professor Emérito da Universidade Federal da Paraíba e que, paralelamente, no último meio século tem se dedicado também à pesquisa da nossa História Colonial. Acontece que desde priscas eras o fato de ser médico e também pesquisador de História nem sequer chega a constituir novidade digna de nota, seja no Brasil, seja no mundo afora. A propósito, até os anos 30 do século passado nem ao menos havia graduação universitária em História e em geral até então os pesquisadores de História tinham outra profissão formal. É bem verdade que nesta última seara, além de outros interesses, tenho sido um particular estudioso do Diálogo das Grandezas do Brasil desde o princípio dos anos 80 do século passado mas isto, por si só, não me eleva à “honra dos altares”. De qualquer maneira, incidentalmente, como “ajuntador” dedicado, tenho hoje a sorte de possuir não somente os textos dos seus dois apógrafos ainda “sobreviventes”, como também todas as suas versões impressas (incompletas ou completas), o que me alenta a alma de estudioso. Aliás, diga-se de antemão que um de seus apógrafos (reprodução digital do manuscrito de Lisboa) recebi como regalo justamente do próprio Caesar Sobreira, o mesmo ocorrendo com um exemplar da sua excelente edição norte-americana de 1987 (1), hoje bastante escassa. São prêmios recebidos deste ilustre Professor de Antropologia numa nímia cortesia para comigo. De minha parte, eu apenas havia viabilizado para ele a digitalização de um exemplar desta mesma obra, edição de 1968 - Edições de Ouro (2), que possuo nas prateleiras do meu “ajuntamento de livros”, como costumo dizer.
Assim, também não sei se para tanto houve alguma influência de um pequeno porém trabalhoso ensaio meu publicado em 1994 a respeito da obra em apreço bem como acerca do seu mais do que provável autor (3). Aliás, vejo agora com alegria que este ensaio foi assinalado entre as referências bibliográficas desta nova publicação de Caesar Sobreira.
Há ainda um traço de parecença que me liga a Caesar Sobreira tendo em vista que ele nasceu em Pernambuco e reside em Olinda, enquanto que eu, embora paraibano, provenho de um berço ancestral que nestas plagas brasílicas remonta ao meado do Século XVI na antiga Vila de Olinda (então cabeça da Capitania de Pernambuco) onde nasceu meu decavô, Duarte Gomes da Silveira, um dos heróis da conquista da Paraíba, coincidentemente mencionado duas vezes, uma delas nominalmente, pelo autor do Diálogo das Grandezas do Brasil (4). Ademais, eu residi na capital pernambucana numa vivência quase “sabática” a partir do princípio da década de 60 do século passado.
Nesta mesma direção ora trilhada por mim vale lembrar ainda aqui uma pesquisa bastante laboriosa que me consumiu 15 anos de estudos, na qual me vali de inúmeros excertos do Diálogo das Grandezas do Brasil, todos eles contendo elementos de natureza gentílica, movido que estava do propósito de submetê-los à análise crítica com as vistas voltadas para o esclarecimento da naturalidade do anônimo autor da protocrônica da Paraíba, ou seja, o Sumário das Armadas ..., objeto de muitas e demoradas controvérsias sobre a sua identidade. É que neste contexto o enciclopédico Padre Dr. Serafim [Soares] Leite, S.J., julgou tê-las resolvido em definitivo no ano de 1938 mediante um argumento virtualmente incontestável debulhado em apenas 30 linhas da sua obra magna impressa em dez grossos volumes (5). Dava ele assim um tiro a queima-roupa com que “matava” aquela antiga incógnita dual em favor do Padre Simão Travaços, S.J. [Este religioso assinava assim mesmo o seu nome), nascido em Ferreiros, então pertencente à Diocese de Braga (Portugal)]. Também por este motivo Serafim Leite obteve bastante reconhecimento da comunidade de historiadores ao reduzir sumariamente à expressão mais simples aquela incômoda incógnita quase bicentenária mediante um entendimento elementar e cristalino, praticamente insofismável. Acresce que a vida nos ensina que nem sempre os problemas tidos como resolvidos estão de fato solucionados. Neste específico caso o seu argumento era realmente cristalino, exceto por um sutil detalhe linguístico subjacente e por seu valor evolutivo ao longo do tempo. Noutras palavras, o autor anônimo daquela protocrônica sem data da Paraíba (e posso hoje assegurar que o ano é 1594, vislumbrado por mim através da famigerada crítica externa, hoje tão ironizada por certos próceres da nossa Historiografia), estava se expressando ali na língua portuguesa do Século XVI, não na do Século XX. Foi exatamente mediante este último entendimento que Serafim Leite tirou sua conclusão inadvertida sem se aperceber deste importante detalhe. Isto, sem dúvida, mudou substancialmente a compreensão deste problema. Pois bem, foi exatamente a utilização daquelas dezenas de exemplos colhidos no Diálogo das Grandezas do Brasil, ao lado de um outro oriundo de certa fonte contemporânea, além da extensa argumentação subsequente desenvolvida naquele meu ensaio sobre a crítica de atribuição da protocrônica da Paraíba (redigida em três alentados volumes) que me permitiu invalidar a conclusão daquele ilustre autor luso-brasileiro. Pude assim demonstrar que sua proposta, aparentemente inquestionável, não resistia à interpretação textual ali desenvolvida, precisamente por se tratar de um linguajar do idioma português do Século XVI e, desta maneira, a única alternativa possível para aquela dúvida dual recaía sobre o aparentemente bem menos provável Padre Jerônimo Machado, S.J., natural da Capitania de São Vicente, que inclusive veio a ser expulso da Companhia de Jesus durante vários anos mas que depois foi a ela readmitido e a partir de então se mostrou um inaciano devotado e contrito. Adicionalmente, ainda com base no que se lê naquela relação anônima, infere-se que seu autor se revela muito mais “vaidoso”, “egocêntrico”, “bajulador”, “futriqueiro”, “rebelde”, “belicoso” e “odiento” que o Padre Simão Travaços, S.J., seu irmão de roupeta que tinha alcançado os quatro votos da sua Ordem e que chegou a ser Reitor do Colégio de Olinda onde foi considerado por seus pares como “Austero consigo mesmo. Suave com os demais”. Enfim, levou uma vida religiosa exemplar até morrer no ano de 1618 (6). Aliás, neste caso em particular o grande historiador sorocabano Francisco Adolpho de Varnhagen, Barão e Visconde de Porto Seguro, já havia antes indicado o nome do Padre Jerônimo Machado, S.J., para esta autoria, entretanto, sem lhe aduzir uma só palavra de juízo crítico (7) e teve várias oportunidades para isto. Enfim, esta minha crítica de atribuição é razoavelmente conhecida na Paraíba (e até citada por terceiros), portanto, talvez o meu amigo Caesar Sobreira tenha tido notícia dela (8) embora ainda continue inédita até hoje. 
C’est la vie ...  

Antes de concluir estas elucubrações, há ainda dois fatos que merecem ser ressaltados aqui com o mesmo propósito. Meu amigo Caesar Sobreira sabe que eu tenho um antigo projeto de produzir uma encenação teatral do Diálogo das Grandezas do Brasil com um roteiro adaptado, tendo em vista que esta obra suscita sem dúvida uma peça teatral. Infelizmente esta idéia foi interrompida há vários anos por conta do falecimento do dramaturgo que eu havia escolhido, talhado para isto. Coincidentemente, ao tomar conhecimento deste projeto, Caesar Sobreira me disse que também tivera a mesma ideia, o que sugere que ela é potencialmente boa e se conseguirmos a partir de agora reunir esforços neste sentido sei que poderemos realizar esta tarefa juntos. O outro fato é que, como igualmente comuniquei a ele __ inspirado no seu exemplo de levar a cabo a presente obra com base no manuscrito da Biblioteca Nacional de Portugal cujo título é Dialogo das grandezas do Brazil e foi redigido com letra da segunda metade do Século XVII __ que já estou trabalhando na sua interface de análogo mister, ou seja, produzir uma publicação diplomático-interpretativa do códice da Biblioteca da Universidade de Leiden intitulado Dialoguo das grandezas do Brazil, redigido com letra da primeira metade do Século XVII, manuscrito este que pertenceu a Izaak Vossius, grande erudito daquela centúria. Espero que este meu projeto arrojado possa ao menos se assemelhar em qualidade com o que ora vem a público.          
Encerro aqui estas alongadas considerações preliminares ao dizer que meu amigo Caesar Sobreira, um linguista de escol, fazendo aquele convite para escrever estas palavras preliminares, parecia esperar de mim algo que não sei se sou capaz de realizar. É que ele me solicitou exatamente um Prólogo, palavra que na sua origem nos descortina o teatro grego antigo __ ao invés de se valer de um de seus equivalentes menos exuberantes, tais como Prefácio ou Prefação, Proêmio, Preâmbulo, Exórdio, Antelóquio, Anteâmbulo, Prolusão, Prormônio etc. __ e assim procedendo ele prenunciou a elevada carga da minha responsabilidade aqui. Enfim, seja qual for o motivo que desaguou na escolha do meu nome para esta tarefa, farei o que estiver ao meu alcance para executar a contento este encargo. Oxalá o consiga mas não estou seguro de que poderei ser tão breve quanto se costumava ser nos primitivos Prólogos. Afinal de contas não acredito que se possa escrever um “nanoprefácio” para uma obra como o Diálogo das Grandezas do Brasil. Retomo, pois, o fio de Ariadne.
Desde já, porém, advirto o leitor para o fato de que na prática é impossível evitar aqui a abordagem de diversos importantes aspectos relativos a esta obra, os quais estão também já devidamente aventados mais adiante pelo eminente responsável por esta publicação e que inclusive ele já havia publicado em 2013 um resumo do seu erudito Ensaio Introdutório a esta edição que vem agora a público (9). Espero que ainda reste alguma coisa para eu dizer aqui, ainda não assinalada e comentada.
É essencial reforçar que o Diálogo das Grandezas do Brasil aparece agora mais uma vez porém de forma ainda inédita, elaborada com maestria pelo Prof. Dr. Caesar Sobreira que lhe deu um toque exemplar a partir de um de seus manuscritos originais, ou seja, com base na transcrição, leitura paleográfica e interpretação textual devidamente anotada do respectivo apógrafo de Lisboa. A meu ver, sob esta atual “roupagem” a produção editorial deste texto ainda se destina ao leitor de bom gosto mas apenas curioso, da mesma maneira que assim ocorreu  nas apresentações anteriores, entretanto, agora ela também acena com bem mais ênfase para um segmento de público ainda mais exigente e estudioso desta obra, ou seja, para o pesquisador interessado nas suas múltiplas facetas linguísticas e culturais. Enfim, a versão atual desta obra constitui um eloquente e generoso prêmio para todos os apreciadores das Letras e da História do Brasil.
Nesta publicação o Prof. Dr. Caesar Malta Sobreira revela ainda o toque mágico de um Midas pois sabe tocar com especial valor o que lhe interessa, seja mediante o rigor metodológico que adota, seja através da análise criteriosa e cuidadosa que aí aplica descendo até às minudências. Ademais, ele se mostra também um Fídias da crítica textual (ecdótica e prefiro esta forma ao invés da estranha edótica) ao executar esta inspirada “escultura” (no caso a interpretação) além de demonstrar sua verve de competente filólogo num trabalho “arqueológico” da linguagem com o propósito de elaborar esta esmerada crítica textual. Com efeito, quando se trata de manuscritos antigos a paleografia (quase sempre um grande obstáculo para os neófitos) representa o passo inicial do reconhecimento da escrita ancestral com que o pesquisador lida, todavia, faz-se aí também necessária a aplicação dos princípios da ecdótica (algo bem mais complexo) ao seu texto a fim de chancelar fielmente o seu real significado e valor. Noutras palavras, aqui se vê um monumental trabalho artesanal, artístico, técnico e científico da linguagem. Quem sabe, deve ter participado aí a inspiração de Cronos e o endosso de Zeus.
Confesso que há muito eu estava a esperar um estudo diplomático-interpretativo deste jaez nesta obra. Posso imaginar o quanto Caesar Sobreira se dedicou a este trabalho que talvez tenha lhe custado vários anos de pesquisa para a sua elaboração, estando agora substancialmente depurada. Aqui este texto foi, por assim dizer, “escavado” em suas “entranhas” para revelar sua subjacente fisionomia mais autêntica (cinzelada com habilidade) a fim de que possa ser apreciada como bem merece. Agora este texto se mostra muito mais cristalino e na sua essência dá asas ao pensamento suscitando até o vislumbre do seu autógrafo (hoje perdido) que está a completar exatos quatro séculos desde quando foi redigido pelo seu autor.
Evidentemente não vou desenvolver aqui uma apreciação detalhada da sua leitura paleográfica e da sua interpretação textual. Não é este o meu papel até porque isto constituiria uma antecipação indevida perante o leitor a quem este trabalho se destina e iria lhe subtrair o prazer da sua degustação literária em primeira plana. De todo modo este texto mostra aqui a sua “vestimenta” mais pura. Diferente das versões anteriores este texto não traja apenas um “terno moderno e bem cortado”, obtido em loja de griffe. Mais que isto, ele exibe um “corte” bem mais original e autêntico, em que pese o grande valor dos demais. Até agora nunca havia sido feita uma edição diplomática e interpretativa do Diálogo das Grandezas do Brasil e isto para mim é o que mais conta no momento. Meus parabéns Caesar Sobreira.
Destaco já aqui outro aspecto que chama especial atenção nesta publicação do Prof. Caesar Sobreira. É que ele colocou, entre parênteses, no frontispício da obra a expressão (Anônimo, 1618), o que considero deveras importante mas é preciso que eu me explique melhor antes de vir a ser alvo de impropérios por defender algum tipo de “heresia”. Em primeiro lugar devo lembrar que nenhum dos dois manuscritos originais deste texto, ainda hoje existentes, traz na portada o nome do autor ou a data da redação. De qualquer maneira é fácil observar que já no seu primeiro capítulo o autor incógnito afirma explicitamente que estava redigindo o seu texto no ano de 1618, data esta que se vê em ambos os códices (10, 11). Quanto à identidade do autor, depois dos primorosos estudos críticos a este respeito, sobre os quais versarei mais tarde, embora de forma superficial, acredito que atualmente não há uma só pessoa que de sã consciência rejeite o nome de Ambrósio Fernandes Brandão (ou não admita que aquele Brandônio, um dos interlocutores da longa conversa desfiada neste texto, constitui um apodo do seu próprio nome) como a pessoa a quem deve ser atribuída esta autoria. Eu, particularmente, não fujo nem poderia fugir deste mesmo entendimento. Por outro lado, é preciso reconhecer que o conjunto de elementos que atualmente laboram em favor do seu nome, desde os meros indícios até as diversas evidências contundentes e quase probatórias neste sentido, corresponde a um valioso arrazoado circunstancial praticamente invalidável, o qual propende para e apoia tal convicção. Na verdade estes elementos críticos caem como uma luva na identidade de Ambrósio Fernandes Brandão. Pode-se até dizer em uníssono que neste caso o autor deve ser ele e somente ele, entretanto, ainda não existe uma só prova cabal, definitiva, que demonstre esta conclusão. Estou falando aqui de certeza histórica. Desta maneira, independente desta convicção, por respeito ao rigor metodológico e às razões de natureza técnica, é preciso aceitar, ao menos no frontispício desta obra, que ela deve ser tratada como anônima ou, no máximo, atribuível a [Ambrósio Fernandes Brandão], assim mesmo, entre colchetes. Mais uma vez meus parabéns Caesar Sobreira. Foi imbuído destes princípios que este competente editor não se atreveu a, por exemplo, acompanhar aqui, em meio às prévias publicações desta obra, o prematuro e pioneiro arrojo e a ousadia do erudito polígrafo português Jaime [Zuzarte] Cortesão (com o aval de [Julio] Afranio Peixoto), responsável pela excelente edição de 1943 que resolveu ostentar no seu frontispício o nome de Ambrósio Fernandes Brandão (12) quando ainda não se dispunha sequer dos magistrais estudos complementares originalmente publicados sobre este texto, bem como em duas novas oportunidades em outras publicações desta obra em tela (Introdução, 1962 e 1966) por José Antonio Gonsalves de Mello [Neto] (13, 14, 15). A atitude daquele editor lusitano conquistou inclusive adeptos. Desta maneira acolho este tipo de posicionamento mas não me filio à mesma corrente. Tanto é assim que, mesmo já correndo o ano de 1994, publiquei um estudo já mencionado sob o título de Levantamento das publicações dos Diálogos das Grandezas do Brasil com algumas notas sobre o seu mais do que provável autor. Já que enveredei por esta via continuo no mesmo rumo. Poucos anos depois daqueles exemplares estudos introdutórios há pouco citados, sobre aquela autoria, surgiu em 1968 mais uma versão da mesma obra também estampando o nome de Ambrósio Fernandes Brandão na capa (com o aval de Afranio Coutinho) (16). Não é demais dizer aqui que o próprio José Antonio Gonsalves de Mello [Neto] nas suas duas primeiras edições integrais desta obra (1962, 1966), de acordo com o manuscrito de Leiden, também não ousou exponte propria explicitar na capa de nenhuma delas o nome de Ambrósio Fernandes Brandão, mesmo sendo ele um de seus maiores defensores, como se vê nas duas versões mencionadas da sua Introdução. A seguir, em 1977, surgiu a terceira edição integral desta obra, de acordo com o apógrafo de Leiden, publicada sob a responsabilidade de Leonardo [Antônio] Dantas Silva que inclusive escreveu o seu Prefácio, mas desta feita este respeitável prefaciador resolveu publicar na capa o nome de Ambrósio Fernandes Brandão afirmando que isto se devia à intenção de prestar ali uma homenagem (bastante merecida mas, a meu ver, metodologicamente inadequada) em face daquelas brilhantes pesquisas feitas por José Antonio Gonsalves de Mello [Neto] sobre esta autoria (17). Por fim, já em 2010, a Editora do Senado Federal, embora bem intencionada porém nem sempre muito atenta para a boa qualidade editorial das obras que publica, a exemplo da História do Brasil de Frei Vicente do Salvador, O.F.M., que contém falhas quase imperdoáveis, veio a produzir mais uma edição dos Diálogos das Grandezas do Brasil onde também se lê na capa o nome de Ambrósio Fernandes Brandão (18). Por outro lado todas as demais edições deste título no Brasil, sejam as incompletas e descontínuas (em periódicos) ou as completas com o texto parcelado (em periódicos) ou ainda com o texto integral em periódico e finalmente de forma independente (em livro), não trazem o nome do autor. Dito isto, declino aqui da oportunidade de me deter adicionalmente nas versões digitais desta obra, em geral reproduções do texto de edições anteriores.
Destaco também aqui o fato de que o título desta obra, adotado pelo Prof. Dr. Caesar Sobreira, é DIÁLOGO DAS GRANDEZAS DO BRASIL com a primeira palavra no singular, diferentemente de todas as demais publicações suas (exceto a primeira delas em 1849, raríssima, que se mostrou, parcial e descontínua além de publicada em um periódico já extinto há muitos anos), as quais apresentam aquela primeira palavra no plural. Pois bem o Prof. Dr. Caesar Sobreira manteve-se aqui fiel ao que se lê em ambos os seus apógrafos seiscentistas e assim procedendo está a merecer outra vez os parabéns, independente da opinião do mestre José Antonio Gonsalves de Mello [Neto] a este respeito que, embora conhecendo aqueles dois manuscritos, foi ali pouco feliz porque não somente preferiu a mencionada forma plural, até então utilizada em edições anteriores, como também a defendeu, além de acrescentar inadvertidamente na mesma ocasião que apógrafo de Lisboa continha aquela palavra no plural (19), o que não corresponde à realidade. Independente deste último lapso acidental, a sua opinião anterior não me parece muito razoável. Afinal de contas o conteúdo desta obra corresponde a um diálogo mantido por dois interlocutores (Brandonio, morador antigo do Brasil, e Alviano, aí chegado há pouco tempo), diálogo este que se desenvolveu ao longo de seis diferentes ocasiões (dias) no mesmo local, ao que parece, e envolvendo os mesmos interlocutores que versavam sobre diferentes aspectos de um mesmo assunto, ou seja, estavam em prática (conversa) a respeito das grandezas do Brasil. Pouco importa se este diálogo foi interrompido várias vezes no final de cada encontro dos seus interlocutores. Pouco importa também que esta conversa tenha sido subdividida em seis “Dialogos” (ou Capítulos correspondendo a cada um dos dias em que se manteve aquela prosa). O seu texto representa na verdade um só diálogo que se desenrolou ao longo de seis ocasiões distintas e, melhor do que qualquer argumento que se possa aventar aqui, é indubitável que ambos os seus apógrafos conservam no singular a primeira palavra do seu título.
Deve-se igualmente enfatizar aqui que o Diálogo das Grandezas do Brasil tem um valor incomensurável para as Letras e para a História deste País. Aliás, o saudoso historiógrafo carioca José Honório Rodrigues a considerou como um dos doze maiores livros do Brasil Colonial e a seu respeito acrescentou algumas apreciações críticas de bom nível (20, 21). Como já foi visto, no Brasil foram feitas diversas publicações do seu texto e a mais antiga (1849) se mostra deveras avara pois está aí incompleta e com apresentação descontínua no periódico onde veio à luz, sem qualquer aparato crítico, entretanto contém aquela importante característica de conservar no singular a primeira palavra do seu título e não no plural como as já antecipadas aqui. Várias das suas publicações nacionais subsequentes encerram valiosas contribuições sobre a sua crítica de atribuição a partir de estudiosos de grande respeitabilidade na Historiografia deste País, entre os quais, o sorocabano Francisco Adolpho de Varnhagen, Barão e Visconde de Porto Seguro, o cearense João Capistrano [Honorio] de Abreu, o potiguar Rodolpho [Augusto de Amorim] Garcia e, de forma bastante abrangente, o pernambucano José Antonio Gonsalves de Mello [Neto] que lhe aduziu magistrais acrescentamentos. Estas importantes contribuições direcionadas à sua crítica de atribuição foram progressivamente iluminando de maneira cada vez mais nítida o nome de Ambrósio Fernandes Brandão como o seu autor. De forma bem mais modesta, tive também a oportunidade de, a este respeito, adicionar aí uns poucos detalhes que podem ser de alguma utilidade.
Assim, pode-se dizer aqui que a identidade do autor daquela obra foi sendo aos poucos delineada mediante as valiosas contribuições daqueles insignes historiadores já mencionados (e até eu consegui propor umas adições minúsculas). Este autor era portanto um cristão-novo lusitano, nascido em torno de 1555, possivelmente no Sul de Portugal (de acordo com o mestre Capistrano de Abreu). Ele era ainda um homem bastante culto no seu tempo pois conhecia a Bíblia (particularmente o Velho Testamento) além de diversos autores clássicos, sendo ainda versado em ciências naturais. Quero crer que provavelmente conhecia também o latim e talvez até o hebraico ou ainda o ladino, além do linguajar dos nativos da costa do Brasil. Aportou em Pernambuco por volta de 1583 quando tinha cerca de 28 anos de idade, onde a princípio se fez feitor da fazenda dos bens do opulento cristão-novo Bento Dias Santiago, sendo o seu  arrematante de dízimos. Dois anos mais tarde, no princípio de 1585, participou das lutas de conquista das terras do rio Paraíba por ocasião da primeira expedição comandada pelo Ouvidor Geral Martim Leitão, onde aparece como capitão de uma das companhias de mercadores, como informa o autor do Sumário das Armadas ... (22), portanto era já então pessoa destacada na Capitania de Pernambuco. Tornou-se homem abastado em Pernambuco com morada na Rua Nova da Vila de Olinda, a principal, e também foi senhor do engenho São Bento na Muribara, já construído em abril de 1594 em terras que possuía naquela freguesia de São Lourenço da Mata, região da então chamada Mata do Brasil, ou seja, a mata do pau-brasil por sua abundância naquela região. Por esse tempo já havia sido denunciado na Bahia durante a Visitação do Santo Ofício por ser cristão-novo e frequentador da esnoga de Camaragibe pelo Padre Francisco Pinto Doutel, Vigário da Matriz de São Lourenço da Mata que então estava lá, mas não consta que tenha com isto sofrido qualquer dano, até porque em 1595, na Vila de Olinda, ele depôs como testemunha de defesa no Processo movido pelo Santo Ofício contra Bento Teixeira, mestre-escola e poeta, também morador e vizinho de Ambrósio Fernandes Brandão na mesma rua Nova. Tinha então 40 anos de idade e se declarou “Capitão de sua Companhia de infanteria nesta Villa [de Olinda]”. Em torno de 1597, por alguma razão desconhecida (Inquisição ?), resolveu voltar para Portugal temporariamente. Em Lisboa tinha também uma morada descrita como “uma horta e quinta” na Calçada do Congro onde havia um hortelão de nome Antonio Alvares e um jardineiro assalariado, mourisco de nação, nascido em Granada, chamado Miguel Fernandes de Luna. Residiu aí com a família e, através das pesquisas de José Antonio Gonsalves de Mello [Neto], se conhece outras notícias mais. Fica-se sabendo, por exemplo, de vários membros de sua família, entre eles Anna Brandoa, aparentemente sua esposa, além de Joana Baptista, irmã bastarda da anterior, Mícia Henriques e Duarte Brandão, filhos de Anna Brandoa, sendo aleijado este último que era solteiro e letrado. Ademais, na casa vizinha que se comunicava com esta na parte posterior também moravam pessoas que haviam se criado na sua casa e se tinham por seus parentes. Em Lisboa ele se relacionou com importantes figuras do Reino e chegou a ocupar o proeminente cargo de Tesoureiro Geral da Fazenda dos Defuntos e Ausentes (embora fosse cristão-novo). Estando ainda em Lisboa, voltou a ser denunciado ao Inquisidor Antonio Dias Cardoso no Paço dos Estaus por ser cristão-novo mas parece não ter tido aí consequência desagradável. Permaneceu em Lisboa por cerca de uma década e resolveu retornar ao Brasil em torno de 1607 por motivo ignorado (Inquisição ?) Ainda por volta de 1597 quando viajou para Portugal, deixou o irmão de nome Antonio Lopes Brandão como seu procurador bastante para as coisas relativas aos seus bens, em particular o seu engenho São Bento e, como tal, por vezes este despachou, como em 20 de março de 1600 na urca São Pedro, 23 caixas (com cerca de 20 arrobas cada [23]) de açúcar branco e mascavado, além de 1 caixa de retame “a entregar a Ambrósio Fernandes Brandão em Lisboa”.
A partir de 1601 aquele Antonio Lopes Brandão não era mais tratado como seu procurador no engenho São Bento da Muribara e sim como seu senhorio, donde se infere que ele o havia comprado ao irmão ainda estante em Portugal. Assim sendo, em torno de 1607, quando Ambrósio Fernandes Brandão retornou ao Brasil já não possuía mais engenho em Pernambuco (até prova em contrário) e mais tarde, em 1618, veio a escrever o seu livro exemplar lá mesmo (ao menos para muitos). Posteriormente veremos esta possibilidade mais de perto. De todo modo, por ocasião da sua volta ao Brasil ou até mesmo antes dela, como se verá logo mais, ele já devia estar dirigindo sua atenção, no que toca à indústria açucareira, para as terras férteis da promissora Capitania da Paraíba (pertencente à Coroa) que lhe eram bastante familiares desde 1585 e aí de fato fez levantar nada menos que três engenhos na várzea do rio Paraíba ao longo de um breve intervalo de tempo que vai desde cerca de 1605 até algo em torno de 1613, como logo se verá. Pela ordem, o primeiro deles foi o e engenho Inobi situado à margem do rio de mesmo nome, afluente do rio Paraíba no seu lado esquerdo, sob a invocação dos Santos Cosme e Damião e vizinho do engenho Salvador [do Mundo], mais antigo que ele, situado mais acima e que depois mudou sua invocação para Nossa Senhora da Ajuda. Este pertencia a Duarte Gomes da Silveira (nascido na Vila de Olinda porém aí morador desde cerca de 1587), tido como um dos cinco heróis da conquista da Paraíba (24). A segunda fábrica de açúcar de Ambrósio Fernandes Brandão na Paraíba foi o engenho São Gabriel (ainda hoje em atividade) que ficou mais conhecido pelo nome de engenho do Meio por se situar entre os dois outros que lá vieram a lhe pertencer. Finalmente sua terceira fábrica de açúcar foi o engenho Gargaú, então mais conhecido como engenho de Baixo por se situar mais abaixo que os anteriores, quase beirando a margem esquerda do rio Paraíba e que recebeu a invocação de São Marcos (cujo dia é festejado a 25 de abril). Esta invocação de São Marcos foi divulgada pelo ilustre historiador paraibano Maximiano Lopes Machado, radicado no Recife, que viu a escritura de compra deste engenho (e dos dois outros), datada de 28 de novembro de 1663, bem depois do domínio neerlandês, efetuada por João Fernandes Vieira (25). Incidentalmente, muito mais tarde, já em meados do Século XIX, o engenho Gargaú veio a pertencer a Joaquim Gomes da Silveira, Coronel da Guarda Nacional na Capitania da Paraíba e seu Comandante Superior, aliás trisavô materno do autor destas linhas. Segundo uma fonte do Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa por mim consultada aquele primeiro engenho de Ambrósio Fernandes Brandão na Paraíba “lançou a moer a primeira vez em 28 de outubro de [1]605 que é o principio da safra que se acabou em abril de [1]606” (26), portanto, antes do seu retorno para o Brasil quando ainda residia em Lisboa. Sabemos também que o seu segundo engenho já estava moente e corrente a 27 de novembro de 1613, data em que Ambrósio Fernandes Brandão (necessariamente presente na Capitania da Paraíba e, segundo as regras das datas de terra, tinha um determinado prazo, geralmente de um a dois anos, para aproveitar a doação, sob a pena de perdê-la, podendo a mesma reverter para quem a solicitasse e a aproveitasse efetivamente) pedia em sesmaria “duas ilhotas, que estão entre o rio que chamão do Francez e o rio Gargaú” (ambos afluentes do rio Paraíba), das quais carecia para fazer mais um engenho na ribeira do Gargaú e o Capitão-Mor e Governador João Rebello de Lima lhe fez a concessão, tendo este documento sido descoberto pelo historiador paraibano Irenêo [Ceciliano Pereira] Joffily (27), o qual foi também divulgado depois por João de Lyra Tavares, dedicado e paciente pesquisador de documentos paraibanos (28), pai do General Aurelio de Lyra Tavares. Quando da entrada dos flamengos na Paraíba em 1634 Ambrósio Fernandes Brandão já não pertencia ao mundo dos vivos mas de acordo com um documento confiável redigido inicialmente em 1623 (e atualizado mais tarde), o seu nome aparece como senhor de três engenhos na Paraíba, ano em que eles produziram 13.586 arrobas de açúcar (29). Depois do seu falecimento em data ignorada aqueles três engenhos pertenciam aos seus sucessores, ou seja, Luiz Brandão (Inobi), Jorge Lopes Brandão (Gargaú), irmão do anterior (por certo seus filhos) e um sobrinho chamado Francisco Camello Brandão (São Gabriel), os quais se evadiram desta terra com a entrada dos neerlandeses em 1634 (30, 31, 32). Este Luiz Brandão que foi senhor do engenho Inobi terá tido sobejas razões para não se deixar ficar na Paraíba em 1634, especialmente se ele tiver sido, como parece, o mesmo “capitão Luiz Brandão” citado numa Carta Régia datada de 17 de março de 1632 em Madrid, onde se lê: “Que assy se escrevão carta de agradecimto  aos capitães Luiz Brandão, Manoel Pires Correa [Este foi também senhor de dois engenhos e os abandonou com a entrada dos flamengos] e Manoel queiros, na forma que aponta Antº [Antonio] de Albuquerque [Maranhão, Capitão-Mor e Governador da Capitania da Paraíba que então também se evadiu da Paraíba em 1634] p.lo [pelo] que lhe assistirão [assistiram] e [pelo] bom animo com q[ue] acudirão [acudiram] a seruirme [na defesa desta Capitania contra as tentativas do inimigo flamengo para assenhorear-se dela]” (33). O fato é que aqueles três engenhos foram confiscados e, a partir de 1637, vendidos a Isaac de Rasière. O engenho Inobi recebeu o nome de Amstel enquanto que o engenho do Meio foi denominado Middelburg e o engenho Gargaú recebeu a denominação de La Rasière. Com a expulsão dos neerlandeses em 1654 João Fernandes Vieira resolveu administrar e usufruir aqueles três engenhos porém mais tarde os comprou aos seus legítimos donos originais evadidos ou aos seus sucessores (34).
Na tentativa de rastrear e adicionar informações sobre os parentes e descendentes (ou possíveis parentes e descendentes) de Ambrósio Fernandes Brandão pude constatar, por exemplo, que entre as pessoas que estavam então perante o Governador Geral do Brasil e assinaram a 23 de novembro de 1618 na Capitania da Paraíba o “Auto q[ue] mandou fazer o Sor gor e capam geral deste estado do Brazil dom Luis de souza sobre o forte novo [do Cabedelo] q[ue] sua magde ordena [que] se faça, pera fortificassaõ do porto desta Cappia [da Paraíba]” encontrava-se Jorge Lopes Brandão (então, ao que parece, futuro senhor) do engenho Gargaú, alem de um Fernando Lopes Brandão, muito provavelmente seu parente próximo (35). Este cristão-novo Jorge Lopes Brandão havia sido citado numa denunciação do Santo Ofício na Cidade do Salvador no dia 08 de outubro de 1591 pelo Padre Francisco Pinto Doutel (então aí estante), Vigário da Matriz da freguesia de São Lourenço da Mata no limite de Camaragibe na Capitania de Pernambuco (36), aliás o mesmo religioso que aí fez também uma análoga denúncia contra Ambrósio Fernandes Brandão, como já foi visto.         
 Há também uma figura proeminente na Capitania da Paraíba que bem pode ter sido um parente de Ambrósio Fernandes Brandão, chamava-se Francisco Lopes Brandão, um Licenciado que foi Juiz Ordinário da Câmara da então já denominada Cidade Filipeia de Nossa Senhora das Neves em 1606, além de ter sido indicado para Ouvidor desta Capitania no ano seguinte (37). Em 1617 Francisco Lopes Brandão foi Juiz Ordinário da Câmara da capital paraibana (38) e chegou efetivamente a exercer o cargo de Ouvidor da Capitania em 1620, cargo que ainda ocupava em 1621 (39, 40). Absolutamente não é estranhável que um cristão-novo, como parece ser o seu caso, tivesse sido provido no cargo de Ouvidor àquela época pois o próprio Ambrósio Fernandes Brandão ocupou em Lisboa o importante posto de Tesoureiro Geral da Fazenda dos Defuntos e Ausentes. Existe ainda forte indício de que Francisco Lopes Brandão também foi senhor de engenho na Paraíba ou talvez em Pernambuco (41) e sabemos igualmente que ele se encontrava em Lisboa no ano de 1633 (42).
Outro possível parente de Ambrósio Fernandes Brandão seria um Manoel Lopes Brandão que recebeu Carta de nomeação de Capitão de Infantaria no Brasil, assinada em Lisboa a 18 de fevereiro de 1634 (Chancelaria de D. Filipe III, L. 32, fól. 137) e sabe-se que o anterior já tinha ocupado este mesmo posto.
Como se pode observar, na Paraíba daquele tempo (1618) e até bem mais tarde, havia bastante gente relacionada efetivamente (ou de maneira aparente) em termos familiares a Ambrósio Fernandes Brandão, o que não é de admirar considerando que este cristão-novo era aí um homem importante e abastado, poderoso e culto na sociedade local da sua época, aliás muito mais do que ele fora antes em Pernambuco.
Cumpre agora lembrar aqui um ensaio publicado pelo Prof. Dr. Heronides Alves Coêlho Filho, pernambucano de nascimento e paraibano por adoção, além de médico psiquiatra e historiador de merecimentos, membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, o qual no seu discurso de posse nesta Casa de Irineu Ferreira Pinto em 1967 defendeu a tese, publicada em 1971 na sua Revista, segundo a qual, de acordo com diversos argumentos razoáveis Ambrósio Fernandes Brandão teria sido também médico (43). Em que pese a razoabilidade das suas considerações, a mim parece que aquele cristão-novo era muito mais um naturalista com cultura humanística do que propriamente um médico. Ademais, no Brasil daquela época todo colono mais desenvolto, curioso ou compelido pela urgência que enfrentava, atuava eventualmente como médico, segundo suas habilidades, ainda mais ele que era um homem bastante culto e versado nas ciências naturais. Além disso, em nenhum momento ele se declarou como um profissional formal da Medicina, entretanto, não se pode rejeitar de todo esta possibilidade.
Já é hora de redirecionar esta linha de raciocínio. Registro agora que, dentre os antigos e grandes bibliógrafos do Século XVIII que inicialmente assinalaram a presente obra seiscentista em epígrafe, então ainda manuscrita, figura [Don Andrés Gonzáles de] Barcia [Carballido y Zuñiga] (1673-1743), membro fundador da Real Academia Española e merece aqui o devido realce no árduo trabalho que ele teve para reeditar, adicionar e aumentar substancialmente o monumental Epitome de la Bibliotheca Oriental, y Occidental, Nautica e Geografica de Don Antonio de Leon Pinelo, Licenciado e Cronista-Mor das Índias, livro este impresso em três tomos em Madrid, 1737-1738 (44), cuja editio princeps havia sido lançada pelo autor no ano de 1629 em tomo único e na mesma cidade (45). Ao nome de Barcia se soma o celebrado Diogo Barbosa Machado, Abade da Paroquial Igreja de Santo Adrião de Sever e membro numerário da Academia Real [das Ciências de Lisboa], autor da não menos importante Bibliotheca Lusitana Historica, Critica, e Cronologica ..., impressa em quatro tomos em Lisboa, 1741-1759 (46). Naquela primeira bibliografia a autoria do nosso manuscrito em tela é atribuída a um certo “BRANDAON [BRANDÃO], Portuguès, Vecino de Pernambuco. Dialogo de las Grandeças del Brafil, que contiene muchas cofas de la Chorografia, i Hiftoria Natural de aquel Pais”, noticiando também a existência de outro códice seu em língua portuguesa na livraria (biblioteca) do Conde de Vimieiro. Muito provavelmente este manuscrito se perdeu no grande terremoto de Lisboa em 1755. Já na segunda bibliografia atrás citada, Diogo Barbosa Machado escreveu que o seu título, “Dialogo das grandezas do Brafil em que faõ interlocutores Brandonio, e Alviano. M.S. Confta de 106. folhas. Trata de muitas curiofidades  pertencentes à Corografia, e hiftoria natural daquellas Capitanias” e o atribui a “BENTO TEIXEIRA PINTO Natural de Pernambuco igualmente perito na Poetica que na Hiftoria ...”. Com esta descrição o grande bibliógrafo lusitano estava, sem dúvida, se reportando ao manuscrito guardado da Biblioteca Nacional de Portugal onde se lê, de outra mão, aquele nome de “Bento Teixeira Pinto” como o seu autor e que ninguém mais é que o poeta Bento Teixeira, morador de Pernambuco, “cristão novo, mestre de leer e escrever nesta villa [de Olinda]” (47), autor da Prosopopea. Sabe-se hoje, entretanto, que ele não nasceu em Pernambuco mas sim na Cidade do Porto assim como não é o autor daquele “Dialogo” pois faleceu em 1600. Ademais, Diogo Barbosa Machado também aludiu ali àquele outro manuscrito desta obra, existente na livraria do Conde de Vimieiro, mostrando ao leitor a mesma indicação que já vimos no adicionador Barcia.
A propósito, muitos anos mais tarde Francisco Adolpho de Varnhagen, Barão e Visconde de Porto Seguro, que a princípio (1839), já conhecia o manuscrito de Lisboa, todavia mantinha-se ainda um tanto céptico sobre a sua suposta autoria em favor de Bento Teixeira (1839) porém bem mais tarde (1877) já acreditava piamente nela e afirmava que o suposto autor era pernambucano. Diga-se ainda que em 1856 Varnhagen também já conhecia o manuscrito de Leiden desta mesma obra, do qual providenciou uma cópia para si. Mais tarde a ofereceu em 1877 ao amigo pernambucano José de Vasconcellos, membro do então denominado Instituto Archeologico e Geographico Pernambucano (hoje Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano) para publicação no Jornal do Recife de sua propriedade, a qual logo resultou interrompida. Somente bem mais tarde este texto completo ficou publicado em Pernambuco. Assim pode-se considerar que Varnhagen, sem propriamente começar com pleno sucesso, deu sem dúvida os primeiros passos na longa caminhada crítica em busca do autor do Diálogo das Grandezas do Brasil.
Diante do encorpado entendimento que ia já se avolumando sobre a autoria desta obra em favor de Ambrósio Fernandes Brandão, partindo a princípio das contribuições críticas de João Capistrano de Abreu e Rodolpho Garcia (e posteriormente através dos exemplares adicionamentos feitos por José Antonio Gonsalves de Mello [Neto]), houve apenas um autor com voz discrepante, a do Prof. Eladio dos Santos Ramos, membro do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, que publicou em 1946 um ensaio sobre esta matéria, acostado em argumentos (alguns deles um tanto discutíveis) mediante os quais discordava daqueles dois primeiros historiadores que o antecederam e com muita convicção apontava o Padre Simão Travaços, S.J., como o autor incógnito do Diálogo das Grandezas do Brasil (48). Este jesuíta é o mesmo que o historiador lusitano Padre Dr. Serafim Leite, S.J., havia antes escolhido como o responsável pela protocrônica da Paraíba, o Sumário das Armadas ... Vou me eximir aqui de rebater os seus argumentos em defesa desta nova proposta, tarefa esta que já foi muito bem analisada por José Antonio Gonsalves de Mello [Netto] nas suas contribuições antes aludidas.  Afirmo apenas que aquele autor poderia economizar muito do tempo gasto com esta propositura, tendo em vista que ele sabia que o Padre Simão Travaços, S.J., embarcou em Portugal para o Brasil em 1577 e aí permaneceu até seu falecimento no Colégio de Jesus de Olinda em outubro de 1618, entretanto, jamais voltou a Portugal desde a sua chegada a esta Colônia. Ora, o Prof. Eladio dos Santos Ramos também sabia que o autor do Diálogo das Grandezas do Brasil (até prova em contrário Ambrósio Fernandes Brandão) veio de Portugal por volta de 1583 mas retornou ao Reino  por volta de 1597 onde permaneceu durante cerca de uma década e só então voltou para o Brasil em torno de 1607. Ademais, o Padre Simão Travaços, S.J., não podia se considerar “novo na terra” brasílica depois de seis anos da sua chegada a Pernambuco, como bem lembrou o mestre José Antonio Gonsalves de Mello [Neto]. Esta declaração de “novo na terra” se constata nos dois únicos manuscritos desta obra do Século XVII que ainda se conservam, sobreviventes da ação do tempo e das intempéries da natureza.
Como já foi antecipado vagamente, o texto desta obra, já várias vezes impresso, apareceu pela primeira vez entre nós no ano de 1849, lançado num efêmero periódico do Rio de Janeiro (IRIS), sob uma feição bastante acanhada, descontínua e incompleta, contendo apenas o chamado “Dialogo I” (49), dos seis que o compõem. Deveu-se esta iniciativa a um destacado homem de letras lusitano, proprietário daquele periódico, o médico e advogado José Feliciano de Castilho Barreto e Noronha __ membro de uma família de ilustres letrados que trazia na bagagem títulos como ex-Bibliotecário-Mor da então denominada Biblioteca Nacional de Lisboa, ex-Presidente da Comissão do Nacional e Real Arquivo da Torre do Tombo (hoje Arquivo Nacional da Torre do Tombo) além de ex-Diretor do antigo Depósito Geral das Livrarias (Bibliotecas) dos Extintos Mosteiros de Portugal __ o qual, há quem diga, teria trazido para o Brasil o próprio códice existente em Lisboa quando resolveu aqui fixar residência. Esta suspeita, difícil de entender, decorre do fato de que, por orientação de Varnhagen, João Francisco Lisboa não mais encontrou este manuscrito original em Lisboa quando o procurou em 1856 (50) e por sua vez, a pedido de Capistrano de Abreu, João Lucio d’Azevedo também não o achou ao procurá-lo já em 1922 (51). Teria de fato ocorrido aquela lamentável subtração deste códice ou houvera apenas um extravio interno do mesmo nos meandros da Biblioteca Nacional de Lisboa. O fato é que José Feliciano de Castilho Barreto e Noronha morreu no Brasil em 1879 sem jamais voltar a Portugal e aquele manuscrito com letra da segunda metade do Século XVII se encontra hoje na Sessão de Reservados (Fundo Geral, cod. 6.819, cota esta que antes correspondia ao cód. 302, o que é bastante compatível com um extravio interno do mesmo) daquela Biblioteca. Se ele apenas ficou lá extraviado temporariamente, como parece, serve este arrazoado para lavar aquela mancha no comportamento de José Feliciano de Castilho Barreto e Noronha que neste caso teria apenas copiado ou mandado copiar o manuscrito original, cópia esta que não se conhece hoje. Aliás, em favor desta possibilidade há o fato de que, naquela mesma ocasião José Feliciano de Castilho, seguramente, também trouxe consigo para o Brasil uma cópia do já citado apógrafo do Sumário das Armadas ..., a qual foi sem dúvida publicada por ele e por inteiro no mesmo periódico (IRIS), mas neste caso esta sua cópia manuscrita moderna pode ter se originado tanto no códice de Lisboa quanto no de Évora (52).
 Há ainda alguma coisa a acrescentar sobre este assunto e ela diz respeito ao historiador sorocabano Francisco Adolpho de Varnhagen, pioneiro entre os historiadores deste País nas apreciações críticas deste texto que ora passo em revista, o qual já havia falado superficialmente sobre este tema ainda em 1839, então muito jovem, ocasião em que fez um breve comentário acerca de um manuscrito desta obra numa nota por ele aberta em precioso estudo crítico seu sobre o texto enciclopédico de Gabriel Soares de Sousa, publicado na Collecção de Noticias Ultramarinas da Academia Real das Sciencias de Lisboa (53). Aí já dava mostras de que conhecia o códice de Lisboa desta obra e informava ter tido conhecimento dele através do bibliógrafo Diogo Barbosa Machado que o atribuía a um “Bento Teixeira Pinto”. Na oportunidade Varnhagen corrigiu sutilmente e com propriedade este nome para Bento Teixeira todavia admitiu que ele era pernambucano (na verdade portuense). Nesta ocasião o historiador sorocabano ainda se mantinha um tanto incrédulo quanto a esta autoria pois escreveu: “Nós porêm não estamos dispostos a dar-lhe inteiro credito” e informou que o autor deste manuscrito “em 1599 [?] tinha vindo a Portugal; aonde se conservava em 1607, depois voltou a Pernambuco onde escreveu o livro” . Terá sido aí mesmo ? Bem mais tarde Varnhagen redigiu um Postfacio em 1877, ao qual juntou uma cópia do texto desta obra (obtido em Leiden) e os entregou, com vistas numa impressão pernambucana, ao seu amigo José de Vasconcellos, proprietário do Jornal do Recife e membro do então denominado Instituto Archeologico e Geographico Pernambucano. Esta publicação (descontínua) no Jornal do Recife foi logo interrompida em 1878, contendo apenas o primeiro capítulo (54). Somente entre 1883 e 1887 esta edição planejada por Varnhagen, foi entretanto publicada de forma completa na Revista do Instituto Archeologico e Geographico Pernambucano porém parcelada e espaçadamente (55) através da intervenção de José Hygino Duarte Pereira, notável pesquisador pernambucano que complementou a parte faltante do texto que ainda existia naquele Instituto, com uma obtida em Leiden . Estava assim satisfeita a vontade do Visconde de Porto Seguro que queria ver esta obra publicada na “propria provincia de Pernambuco, pátria querida do autor”, como afirmou no seu Postfacio de 1877 acreditando que era “pernambucano” este autor de nome Bento Teixeira, na verdade lusitano de nascimento. Verifica-se aí que o antigo ceticismo de Varnhagen em relação a esta proposta de autoria já havia se dissipado. De todo modo estava apenas começando um longo percurso investigativo, ou seja, a longa peregrinação em busca da autoria do Diálogo das Grandezas do Brasil.
Por sua vez, o grande mestre João Capistrano [Honorio] de Abreu, que veio a oferecer inicialmente as primeiras pistas mais confiáveis em busca da autoria desta obra em favor de Ambrósio Fernandes Brandão, fez publicar em 1900 uma nova edição estampada no DIARIO OFFICIAL. REPUBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRAZIL (56) mas não ousou colocar aquele nome próprio de pessoa na sua portada. Ademais, em 1930, como já vimos, esta obra veio novamente à luz, pela primeira vez de forma independente (tirada em livro), também sem o nome do autor, numa edição com o texto completo e independente, que foi produzida sob a égide de [Julio] Afranio Peixoto, então Presidente da Academia Brasileira de Letras, e sob a responsabilidade do grande historiador potiguar Rodolpho [Augusto de Amorim] Garcia Este último historiador que já chamei certa vez de O Gigante do Ceará-Mirim (57), havia se radicado no Rio de Janeiro, onde foi membro daquela mesma Academia Brasileira de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, além de Diretor da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Ali ele acrescentou, entre outras coisas importantes, um não menos importante Aditamento crítico sobre esta autoria, complementando e corroborando o que também se lê na Introducção do mestre Capistrano, já então falecido, mas que foi então reproduzida de uma publicação original sua do ano de 1900. Ademais, Rodolpho Garcia produziu também aí uma erudita anotação ao texto impresso, anotação esta que mais tarde, pasmem, foi “cirurgicamente” extirpada de maneira prepotente e quase criminosa, promovendo assim um substancial prejuízo para o leitor.    
Este Prólogo já está se dilatando em demasia e é chegada a hora de encerrá-lo, mas não antes de uma derradeira observação que me atrevo a fazer aqui. Ela diz respeito ao local onde o Diálogo das Grandezas do Brasil foi redigido: Pernambuco ou Paraíba ? Perceba-se que não tenho aqui a intenção infantil de promover um pretenso “duelo bairrista” entre a pernambucanidade e a paraibanidade  cujo prêmio é o privilégio de reivindicar para si a origem territorial desta obra. Não é este o meu feitio já que o assunto é realmente bem mais adulto, civilizado e sério. Assim, peço vênia ao ilustre Prof. Dr. Caesar Malta Sobreira para não lhe apoiar neste particular o detalhe referente ao local onde foi redigido aquele manuscrito autógrafo e o faço com todo o respeito, até parafraseando Varnhagen em 1877 ao rever aí o seu antigo parecer emitido em 1839 quando ainda não fazia muita fé na opinião de Diogo Barbosa Machado que atribuía a Bento Teixeira a autoria desta obra: “Nós porêm não estamos dispostos a dar-lhe inteiro credito”. Sei muito bem que neste específico caso o entendimento de Caesar Sobreira está, por sua vez, bastante escudado pelo endosso de importantes “guerreiros” da História, os quais lhe reforçam o parecer, aliás por coincidência, alguns deles pernambucanos, o que não é de admirar. Afinal de contas nesta particular seara Pernambuco é um rincão muito mais proeminente do que a quase microscópica Paraíba e ademais foi a partir daquela antiga Nova Lusitânia de Duarte Coelho que esta outra terra teve assegurada a conquista do seu território em 1585 depois de 11 anos de muitas lutas que se prolongaram por mais de 14 anos (até junho de 1599) quando finalmente se conseguiu um armistício solene (próprio das grandes guerras de antanho) e quase definitivo entre o elemento colonizador e os aguerridos potiguara que ainda senhoreavam aquela região.
Passo, pois, em revista o entendimento de alguns pesquisadores que consideram o Diálogo das Grandezas do Brasil obra escrita em Pernambuco e começo justamente com o historiador sorocabano Francisco Adolpho de Varnhagen. Tardiamente, em 1877, ele se convenceu de que (por razões deveras discutíveis) o cristão-novo Bento Teixeira __ mestre-escola e poeta, autor da Prosopopea, morador na rua principal da Vila de Olinda, cabeça da Capitania de Pernambuco, a famosa rua Nova __ tido por ele como pernambucano de nascimento (na verdade português), correspondia ao autor por ele procurado (hipótese esta já hoje descartada). É bem verdade que este autor sorocabano não afirmou literalmente no seu Postfacio de 1877 que Bento Teixeira redigiu o seu texto em Pernambuco mas deixou aí assim subentendido ao pretender publicar sua suposta obra “nesta propria provincia de Pernambuco, patria querida do autor Desta maneira, o seu voto em favor de Pernambuco fica destituído de valor.
Continuando, trago à baila o posicionamento do Prof. Eladio dos Santos Barros, membro do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano que de forma um tanto bizarra e pouco convincente, defendeu em 1946 o nome do Padre Simão Travaços, S.J., nascido em Ferreiros (então Diocese de Braga) e aí afirmou sem qualquer justificativa que “Os Diálogos foram ultimados em Pernambuco”. De qualquer forma a sua proposição de autoria para este manuscrito já foi metodicamente refutada pelo mestre José Antônio Gonsalves de Mello [Neto] nas suas magistrais contribuições críticas e há pouco, até eu tive a oportunidade de ressaltar um detalhe decisivo para esta refutação. Fica, portanto, invalidada esta proposta do Prof. Eladio dos Santos Barros. De todo modo, através de documentos confiáveis compulsados pelo Padre Dr. Serafim Leite, S.J., já aqui indicados, além do que já foi divulgado por José Antônio Gonsalves de Mello [Neto] é possível alinhavar muitos momentos da vida do Padre Simão Travaços, S.J., e a tudo isto pode-se adicionar os elementos obtidos no Sumário das Armadas ... (mencionado há pouco) onde este jesuíta foi citado nominalmente nas “terras do [rio] parahiba” por ocasião da primeira expedição de conquista do Ouvidor Geral Martim Leitão em março de 1585.
A seguir lembro aqui o muito notável historiador pernambucano Francisco Augusto Pereira da Costa, autor dos Anais Pernambucanos, obra monumental à qual dedicou grande parte de sua vida entretanto não viveu o bastante para vê-la publicada, cujo texto em dez alentados volumes, originalmente redigidos em formato diferente do atual (dicionário), teve que ser totalmente reestruturado (cronologia) por conta de um “acidente maligno de percurso”. Pois bem, aí este ilustre historiador afirmou em dois locais distintos que o autor do Diálogo das Grandezas do Brasil o escreveu em Pernambuco (58, 59) todavia sem aduzir qualquer argumento abonando tal afirmativa. Desta maneira ela não passa de uma opinião honesta mas não embasada.
Deixo aqui para depois Capistrano de Abreu, Jaime Cortesão e Afranio Coutinho mas já informo que Afranio Peixoto, Rodolpho Garcia e Leonardo Dantas Silva não cogitaram deste detalhe.
Também não se pode deixar de incluir neste rol o eminente Prof. José Antonio de Mello [Neto], um dos maiores historiadores pernambucanos e do Brasil, a respeito do qual, nos seus Estudos Pernambucanos, já citados, admitiu sem mais delongas que o autor do Diálogo das Grandezas do Brasil o “redigiu, como parece, na Paraíba” e uma admissão deste porte tem, sem dúvida, bastante credibilidade.
Capistrano de Abreu foi o único autor que, a respeito do local onde esta obra foi escrita, não somente opinou em favor da Paraíba como também apoiou o seu entendimento mediante um argumento sutil mas óbvio, contendo uma conotação de orientação geográfica, enquanto que Jaime Cortesão e Afranio Coutinho registraram apenas a conclusão do mestre cearense. Na sua Introducção surgida bem antes mas reeditada na edição de 1930 desta obra Capistrano escreveu: “Ha probabilidade a favor da Parahiba ser o lugar em que os Dialogos foram compostos. Entre estas podem enumerar-se primeiramente as numerosas referencias a ella feitas, o modo desenvolvido por que é tratada: pouco mais de três paginas tratam de Pernambuco, menos de quatro tratam da Bahia, ao passo que quase cinco cabem á Parahiba. Á Parahiba attribúe-se o terceiro lugar entre suas irmãs e aproveita-se qualquer pretexto para salienta-la: o administrador ecclesiastico, prelado quase igual aos bispos [da Bahia] nos poderes, é da Parahiba, esta, por conseguinte, a cabeça espiritual das Capitanias do Norte, a começar de Pernambuco; na organização judiciária proposta para substituir a Relação da Bahia, um corregedor com amplos poderes deve residir na Parahiba, por ser cidade real, e a elle serem subordinadas todas as justiças desde Pernambuco até o Maranhão e Pará. Essa preferência pela Parahiba não indica que á Parahiba o autor estava preso por laços muito particulares ? Uma phrase escripta [pelo autor] incidentalmente legitima a resposta pela affirmativa ‘vos hei de contar, diz um dos interlocutores, uma graça ou historia que succedeu há poucos dias neste Estado sobre o achar o ambar. Certo homem ia a pescar para a parte da Capitania do Rio Grande [do Norte] em uma enseada que ahi faz a costa ... A menos que não se provasse que o autor escrevia no Ceará, o que está fora de questão, para a parte da Capitania do Rio Grande, só se podia escrever na outra Capitania contigua, isto é na Parahiba” (60). Argumento cristalino e intocável até prova em contrário !
Agora pergunto eu, que argumentos em favor de Pernambuco existem para endossar este entendimento em seu favor, já que os que assim pensam não os apresentam nem os defendem ? Já que é assim, peço eu a palavra. Ninguém discute o fato de que Ambrósio Fernandes Brandão aportou pela primeira vez em Pernambuco quando chegou ao Brasil em torno de 1583 mas isto não prova que ele escreveu aí o Diálogo das Grandezas do Brasil. Ninguém discute também que na sua primeira estada no Brasil, ele residiu em Pernambuco até cerca de 1597 e aí possuia morada na Rua Nova de Olinda (1595) e inclusive levantou um engenho de açúcar na Muribara (já em atividade no ano de 1594) mas isto também não prova que ele redigiu lá a sua obra, até porque este engenho já havia sido vendido em 1601 e se ele, por outro lado, manteve a sua morada na Rua Nova de Olinda, o que não se sabe, também pode ter mantido a sua morada em Lisboa, onde sabemos que não foi lá que ele escreveu a sua obra.  Ele não afirma que escreveu o seu texto naquela morada da rua Nova de Olinda ou em qualquer outra morada em Pernambuco. Aliás, quando ele ainda estava em Portugal em 1607 já havia concluído o seu primeiro engenho de açúcar na Paraíba, então moente e corrente, onde por certo teria que administrá-lo e ninguém duvida que ele residiu na Paraíba, onde de forma bastante rápida veio a edificar mais dois engenhos que também teria de administrar. É isto o que os senhores de engenho naquela época faziam, permaneciam nos seus engenhos a maior parte do ano e só iam à “Rua” (se possuíssem morada lá) por ocasião das grandes festividades religiosas chamadas “oitavas”, indicativas da sua duração. Enfim, que indício existe de que Ambrósio Fernandes Brandão estava residindo em Pernambuco a partir de 1607 até o ano de 1618 quando redigiu o seu livro ? Não tenho notícia de nenhum. Também não faz qualquer sentido Ambrósio Fernandes Brandão, possuindo três engenhos de açúcar na Paraíba, preferir residir em Pernambuco ao longo da sua segunda permanência no Brasil (de 1607 até a sua morte) e deixar a administração deles sem a sua presença. Isto seria algo parecido com a esdrúxula hipótese de, por exemplo, o opulento João Paes Velho Barreto (que inclusive também participou das lutas de conquista da Paraíba, aliás, na mesma expedição em que Ambrósio Fernandes Brandão esteve presente em 1585), senhor de diversos engenhos de açúcar desde o Cabo de Santo Agostinho até as bandas do Sul da Capitania de Pernambuco, instituidor que foi de um grande e famoso Morgado, vir a resolver, de repente, morar na Paraíba abandonando seus engenhos ! Da mesma maneira também não faz o menor sentido imaginar, por exemplo, a possibilidade de o benemérito Duarte Gomes da Silveira (citado duas vezes nos Diálogos ...), senhor de um engenho vizinho ao primeiro levantado por Ambrósio Fernandes Brandão, nascido na Vila de Olinda onde cresceu e onde, quase que certamente, foi educado no Colégio de Jesus desta Vila e que mais tarde participou ativamente nas lutas de conquista da Paraíba, sendo hoje considerado um de seus heróis, tendo a seguir (1587) se mudado para esta terra onde ajudou a colonizá-la prometendo às próprias custas e durante anos um prêmio pecuniário a quem viesse residir aí e assim poder construir a sua morada nesta Cidade, que também fundou às próprias custas a Santa Casa de Misericórdia da Paraíba onde reservou para si e para sua família e descendentes uma Capela para repositório dos seus ossos no interior daquela Igreja, a Capela do Salvador do Mundo, que chegou a possuir na Paraíba dois engenhos de açúcar (além de muitos outros bens urbanos e rurais), um dos quais construído enquanto vigia o jugo flamengo, que instituiu aí dois Morgados (dos quais apenas o segundo vingou por conta da morte do seu filho e sucessor na defesa desta terra contra aqueles invasores), resolver de repente abandonar seus engenhos e mais cabedais na Paraíba a fim de retornar ao seu rincão natal, a Vila de Olinda, apenas para, supostamente, rever na velhice os locais da sua infância e adolescência por não conseguir mais somente rememorá-los. Isto é de todo inconcebível e de fato jamais aconteceu, provavelmente jamais poderia ter acontecido (em virtude do óbvio chiste aí contido), embora ele até tivesse voltado momentaneamente a Pernambuco onde foi participar, como representante eleito pelo povo da Paraíba, perante o Conde de Nassau-Siegen na famosa Assembleia que este então convocou em 1640, apenas uma hábil “pantomima” ardilosa sob a forma de aparente gesto generoso e democrático, do qual hoje tantos se ufanam e glorificam por suas “elevadas” intenções. Duarte Gomes da Silveira, já então maior de 80 anos, procurou em vão defender ali os interesses do povo da Capitania da Paraíba. Só lhe restou retornar em seguida à sua terra de adoção, decepcionado sem dúvida, entretanto com a sensação de ter cumprido o seu dever inclusive porque seu brasão d’armas dizia no dístico “Verdade e Fidelidade”. Ufa, finalmente consegui parar para respirar mas pode até ter valido a pena.       
Há ainda dois outros argumentos de menor consistência probatória mas que parecem validar o fato de que Ambrósio Fernandes Brandão teria escrito sua obra na Paraíba, como opinou Capistrano de Abreu com muita propriedade. Pois bem, quanto ao primeiro argumento, acredito que há um vago indício de que este cristão-novo deve ter mantido seu diálogo com “Alviano” (Alvaro Nunes) num cenário rural (Lembremo-nos que a esta altura ele não mais possuía seu antigo engenho em Pernambuco) e não num cenário urbano, como logo se verá. Já o segundo argumento, não custa repetir, é aquela não negligenciável quantidade de possíveis parentes e descendentes seus (ou que de fato o eram), os quais estavam bastante relacionados à Paraíba e com algum destaque. Como se explica isto ? Por que eles (principalmente os mais remotos) estariam vinculados à Paraíba se seu representante mais significativo estaria morando em Pernambuco ? É, portanto, um tanto difícil explicar este fato sem a presença de Ambrósio Fernandes Brandão na Paraíba. Pois bem, verifiquemos agora o cenário ambiental onde se desenvolveu aquele famoso diálogo embora ele não seja tão impactante quanto o que foi percebido pelo mestre Capistrano de Abreu. Em 1618 a rua Nova de Olinda era a principal desta urbe, bem mais antiga e bem maior que a análoga rua Nova da capital paraibana, também a principal desta Cidade, pois na Vila de Olinda inclusive já existiam então duas freguesias. É bastante sabido que na capital paraibana a primeira providência tomada para iniciar sua urbanização foi efetuar um roço da vegetação bem como o corte do arvoredo existente naquele sítio, lembrando aqui que em 1586 Ambrósio Fernandes Brandão viu este sítio ainda coberto de mato. Quero crer que, com muito mais razão, isto também teria ocorrido anos antes com a rua Nova de Olinda onde este já abastado cristão-novo possuiu morada em 1595, ocorrendo o mesmo com os mais notórios habitantes desta Vila. A propósito, ao longo da bastante curta porém relativamente larga rua Nova da capital paraibana (atual Av. General Osório) que naquela época tinha apenas cerca de 450 m de extensão, começando em frente da Igreja Matriz de Nossa Senhora das Neves (depois Catedral Metropolitana e hoje Basílica [Menor] da Arquidiocese da Paraíba) e terminando na altura da atual esquina da rua da Misericórdia (hoje rua Peregrino de Carvalho) que acaba em frente da Igreja da Misericórdia. Naquela rua Nova paraibana contam-se até hoje bem poucas árvores, levando-se em conta que esta Cidade é bastante arborizada. Mesmo sem saber se Ambrósio Fernandes Brandão chegou a possuir em 1618 alguma morada na rua Nova desta Cidade já então denominada de Filipeia de Nossa Senhora das Neves (atual João Pessoa), por este tempo não devia  haver ali mato nem arvoredo (e isto pode até ser também válido, com muito mais razão, para a rua Nova de Olinda). Viam-se ali templos e casas de morada que preenchiam toda aquela pequena rua (térreas ou sobradadas, sendo estas últimas feitas de pedra e cal). Aliás, este já era aquele cenário urbano em 1612. Pois bem, o Diálogo das Grandezas do Brasil começa (possivelmente numa quarta-feira) com um dos seus interlocutores, Alviano (possivelmente Alvaro Nunes) que perguntava ao outro interlocutor Brandonio (Ambrósio Fernandes Brandão, mais do que provavelmente) sobre o conteúdo de um bisalho (pequena bolsa) que este tinha nas mãos ao que lhe respondeu tratar-se de “uma lanugem que produz aquela árvore fronteira [portanto bem próxima a eles], dentro num fruto que [ela] dá, do tamanho de um pêssego, que semelha pròpriamente a lã” (61). Embora de forma vaga este não parece de fato o cenário urbano daquela importante via pública (Havia na época 6 ou 7 ruas na Cidade) onde todo o mato havia sido roçado. Ainda que vagamente este cenário parece ser mais compatível com o ambiente de uma fazenda ou engenho situado em zona rural ou campestre. Ao que parece, a árvore em questão é a mungubeira, árvore frondosa que dá frutos comestíveis. Apenas incidentalmente, no capítulo seguinte ambos os interlocutores estavam outra vez no mesmo local porque Alviano deu sequência àquele diálogo dizendo a Brandonio: “Parece-me que um mesmo cuidado devia de ser o que nos traz ambos a êste mesmo ponto, porque de mim vos confesso que me não deixou tôda esta noite repousar a prática [conversa] que deixamos ontem imperfeita [incompleta], com a dúvida que pus” (62). Depois disto, o quarto capítulo desta obra principia com Alviano dizendo; “Hontem  [possivelmente um sábado]  vos estive esperando toda a tarde deste mesmo ponto [local] e por faltardes delle me tornei a recolher mais cedo do que imaginava [talvez uma casa anexa à casa grande que às vezes existiam para os hóspedes]” (63). Para mim isto já é suficiente e interrompo aqui este raciocínio sobre o vago cenário ambiental onde se desenrolou aquele diálogo entre Brandonio e Alviano, aparentemente uma casa de morada num ambiente rural e, assim se foi, podemos inferir a possibilidade de que ambos os interlocutores estariam a cada dia conversando na varanda da casa grande de um dos engenhos de Ambrósio Fernandes Brandão na Paraíba, quem sabe o de nome Inobi sob a invocação dos Santos Cosme e Damião, o maior de todos, cada um sentado na sua cadeira de braço ou na sua cadeira de balanço ou ainda relaxado na sua espreguiçadeira e talvez até deitado na sua rede ali instalada para melhor conforto de quem as quisesse utilizar, inclusive as visitas mais próximas como era o caso de Alviano (quiçá Alvaro Nunes como sugere Rodolpho Garcia).
Concluo agora dizendo que isto foi o melhor que pude fazer neste Prólogo e que esta foi a melhor abordagem que pude conceber para oferecer ao meu amigo Prof. Dr. [Juarez] Caesar Malta Sobreira (e aos seus muitos leitores pelo mundo afora) por ocasião do lançamento desta sua magnífica edição diplomático-interpretativa do texto do Diálogo das Grandezas do Brasil, segundo o apógrafo da Biblioteca Nacional de Portugal. Aqui, por antecipação, peço-lhe também eventuais desculpas por estas extensas mas bem intencionadas linhas, contendo talvez bastante matéria igualmente analisada mais adiante, entretanto a mim pareceu necessário não evitá-la. Independente disto, lhe envio mais uma vez os mais sinceros e efusivos cumprimentos e que o G.A.D.U. continue lhe iluminando os passos, as mãos e, especialmente, o intelecto privilegiado porque, como bem se sabe, “muitos são os chamados mas poucos os escolhidos” e o que mais importa aqui é que estamos diante de um destes últimos, cujo labor se direciona para o engrandecimento científico e cultural de Olinda, do Recife, de Pernambuco, da Paraíba, do Nordeste e do Brasil. Os seus naturais devem sempre exaltar estas terras abençoadas dizendo “Fiat Lux”.

Na primitiva Cidade de Nossa Senhora das Neves (c. 1586 até 1588), cabeça da então Capitania da Paraíba, aos 16 dias do mês de Outubro do ano da Graça de 2018.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (*)

1) Dialogues of the Great Things of Brazil (Diálogos das grandezas do Brasil). Attributed to Ambrósio Fernandes Brandão. Translated and annotated by Frederick Holden Hal, William F. Harrison and Dorothy Winters Welker. Albuquerque, University of New Mexico Press, 1987.
2) Brandão, Ambrósio Fernandes  -- Diálogos das Grandezas do Brasil. De acordo com a edição da Academia Brasileira de Letras. Nota preliminar de [Julio] Afrânio Peixoto. Introdução de J[oão]. Capistrano de Abreu. Aditamento e notas de Rodolfo Garcia. Apresentação de Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Edição Brasileira de Ouro, Technoprint Gráfica, 1968 (Coleção Brasileira de Ouro).
3) Lins, Guilherme Gomes da Silveira d’Avila – Levantamento das publicações dos Diálogos das Grandezas do Brasil com algumas notas sobre o seu mais do que provável autor.  João Pessoa, Empório dos Livros, 1994.
4) Dialogos das Grandezas do Brasil. Pela primeira vez tirados em livro com introducção de Capistrano de Abreu e notas de Rodolpho Garcia. Nota preliminar de A[franio]. P[eixoto]. Aditamento de R[odolpho]. G[arcia]. Rio de Janeiro, Officina Industrial Graphica, 1930, [Diálogo Primeiro] p. 46 (Publicações da Academia Brazileira [de Letras], II - Historia).
5) Leite, S.J.,Padre Dr. Serafim [Soares]  -  História da Companhia de Jesus no Brasil. Lisboa, Livraria Portugália; Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1938, Tômo I (Século XVI – O Estabelecimento), Capítulo IV – Paraíba, item 1, p. 500-1.
6) Idem, ibidem, p. 501, nota 1.
7) Varnhagen (Visconde de Porto Seguro), Francisco Adolpho de  -  Historia Geral do Brazil antes da sua separação e independencia de Portugal. Pelo Visconde de Porto Seguro Natural de Sorocaba. 2.ª ed. Muito Augmentada e Melhorada pelo Autor. Rio de Janeiro, Em Casa de E. & H. Laemmert [1877], t. I, sec. XXII, p. 348, nota 1.
8) Lins, Guilherme Gomes da Silveira d’Avila  -  Gravetos de História. Revisão da crítica de atribuição da mais antiga crônica da Paraíba em língua portuguesa e outras achegas contemporâneas. S.l., s.e., s.d., 3 volumes [Inédito]
9) Sobreira, [Juarez] Caesar Malta  -  Diálogo das Grandezas do Brasil: Quatro séculos de uma obra magnífica e a primeira edição do apógrafo de Lisboa, in: Revista do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano. Recife, Companhia Editora de Pernambuco (CEPE), 2013, Número 66, p. 139-67.
10) Dialoguo das grandezas do Brazil. Interlocutores Brandonio e Alviano, Dialoguo primeiro, fól. 19v [Códice seiscentista (do início) da Biblioteca da Universidade de Leiden].
11) Dialogo das grandezas do Brazil. Interlocutores Brandonio e Alviano. Dialogo primeiro, fól. 12v. [Códice seiscentista (do final) da Biblioteca Nacional de Portugal (Lisboa)].
12) Brandão, Ambrósio Fernandes  -  Diálogos das Grandezas do Brasil. Segundo a edição da Academia Brasileira [de Letras], corrigida e aumentada, com numerosas notas [e Aditamento] de Rodolfo Garcia e introdução de Jaime Cortesão [além de Nota Preliminar de Afrânio Peixoto, Apresentação de Jaime Cortesão e Introdução de J. Capistrano de Abreu]. Rio de Janeiro, Edições Dois Mundo Editora, 1943 [in fine] (Coleção Clássicos e Contemporâneos dirigida por Jaime Cortesão da Academia das Ciências de Lisboa).
13) Mello [Neto] (Editor), José Antonio Gonsalves de  -  Estudos Pernambucanos. Crítica e Problemas de algumas Fontes da História de Pernambuco. 2.ª Edição Aumentada [Editio Princeps em 1960]. Recife, Governo de Pernambuco – Secretaria de Turismo, Cultura e Esportes - Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (FUNDARPE) – Diretoria de Assuntos Culturais, 1986, p. 53-75 (Coleção Pernambucana, 2.ª Fase, Vol. XXIII).
14) Mello [Neto] (Editor), José Antonio Gonsalves de  -  Diálogos das Grandezas do Brasil. 1.ª edição integral, segundo o apógrafo de Leiden por José Antonio Gonsalves de Mello. Recife, Universidade do Recife, Imprensa Universitária, 1962, p. III- XLII [Introdução do Editor].
15) Mello [Neto] (Editor), José Antonio Gonsalves de  -  Diálogos das Grandezas do Brasil. 2.ª edição integral, segundo o apógrafo de Leiden, aumentada por José Antonio Gonsalves de Mello. Recife, Universidade Federal de Pernambuo, Imprensa Universitária, 1966, p. VII-XLVII [Introdução do Editor] (Documentos para a História do Nordeste, I).
16) Brandão, Ambrósio Fernandes  -  Diálogos das Grandezas do Brasil. De acordo com a edição da Academia Brasileira de Letras, contendo Nota Preliminar e Apresentação de Afrânio Coutinho, Introdução de J. Capistrano de Abreu com Aditamento e notas de Rodolfo Garcia. Rio de Janeiro, Technprint Gráfica, 1968 (Coleção Brasileira de Ouro).
17) Brandão, Ambrósio Fernandes - Diálogos das Grandezas do Brasil. Prefácio de Leonardo Dantas Silva, Introdução de José Antônio Gonsalves de Mello. 3ª edição integral segundo o apógrafo de Leiden. Recife, Fundação Joaquim Nabuco [FUNDAJ] - Editora Massangana - Companhia Editora de Pernambuco (CEPE), 1997 (Série Descobrimentos, vol. 8).
18) Brandão, Ambrósio Fernandes  -  Diálogos das Grandezas do Brasil. Brasília, Conselho Editorial do Senado Federal, 2010 (Edições do Senado Federal, volume 134).
19) Vide as referências 13 e 14, na Introdução do Editor, respectivamente à p. XXVII e à p. XXX.            
20) Rodrigues, José Honório  - História da História do Brasil. 1.ª Parte Historiografia Colonial. 2.ª edição. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1979, p. 371-4, p. 513 (Série Brasiliana - Grande Formato, volume 21).
21) Rodrigues, José Honório  -  Teoria da História do Brasil. Introdução Metodológica. 5.ª edição. Acrescida de um Posfácio. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1978, p. 361-2 (Série Brasiliana - Grande Formato, volume 11).
22) Sumario das armadas q[ue] se fizeram e guerras q[ue] se deram na conquista do Rjo parahiba scrito e feito por mandado do mto [muito] Rdo [Reverendo] padre em xpo [Cristo] o pe [padre] xptovã [Cristovão] de gouuea [Gouvea] uisitador da Companhia de Jesu de toda a prouincja do Brasil, cap. 8.º, fól. 28v. [Apógrafo seiscentista (do início) da Biblioteca Nacional de Portugal (Reservados, Fundo Geral, cód. 6.819, antigo cód. 302)]
23) Simonsen, Roberto C[ochrane].  -  História Econômica do Brasil (1500/1820). 4.ª edição. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1962, p. 110, nota 7 (Série Brasiliana - Grande Formato, volume 10).
24) Medeiros, João Rodrigues Coriolano de  -  Os Cinco Heroes, in: Publicações do Instituto Historico e Geographico Parahybano. Fundado em 7 de Setembro de 1905. Parahyba do Norte, 1925, p. 3-10.
25) Machado, Maximiano Lopes  -  Historia da Provincia da Parahyba. Parahyba, Imprensa Official, 1912, Tomo 1.º, p. 264, nota 1.
26) Carta do Capitão-Mor da Paraíba, João Rebelo de Lima ao Rei [D. Filipe II] contendo um documento anexo, com data de 06 de Março de 1616 existente no Arquivo Histórico Ultramarino [AHU_ACL_CU_014, Cx.1, D. 7].             
27) Joffily, Irenêo [Ceciliano Pereira]  -  Synopsis das Sesmarias da Capitania da Parahyba Comprehendendo o Territorio de todo o Estado do mesmo nome e parte do Rio Grande do Norte. Tomo I. Por Irenêo Joffily. Parahyba, Typographia e Lithographia a vapor – Manoel Henriques, 1894, p. 3.
28) Tavares, João de Lyra  -  Apontamentos para a Historia Territorial da Parahyba. Apresentação (Parahyba do Norte, 12 de fevereiro de 1910) de [José] Rodrigues de Carvalho. “Considerações sobre o domínio de Portugal no Territorio Brasileiro de Irenêo Joffily. Parahyba, Imprensa Official, [1909] 1910, p. 35-6, N.º 6.
29) Costa, José Israel da  -  Açúcares que fizeram os engenhos de Pernambuco, Ilha de Itamaracá e Paraíba - ano de 1623, in: Fontes para a História do Brasil Holandês. 1. A Economia Açucareira. Textos editados por José Antonio Gonsalves de Mello. Recife, Parque Histórico Nacional dos Guararapes - MEC/SPHAN - Fundação Pró-Memória, 1981, p. 31.
30) Coelho, Duarte de Albuquerque  -  Memórias Diárias da Guerra do Brasil. Duarte de Albuquerque Coelho 1630-1638. Prefácio de José Antônio Gonsalves de Mello. Recife, Prefeitura da Cidade do Recife – Secretaria de Educação e Cultura – Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1981, p. 227 (Coleção Recife, vol. XII).
31) Carpentier, Servaes  -  Relatório sobre a Capitania da Paraíba em 1635, pelo Sr. Dr. Servaes Carpentier, Conselheiro Político e Diretor da mesma Capitania, in: Fontes para a História do Brasil Holandês. 2. A Administração da Conquista. Textos editados por José Antonio Gonsalves de Mello. Recife, Minc – Secretaria da Cultura – 4ª Diretoria Regional da SPHAN – Fundação Nacional Pró-Memória, 1985, p. 49.
32) Maurits (Conde de Nassau-Siegen), Johan; Ceulen, Mathijs van & Dussen, Adriaen Jacobszoon van der  -  Breve discurso sobre o estado das quatro capitanias conquistadas de Pernambuco, Itamaracá, Paraíba e Rio Grande, situadas na parte setentrional do Brasil, in: Fontes para a História do Brasil Holandês. 1. A Economia Açucareira. Textos editados por José Antonio Gonsalves de Mello. Recife, Parque Histórico Nacional dos Guararapes - MEC/SPHAN – Fundação Pró-Memória, 1981, p. 94.
33) Livro Segundo do Governo do Brasil. Apresentação de Affonso de E[scragnolle]. Taunay, in: ANNAES DO MUSEU PAULISTA, t. III, 2.ª parte. São Paulo, “Diario Official” 1927, p. 152
34) Mello [Neto], José Antonio Gonsalves de  -  João Fernandes Vieira: Mestre de Campo do Têrço de Infantaria de Pernambuco. Recife, Universidade do Recife, Imprensa Oficial, 1956, v. II, p. 151, p. 204-7, p. 347 (nota 155), p. 362 (notas 11, 12 e 13), p. 363 (nota 21) (Tricentenário da Restauração Pernambucana, v. IX).
35) Livro Primeiro do Govêrno do Brasil: 1607-1633. Prefácio do Emb[aixador]. J[osé]. C[arlos]. de Macedo Soares. Rio de Janeiro, Ministério das Relações Exteriores - Secção de Publicações do Serviço de Documentação - Departamento de Imprensa Nacional, 1958, p. 254-5.
36) Primeira Visitação do Santo Officio ás partes do Brasil pelo Licenciado Heitor Frutado de Mendoça Capellão Fidalgo del Rei Nosso Senhor e do seu Desembargo, Deputado do Santo Officio - Denunciações da Bahia - 1591-1593.1.a ed.] Introducção de J[oão]. Capistrano [Honorio] de Abreu. São Paulo, Homenagem de Paulo [da Silva] Prado, 1925, p. 517 (Publicações da Serie Eduardo [Paulo da Silva] Prado: Para melhor conhecer o Brasil, v. 3).
37) Livro Primeiro do Govêrno do Brasil: 1607-1633. Prefácio do Emb[aixador]. J[osé]. C[arlos]. de Macedo Soares. Rio de Janeiro, Ministério das Relações Exteriores - Secção de Publicações do Serviço de Documentação, Departamento de Imprensa Nacional, 1958, p. 70-1.
38) Livro Primeiro do Govêrno do Brasil: 1607-1633. Prefácio do Emb[aixador]. J[osé]. C[arlos]. de Macedo Soares. Rio de Janeiro, Ministério das Relações Exteriores - Secção de Publicações do Serviço de Documentação, Departamento de Imprensa Nacional, 1958, p. 150-1.
39) Livro Primeiro do Govêrno do Brasil: 1607-1633. Prefácio do Emb[aixador]. J[osé]. C[arlos]. de Macedo Soares. Rio de Janeiro, Ministério das Relações Exteriores - Secção de Publicações do Serviço de Documentação, Departamento de Imprensa Nacional, 1958, p. 294-5.
40) Livro do Tombo do Mosteyro de Saó Bento da Parahyba, in: REVISTA DO ARQUIVO PÚBLICO. Recife, Estado de Pernambuco – Secretaria do Interior e Justiça, Imprensa Ofcial, 1947, ano II, número IV, 2.º semestre, p. 207-8.
41) Livro Primeiro do Govêrno do Brasil: 1607-1633. Prefácio do Emb[aixador]. J[osé]. C[arlos]. de Macedo Soares. Rio de Janeiro, Ministério das Relações Exteriores - Secção de Publicações do Serviço de Documentação, Departamento de Imprensa Nacional, 1958, p. 185.
42) Livro Primeiro do Govêrno do Brasil: 1607-1633. Prefácio do Emb[aixador]. J[osé]. C[arlos]. de Macedo Soares. Rio de Janeiro, Ministério das Relações Exteriores - Secção de Publicações do Serviço de Documentação, Departamento de Imprensa Nacioal, 1958, p. 422-5.
43) Coêlho Filho, Heronides Alves  -  Medicina, Doenças e Médicos nos Primeiros Anos da Paraíba, in: REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO PARAIBANO, NÚMERO 18. João Pessoa, Imprensa Universitária da Paraíba, 1971, p. 177-95.
44) Pinelo, Don Antonio de Leon  -  EPITOME DE LA BIBLIOTHECA ORIENTAL, Y OCCIDENTAL, NAUTICA, Y GEOGRAFICA, DE DON ANTONIO DE LEON PINELO, DEL CONSEJO DE SU MAG., EN LA CASA DA LA CONTRATACION DE SEVILLA, Y CORONISTA MAYOR DE LAS INDIAS; AÑADIDO, Y ENMENDADO NUEVAMENTE [por Don Andrés Gonzáles de Barcia Carballido y Zuñiga] EN QUE SE CONTIENEN LOS ESCRITORES DE GEOGRAFIA DE TODOS LOS REYNOS, Y SEÑORIOS DEL MUNDO, Y VIAJES DIVERSOS, Y SUS APENDICES. AL REY NUESTRO SEÑOR. POR MANO DE EL MARQUES DE TORRE-NUEVA. TOMO TERCERO. COM PRIVILEGIO: Em Madrid: En la Oficina de FRANCISCO MARTINEZ ABAD, em la Calle del Olivo Baxo. Año de M.D.CC.XXXVIII [1738], p. 1714..   
45) Pinelo, Don Antonio de Leon  -  EPITOME de la BIBLIOTECA Oriental i Occidental, Nautica i Geografica. Al Excelentifs Señor D. Ramiro Nuñez Perez Felipe de Guzman, Señor de la Cafa de Guzman, Duque de Medina de lãs Torres, Marques de Toral i Monasterio, Conde de Parmacoello i Valdorce, Comendador de Valdepeñas, Gran Canciller de las Indias, Teforero General de la Corona de Aragon, i Consejo de Italia, Capitan de los cien Hijodalgo de la guarda de la Real perfona i Sumiller de Corps. Por El Licenciado Antonio de Leon Relator del Supremo i Real Consejo de las Indias. Con Priuilegio. En Madrid, Por Iuan Gonzales. Año de M.DC.XXIX [1629].
46) Machado, Diogo Barbosa  -  BIBLIOTHECA LUSITANA Hiftorica, Critica, e Cronologica. NA QUAL SE COMPREHENDE A NOTICIA DOS AUTHORES Portuguezes, e das Obras, que compusrõ defde o tempo da promulgação da Ley da Graça até o tempo prezente. OFFERECIDA À AUGUSTA MAGESTADE DE D. JOAÕ V. NOSSO SENHOR POR DIOGO BARBOSA MACHADO Ulyffiponenfe Abbade da Parochial Igreja de Santo Adriaõ de Sever, e Academico do Numero da Academia Real. TOMO PRIMEIRO. LISBOA OCCIDENTAL, Na Officina de ANTONIO ISIDORO DA FONSECA. Anno de M. D. CC. XXXXI [1741], p. 512. Com todas as licenças neceffarias.
47) Primeira Visitação do Santo Officio ás partes do Brasil pelo Licenciado Heitor Furtado de Mendoça Capellão Fidalgo del Rey Nosso Senhor e do seu Desembargo, Deputado do Santo Officio - Denunciações de Pernambuco - 1593-1595. [1.ª ed.] Introdução [, notas e índice onomástico] por Rodolpho [Augusto de Amorim] Garcia. São Paulo, Homenagem de Paulo [da Silva Prado, 1929, p. 40 (Publicações da Serie Eduardo [Paulo da Silva] Prado: Para melhor conhecer o Brasil, v. 5)    
48) Ramos, Eladio dos Santos  -  A autoria dos diálogo das grandezas do Brasil, in: REVISTA DO INSTITUTO ARQUEOLÓGICO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO PERNAMBUCANO, VL. XL, 1945. Pernambuco, Imprensa Oficial, 1946, p. 20-45.
49) DIALOGO DAS GRANDEZAS DO BRASIL, INTERLOCUTORES BRANDONIO E ALVIANO. DIALOGO PRIMEIRO, in: IRIS. PERIODICO DE RELIGIÃO, BELLAS-ARTES, SCIENCIA, LETTRAS, HISTORIA, POESIA, ROMANCE, NOTICIAS E VARIEDADES. COLLABORADO POR MUITOS HOMENS DE LETTRAS. REDIGIDO POR JOSÉ FELICIANO DE CASTILHO BARRETO E NORONHA. VOLUME II. ANNO 1849. RIO DE JANEIRO, TYPOGRAPHIA DE L. A. FERREIRA DE MENEZES, p. 107-12, p. 177-83, p. 218-25, p. 253-57.
50) Rodrigues, José Honório  -  Teoria da História do Brasil. Introdução Metodológica. 5.ª edição. Acrescida de um Posfácio. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1978, p. 397 (Série Brasiliana - Grande Formato, volume 11).
51) Rodrigues, José Honório  -  História da História do Brasil. 1.ª  Parte Historiografia Colonial. 2.ª edição. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1979, p. 372-3 (Série Brasiliana - Grande Formato, volume 21).
52) Sumario das armadas que se fizeraõ, e guerras que se deraõ, na Comquista do Rio Parahiba, escripto e feito por mandado do m.to [muito] R.do [Reverendo] P.e [Padre] em xp.to [Cristo] o p.e xptouaõ [Cristóvão] de gouuea Visitador da Companhia de Jesus de toda a prouinçia do Brazil [Apógrafo seiscentista (algo mais tardio que o anterior) do Arquivo Distrital e Biblioteca de Évora, cód. CXVI/1-25].
53) Varnhagen (então futuro Visconde de Porto Seguro), Francisco Adolpho de  -  REFLEXÕES CRITICAS SOBRE O ESCRIPTO DO SECULO XIV [sic, leia-se XVI] IMPRESSO COM O TITULO DE NOTICIA DO BRASIL NoTomo 3.º da Collecção de Not. Ultr. Acompanhadas de interessantes noticias bibliográficas e importantes investigações históricas POR FRANCISCO ADOLFO DE VARNHAGEN SOCIO CORRESPODENTE DA [REAL] ACADEMIA [DAS SCIENCIAS DE LISBOA]. LISBOA. NA TYPOGRAFIA DA MESMA ACADEMIA, 1839, p. 98-100 (OBSERVAÇÃO F).
54) DIALOGOS DAS GRANDEZAS DO BRAZIL, in: JORNAL DO RECIFE (quarta-feira, 2 de Janeiro de 1878) p. 2; (quinta-feira, 3 de Janeiro de 1878) p. 1; (sexta-feira, 11 de Janeiro de 1878) p. 2; (sábado, 12 de Janeiro de 1878) p. 1; (segunda-feira, 14 de Janeiro de 1878) p. 2; (terça-feira, 29 de Janeiro de 1878) p. 1; (quarta-feira, 30 de Janeiro de 1878) p. 2; (quinta-feira, 31 de Janeiro de 1878) p. 2 (terça-feira, 5 de Fevereiro de 1878) p. 1; (quarta-feira, 13 de Fevereiro de 1878) p. 1; (segunda-feira, 18 de Fevereiro de 1878) p. 2; (segunda-feira, 1 de Abril de 1878) p. 1; (sexta-feira, 5 de Abril de 1878) p. 2; (sexta-feira, 26 de Abril de 1878) p. 2; (quinta-feira, 2 de Maio de 1878) p. 1.
55) DIALOGOS DAS GRANDEZAS DO BRAZIL, in: REVISTA DO INSTITUTO ARCHEOLOGICO E GEOGRAPHICO PERNAMBUCANO, 1883, tomo IV, n. 28, p. 3-50 (Dialogo Primeiro); 1886, tomo V, n. 31, p. 352-87 (Dialogo Segundo); 1887, tomo V, n. 32, p. 3-71 (Dialogo Terceiro e Dialogo Quarto); 1887, tomo V, n. 33, p. 83-146 (Dialogo Quinto e Dialogo Sexto).
56) DIALOGOS DAS GRANDEZAS DO BRASIL. in: DIARIO OFFICIAL. REPUBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL. Rio de Janeiro, 10, 13, 14, 15, 16, 19, 24 e 27 de Fevereiro de 1900; 5, 12 e 14 de Março de 1900.
57) Lins, Guilherme Gomes da Silveira d’Avila  -  Rodolpho Garcia, o Gigante do Ceará-Mirim. Uma contribuição biobibliográfica. 2.ª Edição Revista e Ampliada. João Pessoa, A UNIÃO Superintendência de Imprensa e Editora, 2001.
58) Costa, F[rancisco]. A[ugusto]. Pereira da  -  Anais Pernambucanos 1591-1634. Recife, Secretaria do Interior e Justiça - Arquivo Público Estadual, 1952, Vol. II, p. 548. 
59) Costa, F[rancisco]. A[ugusto]. Pereira da   -  Anais Pernambucano 1740-1794. Recife, Secretaria do Interior e Justiça - Arquivo Público Estadual, 1954, Vol. VI, p. 449.
60) Dialogos das Grandezas do Brasil. Pela primeira vez tirados em livro com introducção de Capistrano de Abreu e notas de Rodolpho Garcia. Nota preliminar de A[franio]. P[eixoto]. Aditamento de R[odolpho]. G[arcia]. Rio de Janeiro, Officina Industrial Graphica, 1930, [Introducção] p. 7-8.
61) Dialogos das Grandezas do Brasil. Pela primeira vez tirados em livro com introducção de Capistrano de Abreu e notas de Rodolpho Garcia. Nota preliminar de A[franio]. P[eixoto]. Aditamento de R[odolpho]. G[arcia]. Rio de Janeiro, Officina Industrial Graphica, 1930, [Dialogo Primeiro] p. 23.
62) Dialogo das Grandezas do Brasil. Pela primeira vez tirados em livro com introducção de Capistrano de Abreu e notas de Rodolpho Garcia. Nota preliminar de A[franio]. P[eixoto]. Aditamento de R[odolpho]. G[arcia]. Rio de Janeiro, Officina Industrial Graphica, 1930, [Dialogo Segundo] p. 79.
63) Dialogo das Grandezas do Brasil. Pela primeira vez tirados em livro com introducção de Capistrano de Abreu e notas de Rodolpho Garcia. Nota preliminar de A[franio]. P[eixoto]. Aditamento de R[odolpho]. G[arcia]. Rio de Janeiro, Officina Industrial Graphica, 1930, [Dialogo Quarto] p. 173.


*Por diversas razões, donde provêm as diferenças aqui encontradas, decorrentes de pontos de vista distintos, de um modo geral sigo aqui as regras da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) porém não ipsis verbis até porque elas constituem apenas regras que nem sempre são boas e inclusive costumam mudar ao longo do tempo, seja para melhor, seja para pior. Quero crer que, afinal, nada aqui ficou ininteligível ou insuficiente e tudo se revelou aí até mais autêntico, informativo e respeitoso para com as identidades explicitadas. A propósito, não aceito tracejamento longo para substituir os nomes próprios dos verbetes precedentes. Isto é uma criação semiótica abstrusa e descabida.