Sunday, March 14, 2010

EU, EM MALTÊS, NO TIME M.U.L.H.E.R.E.S. (?!)...


Sem jamais haver adentrado nenhum estádio ou campo de futebol para assistir a qualquer partida de balípodo ou ludopédio, "sou", no entanto, fogoso e baita goleador num time virtual do HATTRICK — campeonato mundial no qual nem mesmo me inscrevi... ;-)))


Evandro da Nóbrega
ESCRITOR, JORNALISTA, EDITOR
druzz.tjpb@gmail.com


Este material é também gentilmente reproduzido pelos seguintes URLs:

- Blog Cultural EL THEATRO, de Elpídio Navarro:
www.eltheatro.com


- Portal PS OnLine, de Paulo Santos:
www.psonlinebr.com


- Portal Literário RECANTO DAS LETRAS:
http://recantodasletras.uol.com.br/autores/druzz


- Portal do Jornal A União On Line:


- Blog DRUZZ ON LINE, de Evandro da Nóbrega:
http://druzz.blogspot.com


Vocês não vão acreditar — mas contarei assim mesmo. Quer dizer, alguns dos leitores vão achar que estou de brincadeira ou gozação. No entanto, a coisa aconteceu (está acontecendo!) e não posso faltar à verdade.

Para escrever aquelas duas páginas em A União sobre o Dia Internacional da Mulher (versões 2010 e 2011), precisei recorrer a artigos por mim mesmo escritos anteriormente sobre temas correlatos. De modo que fui ao Google e coloquei as palavras-chave, assim, entre aspas: "Evandro da Nóbrega" OR "Evandro Nóbrega" OR "Evandro Nobrega" +mulheres.

Dei o tradicional enter e surgiram 217 resultados. "Tantos assim?" — surpreendi-me, mesmo sabendo já haver escrito centenas de textos com referências a mulheres (tema sempre palpitante!). Desses resultados, dois me espantaram sobremaneira. E eles talvez deixem também Vocês de cabelo em pé. Mas, por favor, não estranhem em demasia as palavras abstrusas a seguir, que logo virá a tradução/explicação. Dizia um dos textos vindos pelo Google: "Fluminense.fc - MULHERES » Hattrick - 7 mar. 7 Dic. 2009. Il-partita kienet ilha graddejja 81 minuta meta Evandro da Nóbrega irnexxielu jgraddi minn fuq il-lemin u kabbar il-vantag.g. ta' MULHERES." O outro bendito texto nos informava que "MULHERES - FlaBahia » Hattrick 14 Dic. 2009. Is-sapporters ta' MULHERES qamu minn posthom hekk kif Evandro da Nóbrega qabez. z.ewg. plejers mal-linja xellugija".

— Que danado é isto, envolvendo logo meu santo nome em vão? — perguntei-me atônito, como devem estar Vocês também se perguntando. Bem, aprendi dérna mininim que tudo no começo é difícil — depois vai ficando mais fácil. Analisei palavra por palavra os dois textos incompreensíveis (depois viriam outros!) e intuí tratar-se da língua maltesa. Vale dizer, o maltês, idioma falado na ilha (melhor, arquipélago) de Malta, ali no Mediterrâneo, abaixo da "bola" que é a ilha maior da Sicília, bem ao lado da "bota" italiana.

Mas o que cargas d’água andava fazendo meu obscuro nome em sites escritos no, ehr, belo idioma de Malta?! Para alguma coisa me serviu o conhecimento superficialíssimo desta língua, adquirido quando de minha primeira estada em Nova York, onde comprei dois livros de Joseph Aquilina: a) Teach yourself Maltese ["Aprenda maltês", Londres, 1970] e b) The structure of Maltese: A Study in Mixed Grammar and Vocabulary ["A estrutura da língua maltesa: Estudo conjunto da gramática e do vocabulário", Real Universidade de Malta, Valetta, 1959]. Valetta, madame, vem a ser a capital de Malta. Hen? Como? Não, não! Não é Malta do Sertão paraibano, não! É o já citado arquipélago mediterrâneo!

Desencavei de minha desorganizada biblioteca os dois livrins do Dr. Aquilina e danei-me a tentar traduzir o que de bem ou de mal estavam dizendo de mim (em maltês!), esses sites malteses. Um dos tais sites é apresentado na ilustração maior desta página [acima, ao lado], para que o leitor tenha uma idéia da algaravia em que meus prenome e sobrenome se achavam e acham envolvidos.

Milhares de jogadores e usuários em 50 línguas e 124 países

Como Vocês talvez não desconheçam, a língua maltesa não passa dum dialeto árabe. É, assim, idioma semítico — mas com fortíssima influência italiana.

Lendo com dificuldade o texto maltês acima, vi novamente que a realidade, especialmente na Net, é mais inesperada que qualquer ficção: por essas maltesas páginas, sou... um jogador, um atleta do time de futebol paulista M.U.L.H.E.R.E.S. Atuo como grande craque, ajudando meu time a dar goleadas de até 10 a zero! Mas esse time de futebol onde exerço minhas inesperadas habilidades de goleador NÃO é um time de verdade. É um time virtual... Integra vasto universo de milhares de times assim, os quais, por sua vez, constituem imenso campeonato mundial liderado pelo programa de computador denominado HATTRICK!

Morrendo e aprendendo... Embora minha vida de há muito venha sendo mais internética que real, nunca ouvira falar nesse tal de Hattrick. Então, imagino o seguinte. Como nunca adentrei estádio ou campo de futebol, nem como torcedor (quanto mais como jogador!); e como muito menos me inscrevi para participar do jogo virtual Hattrick, das duas três: ou existe mesmo um sujeito chamado "Evandro da Nóbrega" que nele se inscreveu com seu time on line — ou alguém simplesmente catou meu nome na Web e batizou um de seus jogadores virtuais com minha humílima graça. Alguém dirá: "Vá lá, reclame, faça valer seus direitos, mande tirar seu nome de tal coisa!". Não, não vou fazer isto. Deixem meu obscuro apelido ficar lá, no inocente jogo Hattrick. Jogo, aliás, de que participam, pasmem, centenas de milhares de usuários da Net! [Ver quadro abaixo].

Lembraram-se do... Falcão maltês? Tirem o cavalinho da chuva: com material tão chifrim, nem o Dashiell Hammett, nem o John Huston, se vivos fossem, poderiam obrar respectivamente outro belo romance e outro baita filme sobre um... Druzz maltês...

São... ligeiramente exageradas as notícias de que bato um bolão no jogo virtual Hattrick...

Depois de forçar a cuca com esses textos em maltês, descobri que poderia me ter poupado de tanto esforço: as noticias sobre partidas jogadas no Hattrick saem nas 50 línguas de seus próprios sites...

Esse jogo virtual gratuito e de estratégia, o Hattrick, foi criado por Björn Holmér em 1997. Começou numa só língua (sueco), com 16 times. Hoje, há até versões pagas e para celulares, com mais recursos. Os times virtuais do Hattrick — primeiro jogo de futebol on line do Mundo — são como times comuns: têm 11 jogadores e até reservas. Qualquer usuário da Net pode criar seu clube, montar o time e disputar partidas com centenas de milhares de usuários Mundo afora. Em 8 de março de 2010, por exemplo, estavam on line, jogando, às 11h20 GMT, nada menos que 22 mil 950 pessoas, residentes em 2 mil 521 regiões de 124 países!

O site do Hattrick fecha todas as noites às 0h30 para se atualizar. Quando reabre, na manhã seguinte, já traz o resultado das partidas do dia anterior. Dispõe o jogo virtual do informativo Hattrick News, enviado por e-mail aos interessados. Tratando-se de projeto voltado para a comunidade internacional, não é raro destinar parte dos lucros a atividades assistenciais. Atualmente, os usuários ativos chegam a 876 mil 296, tendo-se realizado, somente na semana passada, quase 1 milhão 100 mil partidas! A proprietária e administradora do jogo Hattrick — desenvolvido pela empresa Extralives AB — é a companhia Hattrick Limited, gerenciada pelo sueco Johan Gustafson. O time brasileiro (paulista) M.U.L.H.E.R.E.S. (paradoxalmente não formado por... mulheres!), de que participa o "famoso" artilheiro "Evandro da Nóbrega" já goleou vários times, inclusive o Askove, por 10 a 0; e ganhou do "Fluminense.fc" pelo escore de 6 a 0.

Traduzindo-se trecho da partida Askove versus M.U.L.H.E.R.E.S., vê-se que, "[...] jogando no esquema 3-5-2, [...] aos 4 minutos de jogo [Askove versus M.U.L.H.E.R.E.S.], caiu um balde d’água fria na torcida da casa, que se calou quando o jogador do time M.U.L.H.E.R.E.S., Evandro da Nóbrega, abriu vantagem para os visitantes (0 a 1), depois de bela jogada pela direita". E, mais adiante: "Um passe pela direita acabou tendo seu melhor final nos pés do jogador Evandro da Nóbrega: ele não se fez de rogado e mandou a bola para o gol, aos 49 minutos, aumentando o placar para 0 a 6."...

Como meus seis leitores, a esta altura, já estão... craques em... maltês, reproduzo a descrição original de como "eu", o artilheiro, ajudei a bater o "Fluminense.fc" também por 6 a 0: "Il-partita kienet ilha ghaddejja 81 minuta meta Evandro da Nóbrega irnexxielu jghaddi minn fuq il-lemin u kabbar il-vantagg ta' M.U.L.H.E.R.E.S. ghal 0-6, fost id-disperament tas-sapporters lokali"...

;-)))

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Sunday, March 07, 2010

DESMISTIFICANDO LENDAS SOBRE O DIA DA MULHER


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Versão reduzida deste artigo foi originalmente publicada pelo jornal A União, de João Pessoa (PB), edição de 7 de março de 2009. Este material é também gentilmente reproduzido pelos seguintes URLs:


- Blog Cultural EL THEATRO, de Elpídio Navarro:
www.eltheatro.com


- Portal PS OnLine, de Paulo Santos:
www.psonlinebr.com


- Portal Literário RECANTO DAS LETRAS:
http://recantodasletras.uol.com.br/autores/druzz


- Portal do Jornal A União On Line:
www.auniao.pb.gov.br


- Blog DRUZZ ON LINE, de Evandro da Nóbrega:
http://druzz.blogspot.com


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O Dia Internacional da Mulher surgiu inicialmente nos EUA, como Dia Nacional, passou-se depois à antiga URSS e viu-se oficialmente adotado pela ONU em 1975


Evandro da Nóbrega
ESCRITOR, JORNALISTA, EDITOR
http://druzz.blogspot.com

Druzz.tjpb@gmail.com



Além da página especial que elaboramos para o caderno de A União sobre o Dia Internacional da Mulher, neste 8 de março de 2010, aproveitamos a deixa e preparamos, para o dia 7, véspera da efeméride, esta outra pequena contribuição ao estudo dos Direitos Femininos.


E, aqui, já vamos antecipando o que deverá ser, em 2011, essa data voltada para o belo sexo (e bota belo nisto!).


Mas, por que 2011?! Esclareçamos.


DIA VAI COMEMORAR CEM ANOS EM 2011

Decepcionadas com a pouca repercussão do Dia Internacional da Mulher em 2008, organizações femininas de várias partes do Mundo decidiram mobilizar-se com maior afinco para que, nos anos de 2009 e de 2010, pudessem ser realizadas comemorações mais compatíveis com a importância da data.


O esforço maior, no entanto, concentra-se nos eventos e festividades destinados a comemorar, com grande impacto, em 2011 (isto é, no ano que vem), a passagem dos 100 anos da data singular.


Sim, porque o Dia Internacional da Mulher foi comemorado por vez primeira no ano de 1911.


O que havia antes eram comemorações nacionais, algo isoladas, em território dos EUA. O Dia propriamente dito surgiu como resultado dos esforços de ativistas americanas de inícios do século XX.


O PAPEL HISTÓRICO DAS SUFFRAGETTES

Entre essas, sobressaíam as suffragettes — as mulheres que lutavam pelo direito ao voto, que lhes era negado em praticamente toda parte.


A saga das sufragistas iniciara-se na França de fins do século XIX, tendo-se passado primeiro à Inglaterra (a despeito de toda a perseguição da Coroa) e, depois, aos EUA. Bela e trepidante história de sacríficios, determinação e persistência.


Em 1909, o Partido Socialista da América promoveu o primeiro Dia Nacional da Mulher, com grandes comícios, marchas e protestos em praticamente todo o território americano.


Foi dessa forma que o Dia (Nacional) da Mulher veio sendo comemorado até 1913.


COMO O DIA SE INTERNACIONALIZOU

No ano de 1910, inspirado pelas comemorações que já ocorriam esporadicamente nos EUA e, principalmente, por sugestão da ativista alemã Clara Zetkin, o Congresso Internacional Socialista decidiu criar uma versão internacional do dia dedicado às mulheres.


A comemoração dos primeiros Dias Internacionais da Mulher partiram, inicialmente, de agrupamentos socialistas e, depois, de mulheres idealistas e bem intencionadas pertencentes aos quadros do antigo bolchevismo soviético, quando esse ainda representava uma esperança para a Humanidade.


Depois, a idéia de se comemorar tal dia ganharia o Mundo, com a chancela de vários países, inclusive da ONU (Organização das Nações Unidas) — responsável pelo estabelecimento e patrocínio, em 1975, do dia 8 de março como a data oficial dessas comemorações.


Passados os tempos dos exageros e atitudes radicais — como a queima de sutiãs e quebra de batons nas ruas —, os movimentos pelos direitos femininos alcançaram, nos dias de hoje, um alto nível de formulações teórico-históricas e, da mesma forma, um maior poder de organização e de mobilização.


UM INCÊNDIO PAVOROSO

O ano de 1911 foi tomado como marco para a comemoração do centenário do Dia Internacional da Mulher em 2011 pelo seguinte.


Em 19 de março desse ano de 1911, mais de um milhão de pessoas comemoraram a data, em diversos países europeus (Alemanha, Suíça, Áustria, Dinamarca et alia), imitando o que já se fazia, em termos nacionais, nos EUA.

Mas, nesse mesmo ano, algo de profundamente doloroso ocorreria, vitimando principalmente mulheres.


Vamos contar em detalhes.


A marcha das europeias comemorando o dia dos Direitos Feminis ocorreu, como se viu, a 19 de março de 1911. Pois bem, no dia 25 seguinte, em Nova York, aconteceu um dos maiores desastres da História industrial dos EUA: irrompeu pavoroso incêndio na fábrica de artigos de vestuário Triangle Shirtwaist.


No sinistro, morreram 146 mulheres. Eram costureiras e outras trabalhadoras na indústria de tecidos e roupas.


O episódio serviu para mostrar as deficiências em termos de segurança em fábricas como essa. A indústria em geral, aliás, não atendia às especificações de segurança para seus funcionários, ao contrário do que exigiam os sindicatos.


Como resultado disto, a maioria das trabalhadoras morreu queimada; as demais, pulando, em desespero, de altas janelas para a rua. E o mega-incêndio fez com que evoluíssem as normas de segurança no trabalho, não apenas em Nova York, mas em todo o território americano.


NUM MUNDO FEITO PELOS HOMENS

O ano de 1911 foi também aquele em que apareceu a primeira edição de uma obra seminal para as feministas, The Man-Made World; or, Our Androcentric Culture [algo como "O Mundo Feito pelo Homem; ou Nossa Cultura Androcêntrica, quer dizer, centrada no Homem].


Mais fatos de relevo ocorreram no ano de 1911. Foi quando nasceu Charlotte E. Ray (1850-1911), a primeira afro-americana a se formar em Direito nos EUA.


OUTROS MARCOS DE 1911

Outra figura de destaque no campo dos Direitos Femininos, Mahalia Jackson, falecida em 1972, também nasceu em 1911, na terra do Tio Sam. Vocês devem estar lembrados dela: dona de belíssima voz, foi uma das maiores cantoras de gospel de todos os tempos — e, na posse de John Kennedy como presidente dos EUA, foi ela quem cantou o hino The Star Spangled Banner em cadeia nacional e internacional.


O ano de 1911 igualmente marca, na História americana, a época em que o Estado da Califórnia passou a aceitar o voto feminino nas eleições em geral.

Em 8 de março de 1913, mulheres de várias partes da Europa marcharam em favor da paz, tendo em vista os preparativos para uma guerra que se tornaria mundial.


Nos EUA, a antiga Semana Nacional da Mulher passou a ser de há muito o Mês Nacional da Mulher, com a realização de grande número de seminários nos diversos Estados.


OPRESSÃO POLÍTICO-RELIGIOSA

Nas últimas décadas, a Imprensa ocidental tem dado ênfase à mui problemática situação das mulheres no Oriente Médio, às da imensa parte miserável da África e, com crescentes críticas, às mulheres em nações sob regime teocrático e/ou ditatorial.


Em 2007, a polícia do Irã espancou e prendeu, em Teerã, centenas de mulheres que participavam de atos feministas.


APRENDA SOBRE AS “LENDAS URBANAS” E

OUTRAS BESTEIRAS SOBRE O DIA DA MULHER


Mas, também com relação ao Dia Internacional da Mulher, há "lendas urbanas" a desfazer.


Por exemplo: é repetida à exaustão aquela estória de que, a 8 de março de 1857, teria havido em Nova York um protesto de operárias de fábricas têxteis e de confecções contra as más condições de trabalho e os baixos salários na indústria de artigos de vestuário.


Tal protesto teria sido duramente reprimido pela polícia, com operárias mortas e feridas — provocando adicionalmente, 15 anos depois (em 1907, portanto), uma comemoração, nessa mesma data, surgindo daí a idéia de se tornar o dia 3 de março o Dia da Mulher.


Inexistem documentos históricos que comprovem os eventos alegados. Trata-se, aparentemente, de mais uma "lenda urbana" para reforçar o background de um movimento já por si só legítimo, que não precisaria de uma mentira como base.

A estória apócrifa teria surgido na Europa, segundo algumas historiadoras, com o objetivo de retirar da Rússia pré-revolucionária e, quem sabe, da antiga URSS, a origem de tais comemorações, dando-lhe caráter mais internacionalizado.


ALEKSANDRA KOLLONTAI, OUTRA GUERREIRA

Mas a César o que é de César: logo depois da Revolução de 1917, a feminista bolchevique Aleksandra (Alexandra) Kollontai, autora de livros sobre a emancipação feminina, convenceu Lênin a instituir um Dia da Mulher.


Em muitos países, o Dia Internacional da Mulher é um feriado nacional — isto é, não se trabalha. Mas nem sempre foi assim. Na antiga URSS, por exemplo, a data veio sendo comemorada como um dia comum de trabalho (não um feriado) até 1965.


E, em 8 de maio de 1865, a então URSS decretou que, doravante, o Dia Internacional da Mulher passaria a ser um feriado oficial em todo o território soviético.


Finalmente, em 1975, a ONU (Organização das Nações Unidas) oficializa o 8 de março como Dia Internacional da Mulher.


A BASE MAIS GERAL DA AÇÃO

Basicamente, acreditam os movimentos femininos — com apoio de muitas entidades masculinas (isto é, não diretamente ligadas aos movimentos feministas) — que todos os seres humanos devem ter iguais oportunidades de uma vida plena e sustentável, independentemente de gênero. E estão igualmente persuadidos de que, ao lado das mulheres, os próprios homens têm muito a ganhar com as conquistas femininas.


Na maioria dos países (como se faz, novamente nesta semana, no próprio jornal A União), a Imprensa internacional, inclusive revistas, procura dar grande destaque aos temas femininos.


Vê-se, por exemplo, na mídia americana, vasta reportagem em que 100 "homens de cor" (negros, afro-americanos) protestam contra abusos ainda observáveis nos EUA contra o elemento feminino, particularmente as imigrantes.


UM MOVIMENTO REALMENTE IMPORTANTE

Marxistas, ortodoxos ou não, sempre sustentaram: movi­men­tos em prol da libertação da mulher não podem estar separados da luta mais geral para a consecução do socialismo.


Como se dissessem: de que adianta as mulheres se tornarem "iguais" aos homens, dentro dos quadros vigentes, se o próprio homem já é escravo do capitalismo?

Mas não se pode negar a importância dos movimentos femininos (com seu período feminista radical) para a evolução geral da Humanidade — mesmo que Você tenha sorrido com a boutade de Millôr Fernandes sobre o movimento que ele mais apreciava nas mulheres: o dos quadris.


De outra parte, ainda hoje, inacreditavelmente, existem mulheres mais... machistas que muitos homens. Apenas seguem antiga tradição, representada maiusculamente pela rainha Vitória, da Inglaterra, que considerava a onda em favor dos direitos femininos (surgido inicialmente na França e então “ameaçando” o Reino Unido) como uma “loucura furiosa e má intencionada”.


NA FRANÇA, OS PRIMÓRDIOS DA LUTA

A complexa História dos Direitos da Mulher inicia-se, para efeitos didáticos, na França dos anos de 1880, depois de uma manifestação isolada quando da Revolução Francesa.


Na década de 1890, o féminisme chegava à Inglaterra e, nos anos de 1910, aos EUA. As “protofeministas” ensaiavam seus primeiros passos, sem imaginarem que, mais de 100 anos depois, uma cineasta (Sophia Cop­pola) se tornaria a primeira mulher (americana) a receber o Oscar de “melhor diretor”.


Foi trajetória até mesmo sangrenta, com sufragettes lutando pelo direito ao voto feminino: suicídios na rua, prisões, pancadarias, muita literatura (de boa ou má qualidade), antes de chegarmos, modernamente, às sessões públicas de queima de sutiãs e batons, às acerbas discussões sobre aborto, ao respeito às lésbicas e à codificação dos princípios feministas por competentes filósofas (e filósofos, pois não).


Dispõe o Brasil — especialmente a partir da década de 1970 — de considerável número de teóricas e teóricos dos movimentos femininos, sem esquecer os bem elaborados estudos acadêmicos, saídos sob a forma de livros, artigos de jornais e periódicos, programas de TV, ensaios sociológicos, políticos e tudo o mais.


TRÊS MOMENTOS SIGNIFICATIVOS

O Dia Internacional da Mulher, que veio sendo comemorado em datas diferentes por diversos países, terminou sendo fixado, em 1975, pela própria ONU: 8 de março.


A moderna História do Feminismo dividiu-se em pelo menos três grandes momentos:


a) até inícios do século XX, com as exigências do sufragismo, isto é, a luta pelo direito do voto feminino;


b) as décadas de 1960 a 1980, centradas em mudanças na legislação machista e em que pontificou Betty Friedan, entre outras célebres feministas; e


c) a atual “onda”, a partir dos anos de 1990, com a (auto)crítica aos erros do radicalismo ou dos exageros do período anterior; ações mais concretas e menos espetaculares; e maior atenção ao estudo da situação global da mulher, numa espécie de chegada à “idade da razão” — a exigir eficácia de atua­ção multi e interdisciplinar, não em determinados países, mas no Mundo como um todo.


UMA MULHER À FRENTE DA UNESCO

A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) já se notabilizava, ao lado do PNUD, OEA e UNICEF, como defensora dos direitos femininos. O que dizer agora que uma mulher foi eleita diretora-geral da importante agência da ONU?


De fato, Irina Bokova, 58 anos, é a primeira mulher (e a primeira pessoa do Leste europeu) a ocupar o posto, até há pouco em mãos do japonês Koïchiro Matsuura. Ela foi primeiramente eleita em setembro do ano passado e teve seu nome ratificado em outubro seguinte pela assembléia-geral do órgão, que reúne representantes das 193 nações associadas.


Logo depois da eleição, Bokova [www.irinabokova.com] declarou que sua vitória sinalizava importante marco na evolução da luta pela igualdade dos sexos — e que, a partir de agora, a UNESCO se tornará ainda mais eficaz, mais democrática, mais forte.


LUTANDO CONTRA OS ANTISSEMITAS

Mas não foi tão fácil a escolha dessa conhecida batalhadora socialista pelos direitos humanos e pelos direitos da mulher: ela venceu quase 20 concorrentes e apenas saiu vitoriosa no quinto turno, disputando amistosamente o cargo com o ministro da Cultura egípcio Faruk Hosni.


Este foi derrotado, por 31x27 votos, em virtude de suas declarações consideradas antissemitas, conforme denúncias de Elie Wiesel, Prêmio Nobel da Paz.


Também a Imprensa egípcia, que sempre se refugia no discurso irracional, chegou a dizer que a eleição de Irina configurara o resultado de mais um lobby ou “complô sionista" a aprofundar o choque de civilizações (entre o Ocidente, os muçulmanos e os países em desenvolvimento). Quem, senão alguns radicais árabes (falsamente se apresentando como religiosos muçulmanos!), aguenta mais esta conversa de “complô dos judeus para dominarem o Mundo”?!


ATUAÇÃO DE BOKOVA DESMENTE INVENCIONICES

A atuação de Bokova à frente do órgão, no entanto, vem desmentindo as falsas previsões de que atuaria com parcialidade em favor dos judeus.


Ex-comunista, atualmente socialista e figura popular tanto em sua natal Bulgária quanto noutros países da União Europeia, a reconhecida europeísta estudou Relações Exteriores na antiga URSS e se especializou nos EUA (notadamente nas Universidades de Maryland e Harvard, onde também cursou Economia).


Retornando à Bulgária, nos anos de 1990, foi por duas vezes eleita deputada e concorreu à vice-presidência pelo Partido Socialista, sendo depois seguidamente nomeada embaixadora na França, em Mônaco e na UNESCO (desde 2005).


Mulher superpreparada, ela, além de búlgaro, fala corretamente russo, inglês, francês e espanhol.


ALGUNS DOCUMENTOS ESSENCIAIS

Documentos básicos a serem estudados por quantos se interessem pelos direitos femininos:


1) Declaração dos Direitos Humanos (ONU, 1948);


2) Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, de 1979 e ratificada pelo Brasil em 1984;


3) a Declaração sobre a Eliminação da Violência contra a Mulher (ONU, 1993);


4) Convenção Interameri­cana para Prevenir, Punir e Erra­dicar a Violência contra a Mulher [Convenção de Belém do Pará, OEA, 1994], ratificada por nosso país em 1995;


5) a Constituição Brasileira de 1988;


6) os textos principais da Conferência Mundial de Direitos Humanos, realizada em Viena no ano de 1993 (especialmente a Declaração e Programa de Ação de Viena);


7) a Declaração e Plataforma de Ação de Pequim (1995);


8) o Estatuto da Criança e do Adolescente; e, entre outros itens da legislação acessória,


9) a Lei Maria da Penha.


Pelo texto vienense, “os Direitos Humanos das mulheres e das meninas são inalienáveis e constituem parte integral e indivisível dos Direitos Humanos universais". Muita coisa já se conseguiu, em termos de coibir discriminações e abusos — mas muito ainda falta obter. Veja-se, por exemplo, o caso das mocinhas das periferias obrigadas a vender o corpo para sobreviver. Ou a discrepância salarial entre homens e mulheres, nota­damente as negras.


O PROBLEMA NÚMERO UM DO MUNDO

Com o que voltamos à cons­tatação de que o maior problema do Planeta ainda é a miséria, com seu séquito de mazelas (fome, desnutrição, prostituição, drogas, violência et caterva).


E isto quando se sabe, pelos cálculos da própria ONU, que a miséria — incluída a maior de todas, a da miserabi­lissima África — estaria debelada em cinco anos se os países mais ricos doassem apenas 0,3% de seu PIB a um fundo antipobreza absoluta.


Os textos fundacionais dos Direitos Humanos de início não incluíam os direitos das mulheres. Mas, nas últimas décadas, especialmente dos anos de 1960 para cá, muita coisa tem mudado para melhor. No Leste europeu, por exemplo, as mulheres já predominam na área jurídica/judiciária.


CLITORECTOMIA, LAPIDAÇÃO, ENFORCAMENTOS

Há avanços também nos Terceiro e Quarto Mundos — embora ainda persistam práticas horrendas como a escari­ficação dos órgãos genitais de crianças (ou clitorec­tomia, mutilação para que, na adultez, não haja chance de prazer sexual); a lapidação (morte a pedradas) de mulheres em vários países; o assassinato “para lavar a honra do marido” e por aí vai.


Há sinais de outros avanços, como no Irã — país que, entre outras práticas bárbaras e, pour cause, altamente condenáveis, ainda enforca meninos homossexuais. Lá, na antiga Pérsia, democratas se têm unido às mulheres na tentativa de modernizar o país, quem sabe derrubando o medieval regime teocrático dos aiatolás.


MÁQUINA DE LAVAR & LIBERAÇÃO FEMININA...

No ano passado, L’Osservatore Romano [= “O Observador de Roma”], jornal oficial do Vaticano e como a Santa Sé contrário à pílula anticonceptiva e a outros itens do ideário feminista, provocou a ira das ativistas italianas ao divulgar artigo intitulado “Máquina de lavar e Liberação da Mulher”.


Sustentava — como uma pesquisa canadense no mesmo sentido — que a tal máquina fez mais pela libertação feminina que o aborto, a pílula e outras práticas associadas ao Dia da Mulher.


E HÁ UM... DIA INTERNACIONAL DO HOMEM!

Esta é para quem vive reclamando que deveria também haver um Dia Internacional do Homem.


Já existe, de fato, esta data, desde 1999, embora a movimentação em torno da idéia remonte à década de 1960. Só que é festa antissexista e comemorada a 19 de novembro por entidades de pais e filhos em pequeno grupo de países.


Entre esses países estão Trinidad e Tobago (onde a coisa começou), Jamaica, EUA, Reino Unido, Canadá, Índia, Austrália, Singapura, África do Sul, Malta, Irlanda, Hungria, Gana, Quênia, Noruega, Tanzânia, Alemanha e até em certos círculos do Brasil — com apoio da ONU.


Em nada quer-se contrapor ao Dia Internacional da Mulher: procura apenas destacar aspectos relacionados à saúde dos homens e rapazes (inclusive com exames de próstata e coisas parecidas); os relacionamentos de gênero; a igualdade de direitos entre homens e mulheres, além de se focar em pais e filhos com papéis considerados positivos e modelares para outros homens.


Tal dia faz também campanhas de levantamento de fundos para ajudar homens e garotos carentes. Interessou-se? Pois comece pelo URL www.in­ternational-mens-day.com — e terá panos para as mangas.



Wednesday, March 03, 2010

NESTE 2010, OS 90 ANOS DE DAVE BRUBECK


O DAVE BRUBECK QUARTET, DE 1951 A 1967

O Dave Brubeck Quartet em Frankfurt, Alemanha (1967, ano em que o conjunto se viu desfeito — fora criado em 1951). A formação mostra, da E para a D, Joe Morello (bateria), Eugene Wright (baixo), Brubeck (piano) e Desmond (sax-alto). Esta composição do Quarteto mudou com o passar do tempo, substituindo-se uns músicos por outros (Desmond, por exemplo, associado a Brubeck ainda em inícios de 1944, faleceria em 1977). Assim, em diferentes períodos, atuaram no Quarteto os seguintes músicos, por instrumentos — Piano: Dave Brubeck, Darius Brubeck (filho de Dave, ao piano elétrico); Sax-alto: Paul Desmond, Bobby Militello (também no sax-tenor e na flauta); Sax-barítono: o grande Gerry Mulligan; Sax-tenor: Jerry Bergonzi; Baixo-duplo: Bob Bates, Ron Crotty, Norman Bates, Eugene Wright, Jack Six, Alec Dankworth e Michael Moore; Bateria: Joe Dodge, Lloyd Davis, Joe Morello, Alan Dawson, Dan Brubeck (também filho de Dave) e Randy Jones; Trombone-baixo: Chris Brubeck (também no baixo); Clarineta: Bill Smith; Violoncelo: Matthew Brubeck (outro filho de Dave).


Ainda compõe, interpreta e se apresenta nos EUA e Canadá o célebre fundador de um Trio e de um Quarteto que se tornaram grandes marcos na História do Jazz


Evandro da Nóbrega
ESCRITOR, JORNALISTA, EDITOR
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Este artigo — publicado originalmente no jornal A União, de João Pessoa (PB), edição de 27 de fevereiro de 2010 — é também gentilmente reproduzido pelos seguintes URLs:

- Blog Cultural EL THEATRO, de Elpídio Navarro:
www.eltheatro.com

- Portal PS OnLine, de Paulo Santos:
www.psonlinebr.com

- Portal Literário RECANTO DAS LETRAS:
http://recantodasletras.uol.com.br/autores/druzz

- Portal do Jornal A União On Line:
www.auniao.pb.gov.br

- Blog DRUZZ ON LINE, de Evandro da Nóbrega:
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Traz de fato a Música longevidade a seus sacerdotes, os músicos?

Bem, está aí uma admirável figura do jazz, Dave Brubeck, que, perfeitamente lúcido e atuante, fará 90 anos de idade a 6 de dezembro deste ano de 2010.

Há tempos, ele reside na pacata cidade de Wilton, distrito de Fairfield, em Connecticut, Estado-berço de grande número de musicistas e que serviu e serve de residência para grandes nomes do jazz.

São mestres do gênero que têm de trabalhar em Nova York (inclusive o Harlem) e que, quando não estão se apresentando, costumam morar em bucólicas cidadezinhas, que lhes permitam descansar e criar, longe do bulício dos grandes centros.

Foi também o caso, dentre muitos outros, de Gerry Mulligan, companheiro de Brubeck em seu famoso Quarteto até 1967, quando a associação deles terminou, e até 20 de janeiro de 1996, quando Mulligan faleceu, aos 68 anos, em Darien, também em Connecticut.

Da segunda vez que estive nos EUA (para cursos de Comunicação em jornais, editoras e gráficas americanas), passei cerca de um mês na capital e noutras cidades de Connecticut. Dessa feita enviado pelo programa Partners of the Americas, tive a sorte de me fazer acompanhar, em Connecti­cut, de jornalistas e professores que eram também intelectuais, de modo que pude realizar outras atividades culturais — incluindo, entre vários outros itens, longa visita à casa-navio que Mark Twain construiu para morar; audições de grandes nomes da ópera, já em Nova York; um completo festival de Hitch­cock...

Foi nessa viagem que pude também entrevistar (para os jornais O Norte e A União) o célebre jornalista brasileiro de germâni­ca origem, Paulo Fran­cis.

Em Connecticut, bem que pensei entrevistar Brubeck, que, embora nascido na Califórnia (Costa Oeste), escolhera residir nesse Estado do (rico) Nordeste americano. Aí mora até hoje, mantendo sua “casa de música”, onde compõe, exercita-se ao piano e recebe amigos, com a esposa e colaboradora, Iola — um casamento de 70 anos. Informaram-me então que Brubeck não se achava em Connecticut naquele momento. Esqueci os detalhes, mas acho que viajara à Costa Leste, para gravar o álbum Paper Moon, saído em 1982. Assim, foi impossível levar avante qualquer plano de entrevista. Mas trouxe, nessa viagem, pelo menos uns dois discos dele, ainda no velho formato LP.

Brubeck é indisputavelmente uma lenda viva do jazz. Para além disto, ajuda velhos jazzmen empobrecidos; dá apoio aos colegas do blues; realiza concertos beneficentes; é, enfim, admirável e multipremiada personalidade ianque.

Suas primeiras gravações remontam a 1949 — e não pararam até hoje. Foi o primeiro a vender um milhão de cópias de um disco single de jazz, com o hit “Take Five” (composto por Paul Desmond), que Você pode ver/ouvir até no Youtube.

No Brasil, podem-se encontrar discos solo dele (sempre ao piano) ou com o David Brubeck Quartet — ou ainda em artificial mistura, nas capas, com Stan Getz, John Coltrane, Dizzy Gillespie, Gerry Mulligan, Desmond, Satchmo, Charles Mingus e outros gênios.

Temporal fez surgir um de seus melhores álbuns musicais

Se Você googlar “Dave Brubeck”, vai obter mais de 1 milhão 220 mil sites na Internet e verá que ele, além de jazz, escreveu trilhas de filmes, música orquestral e sacra, canções etc. Num filme britânico, All Night Long, Brubeck toca alguns números seus — e é o caso de pedir a Ivan Cineminha que o providencie, para deleite do crítico João Batista de Brito e muitos outros. Alguém aí também dê notícia do documentário prometido em 2007 por Clint Eastwood sobre Brubeck e sob o título provisório de In His Own Sweet Way.

O disco deste título surgiu por acaso. Fustigados por nevasca, jazzmen que iam gravar em Westchester, NY, refugiaram-se na casa de Brubeck, no Connecticut, levando um set móvel de gravação do selo Telarc.

Em sessões improvisadas, a esses músicos se uniram, tocando seus instrumentos, o próprio Brubeck e seus filhos músicos: Darius, Chris, Dan e Matthew. O resultado foi um álbum espetacular, de mais de hora de duração, com jóias como “In Your Own Sweet Way” e “Sweet Georgia Brown”.

Em minha época connecticutiana (1981), Brubeck ainda não recebera o maior prêmio musical desse Estado, o Arts Award, que ganharia em 1987. A partir daí, os prêmios nacionais e internacionais se sucederam, de modo que Brubeck é um dos mais reconhecidos músicos americanos, sendo ainda objeto de estudos na Alemanha, França, Suíça, Holanda, países nórdicos, Rússia, Japão, China et alia.

Foi da França que em 2009 o crítico Alex Dutilh, da Radio France, se deslocou a Connecticut, a fim de entrevistar Brubeck e montar programa especial sobre ele na prestigiosa emissora europeia.

Ainda bem que sou assinante dessa grande rádio internacional, que transmite música de qualidade (inclusive o jazz), e pude ouvir o resultado do trabalho de Dutilh, ainda disponível nos arquivos on line da Rádio France. Em tempo: a saúde de Brubeck só lhe permite apresentar-se hoje nos EUA e Canadá — e não mais na Europa ou Ásia.

O pianista, compositor e bandleader David Warren Brubeck nasceu em 1920, em Concord, Califórnia. Passou a atuar publicamente como músico ainda na década de 1940. Dos gêneros em que se especializou (jazz, cool jazz, West Coast jazz e Third Stream ou Terceira Corrente), prefiro todos — ante a criatividade do compositor, a maes­tria do instrumentista e sua humaníssima sensibilidade: com formação clássica em piano, incorporou o swing popular a seu estilo, sem concessões, de modo que é puro deleite ouvir-lhe a combinação de habilidade com musicalidade.

Brubeck, criador de alguns dos mais representativos jazz standards da riquíssima musicografia americana

Permitam-me breve digressão pessoal. Ainda na Patos de inícios de 1960, iniciei-me com alguns colegas no marxismo, na língua russa e no jazz.

No caso do jazz, foi iniciação chifrim, embora marcante: para ouvi-lo, dependíamos da rádio-difusora dum parente, o patoense Manoel Lino, grande amante, divulgador da música de qualidade e dono de fornida discoteca (nem sei o que dela foi feito).

Assim, só em João Pessoa, a partir de 1963, é que vim a entrar num contato mais sério com as vertentes jazzísticas. Eram discos primeiramente das décadas de 1950 e 1960 (e, depois, de 1970), que ouvíamos, um pequeno grupo e eu, sob a pioneira e segura orientação de outro parente, o universitário Márcio Roberto Soares Ferreira. Veio ele a ser, até prova em contrário, o maior colecionador de jazz e bossa-nova do Norte/Nordeste do país.

Do grupo chegaram a fazer parte muitos outros amigos, trazidos por Márcio: o professor Marcelo Melquíades de Araújo; os irmãos Espínola, à frente João, Umberto e Silvino; Flávio Ribeiro Coutinho Neto; Antão Lino (Tonka); as irmãs Babyra/Dândy Fernandes; Emmanuel Ponce de León Júnior/Nirelda; Roseane/Mônica Rique; Marcos/Mallanja Wanderley; Zazá/Sheva Maia e Tereza/Thelma Queiroz.

Chegamos até a adquirir, Márcio e eu, uma radiola (hoje se diz som) a pilha, de modo a apreciar os discos em qualquer parte: no Lyceu, no jornal, nas praças... Imagine o consumo de pilhas!

O professor Marcelo — educador, advogado, formado em História e Geografia — não aprecia apenas o jazz, mas igualmente a música americana em geral, a caribenha, a latino-americana.

Passado o tempo, viu esse grupo, com satisfação, que o pessoal mais novo, a exemplo de críticos como Sílvio Osias e músicos como Marcus Vinícius, também adoravam o jazz e a bossa-nova, ao passo que alguns desavisados, ignorando esses tesouros, iludiam-se com barulho, bate-estacas et caterva.

Nas visitas aos EUA, sempre fui ajudado, na garimpagem do jazz mais antigos, pelo globe-trotter Palmari de Lucena, conhecedor dos meandros de Nova York, inclusive lojinhas escondidas nos desvãos da Big Apple e capazes de reproduzir, em acetato ou fita, discos fora do mercado.

No específico tocante a Brubeck, de início ouvíamos em particular discos regravados no Brasil a partir, notadamente, dos originais da Columbia Records/Legacy. Era o Brubeck solo ou num trio ou em associação com Paul Desmond — ou ainda o Dave Brubeck Quartet. Depois, Brubeck sairia por outras gravadoras (selos Legacy, A&M, Sony Records, Sony BMG etc).

Brubeck é, sem dúvida, um dos maiores criadores dos padrões jazzísticos, temas musicais com importante papel no repertório de todos os mais destacados intérpretes do jazz.