Sunday, May 24, 2009

MAIS UMA DO STEVE SPIELBERG...


Contos Reais:

Tuitosfera & Iídiche



por Evandro da Nóbrega





O Autor, Evandro da Nóbrega, 63, é escritor, jornalista, editor técnico-literário e especialista em Informática/Internet/Editoração Eletrônica. Pertence à UFPB (Universidade Federal da Paraíba), ao IHGP (Instituto Histórico e Geográfico Paraibano) e ao CEE (Conselho Estadual de Cultura) do Estado da Paraíba. Tem vários livros publicados, inclusive dois em chinês/português. Autodidata em várias línguas, lê nos 20 idiomas que estuda, inclusive hebraico, árabe e iídiche, recusando, porém, o apelido de poliglota: “Ler é uma coisa; falar é outra”. Mas não reclama se o chamam de polígrafo...


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Uma versão reduzida deste artigo foi produzida para um livro da Ideia Editora, de João Pessoa, Paraíba, a pedido do editor Magno Nicolau, proprietário desta empresa editorial.


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Pergunte a alguém o que é dimetilaminofenildimetilpirazolona — e lhe dirão que a palavra não existe. Mas existe. A gente pode lê-la nas bulas de remédios desde o tempo do cachete de cibazol. Há pessoas que não acreditam na existência de algo só porque sobre tal nunca ouviram falar. Outras querem por fina força acreditar nas coisas mais improváveis. Estão aí as lendas urbanas e as teorias conspiratórias para comprovar. Por estas e outras, é preciso escrever contos reais. A realidade, por vezes, surpreende mais que a ficção. Exemplos?

Ligo meu Twitter, no celular ou micro — e lá vem a enxurrada de informações, minuto a minuto. Em microblogs oriundos diretamente deles para minha caixa postal, Barack Obama diz que daqui a pouco assina nova lei sobre os cartões de crédito; Le Monde vibra: o FED baixará previsões de crescimento econômico; Tim O’Reilly, guru da comunidade global hi-tech, crocita: “Vivemos em algo como uma bolha, não de investimento, mas de realidade”; Nicole Kidman anuncia: vai novamente à Austrália, num de seus dois aviões particulares; Angelina Jolie informa: está tomando um jato para filmar na Caixa-Prego; Beyoncé assegura: pensa em novo álbum — e dá até o título da coisa; o mais antigo jornal israelense, Haaretz [= “a Terra”] me fala sobre outra coisa antiga e interminável: o andamento de novos planos de paz no Oriente Médio; o Financial Times cita Cannes: a crise econômica atinge seriamente a produção de filmes; sua versão chinesa, o FT China, complementa: Taiwan quer investir mais no Continente; Ellen deGeneres nos convida a tomar piña colada (com ela?!) sob palmeiras de praias do Havaí; Britney Spears, do próprio busão, alardeia: está on the road para shows em cidades do interior; El País noticia: gêmeos de grávida têm pais diferentes (?!); Brooke Burke espreguiça-se às 10 h da matina, tomando café com a sogra; Ricardo Noblat alerta: o Homem do Castelo, neste momentim, depõe na Câmara; a Folha OnLine mancheteia: em crise, a Califórnia estuda estimular a economia legalizando a maconha; o Los Angeles Times anuncia vôo direto para Hoswell (a terra do disco-voador, no Novo México!); Larry King, o âncora, cumprimenta Natalie Cole pelo rim recém-ganho; Patrícia Kogut dá as dicas sobre se há algo digno de se ver na TV paga; Twittess (Tessália Serighelli, tuiteira-mor tupiniquim) fala sobre a primeira comunidade de cinema no Orkut; confessa-se chocada com o filme Do começo ao fim; e nos remete ao trailer do próprio no YouTube; Regina Pena relembra: concluiu (aff!) a tese de Doutoramento na PUC-SP... Aí chega, via o miniblog do The New York Times no Twitter, uma notícia realmente empolgante...

TEMPOS DE TUITAR

Parênteses. Para os poucos que não sabem, twitter = gorjeio, gorjear. Como sói ocorrer com os passarins. Elementar, Watson: tuiteiros gorjeiam entre si. Milhares deles me seguem (sabe-se por quê!). De minha parte, sou também follower de zilhões deles. Não dão um arroto sem que me comuniquem imediatamente: estou aqui, fazendo tal coisa e acaba de acontecer o seguinte... Aquele rapaz estava à beira do rio, em Nova York, quando caiu o avião. Pegou o celular e tuitou pra todo mundo: “Puxa, caiu um avião aqui, na água!”. No mesmo instante, todo o Planeta sabia. Antes mesmo de as TVs, jornais, portais, blogs suspeitarem. E o socorro chegou ainda mais rápido. Na Moldávia, quando pensaram em derrubar o presidente, os jovens valeram-se dos celulares tuitados e, com pouco mais, juntaram milhares de pessoas diante do Parlamento. O Twitter faz o papel de miniblog: diga o que faz agora, em pouquíssimas palavras. Também o presidente Obama, uma vez eleito, largou mais do Blackberry, seu hiperfuturista celular (que, obviamente, não podia mais continuar usando, por motivos de segurança) e passou-se pro Twitter. O homem mais poderoso da Terra é também o segundo maior usuário do Twitter e, óbvio, está no meu following tuítico. Agora mesmo, depois de falar com a tripulação do Atlantis/Nasa, ele está reunido com Wood, vendo se o nomeia para a Suprema Corte. Twitter é jornalismo-cidadão: toda e qualquer pessoa se torna repórter, jornalista, formador de opinião, analista.

ONZE MIL LIVROS ON LINE

Mas lá estava, em meu Twitter, a empolgante notícia do Times noviorquino: a Biblioteca Eletrônica “Steve Spielberg” colocou on line, gratuitamente, pelo Internet Archive, nada menos que 11 mil livros (Você leu certo, onze mil livros). A gente clica no link e vê, na edição completa, virtual do NYT: não são livros comuns. São 11 mil livros em Yiddish, digo melhor, em iídiche, língua dos judeus asquenazitas (do Centro/Leste europeu) que o doido-ruim do Hitler tentou destruir completamente (povo e idioma). Não o conseguiu, como se vê.

E constatamos isto com alívio: o iídiche esteve em ai de desaparecer de vez. Não fosse a ação de escritores como o imenso Yitzhak Bashevis-Zinger, de um lado, teimando em escrever em sua língua materna, e, de outro, intelectuais igualmente importantes, como David Grossman, o iídiche teria soçobrado há tempos. Esse David Grossman (Dovid Grosman, em iídiche) é meu amigo virtual há anos. Há mais anos ainda, comanda, entre outras, relevantíssima Lista de Discussão, na Internet, justamente sobre a língua iídiche. É o Moderador do numeroso grupo conhecido como “The Yiddish Forum”, o Fórum sobre o Iídiche. Nós todos, seus integrantes (e não são poucos!), nos comprometemos há tempos com uma causa comum: defender a continuidade do Yiddish, riquíssima expressão, a partir de certo momento histórico, da já riquíssima Cultura judaica.

DAVID GROSSMAN, AMIGO VIRTUAL

A primeira coisa que fiz, depois de ler a nota no Times, foi e-mailar para Dovid Grosman. Ele já sabia da novidade e não titutebou em me responder, na bucha, num inglês tão perfeito quanto seu hebraico e seu iídiche. Disse Grossman:

“Muitos judeus (o Povo do Livro) dedicaram suas vidas a escrever importantes e valiosos documentos. Tragicamente, muitos desses materiais viram-se queimados, destruídos... Aparentemente, haviam-se perdido para todo o sempre. Mesmo hoje em dia, pequenas tiragens de edições impressas de livros judaicos em iídiche limitam sua disponibilidade às gerações futuras. A Biblioteca Digital ‘Steven Spielberg’, do Centro Nacional do Livro Iídiche, reverteu essa tendência. Seu elogiável e recomendável projeto tornou possível o escaneamento de cópias de milhares de livros iídiches, preservados e agora gratuitamente disponibilizados on line, inclusive para a feitura de cópias em quantidades ilimitadas. Como resultado disto, muitíssimo da Literatura iídiche está retornando aos leitores. Desta forma, tão auspiciosa iniciativa deu nova e vibrante vida não apenas à língua iídiche, mas igualmente ao judaísmo e, por que não dizer, ao próprio Povo do Livro” — concluiu um emocionado David Grossman.

CEM VOLUMES POR DIA

Como no caso de dimetilaminofenildimetilpirazolona, é mesmo de não acreditar: lá estão, em reprodução eletrônica, 11 mil livros (e este número irá aumentando à proporção de uns 100 livros por dia), sobre todos os assuntos: gramáticas, dicionários, História, romances, Linguística, manuais, Matemáticas, Filologia, Literatura, Artes, ensaios, livros de ficção, jornais, revistas, periódicos, tratados de Filologia, monólogos, humorismo, glossários, fac-símiles, manuscritos, canções e letras de músicas, coleções e obras completas de muitos autores... Obras até de gente como Sholem Aleichem, Chaim Weizmann, Max Weinreich — e, claro, Yitzhak Bashevis-Zinger (nome de Singer em iídiche), judeu polaco-americano, Nobel de Literatura em 1978. Obras publicadas em Londres, Nova York e até no Brasil... Ah, tenho que lhes enviar (e é possível fazer uploads desses livros, no portal do NYBC) cópias virtuais dos livros que tenho em iídiche — o primeiro dos quais adquiri pensando tratar-se de hebraico, em vista do uso comum dos caracteres semíticos... De fato, ante um livro escrito em iídice, a primeira impressão do leigo é pensar que se trata de hebraico. Inclusive porque também se iniciam pela “última página” (para nós), como ocorre com volumes em hebraico, árabe, farsi, urdu e outras línguas, semíticas ou não. Lembram-se da clássica piada? Agatha Christie não pode publicar livros em hebraico — por ser na última página que se conhece a identidade do assassino... E isto de o iídiche igualmente ser escrito da direita para a esquerda não é problema: o portal do Centro [http://nybc.convio.net] já providenciou os recursos da escrita bidirecional e o uso do Unicode como padrão.

STEVEN SPIELBERG

O Times deu a notícia em destaque e, depois, o conhecido jornalista Noam Cohen a amplificou, porque isto significa: quase metade de TODAS as obras já publicadas em iídiche acham-se agora on line, à disposição de leitores & estudiosos de qualquer parte do Mundo. Tudo graças ao trabalho do National Yiddish Book Center [www.yiddishbookcenter.org] e do famoso Internet Archive [www.archive.org], além de voluntários nos EUA, Israel, Canadá et alia. É a Literatura de um povo tornando-se facilmente acessível, no ciberespaço, não só para falantes de iídiche, mas para toda a Humanidade. Você tanto pode ler os livros on line como copiá-los para seu HD, em vários formatos (principalmente .pdf) e imprimi-los em casa. A iniciativa foi entusiasticamente recebida pela comunidade internacional, especialmente a judaica. Constitui exemplo de como uma biblioteca sem fins lucrativos pode apoiar a Cultura, disponibilizando livros a integrantes de etnias geograficamente mui esparsas.

O texto integral de todos esses milhares de volumes, englobando a antiga e moderna Literatura iídiche, compreende o acervo do Centro Nacional de Livros Iídiches “Steven Spielberg” e está agora ao alcance de alguns toques de mouse, no URL www.archive.org/details/nationalyiddishbookcenter.

O INTERNET ARCHIVE

Trata-se de recurso único no Planeta: três milhões de páginas ao todo (e até agora), como fruto da aliança entre o Centro e outra organização sem fins lucrativos, o Internet Archive, baseado em San Francisco, Califórnia. O fundador e presidente do Centro, Aaron Lansky, considera tal feito “um momento histórico para a Cultura iídiche: o magnífico arquivo de uma civilização que os nazistas quiseram destruir foi trazido integralmente a salvo para o século XXI”. Já o fundador do Internet Archive, Brewster Kahle, assinala: “É a primeira vez que a Literatura integral de um povo se tornou disponível on line. Esperamos que outros sigam este exemplo pioneiro”. Desde o início de suas atividades, em 1980, o Centro resgatou cerca de um milhão de livros iídiches ameaçados e os redistribuiu por mais de 600 bibliotecas e universidades de todo o Mundo. Tais coleções, incluindo milhares de cópias duplicadas, representam a maioria dos livros já publicados em iídiche. Em comunicação pessoal, Lansky — autor, entre outras, da obra Outwitting History: How a Young Man Rescued a Million Books and Saved a Vanishing Civilisation [2004] — acrescenta que numerosos desses livros foram resgatados de países como Rússia, Austrália, Zimbábue, África do Sul, Argentina, Chile, México, Cuba e Brasil.

MAS O QUE É O IÍDICHE?!

A língua iídiche resultou do antigo médio-alto alemão, com inumeráveis empréstimos de hebraico, aramaico, alemão moderno, línguas eslavas etc. Usa frases tipicamente “alemãs”, ao lado de expressões diretamente retiradas do legado hebraico. A palavra iídiche (Yiddish) veio de Jüdisch, termo germânico genérico para "judaico" (de Jüden = judeu). É o iídiche falado por mais de três milhões de judeus asquenazitas, nos EUA, Israel, Argentina, Argentina, Reino Unido, Rússia, Canadá, Ucrânia, Bielo-Rússia (Belarus), Hungria, Moldávia (Moldova), Lituânia, Letônia, Bélgica, Alemanha, Polônia, Austrália, França, Ucrânia, Estônia, Romênia, Suécia, Holanda e Brasil. Após a Diáspora de inícios da Era Cristã, os judeus instalados entre a França e o que é hoje a Alemanha receberam, em grupo, a designação de asquenazitas, provinda do termo bíblico Ashkhenaz (= Germânia, Alemanha), ao passo que os fixados na Península Ibérica chamaram-se serfarditas (de outro termo bíblico, Sefarad = Espanha).

O povo judeu sofreu vários exílios, ao longo da História (e onde se lê “História” está implícita a palavra carnificina): sob os assírios (722 antes da Era Comum), foram levados ao Khorasan, vivendo desde então em território persa; em 588 antes da Era Comum, viram-se deportados para a Babilônia; com a destruição, pelos romanos, dos primeiro e segundo Templos em Jerusalém (e, depois, da própria Judéia) e com sua expulsão pelo imperador Adriano (135 da Era Comum), os judeus se espalharam, na Idade Média, em lento processo, por diversas áreas da Europa e de outros Continentes. Sucessivos e numerosos grupos, expulsos do Oriente Médio (Judéia, Palestina etc) e chegados a partes da Europa no pós-Diáspora [= "dispersão"], falavam originariamente o aramaico e, em menor extensão, o grego e o latim vulgar. Seu linguajar mudava à medida que os grupos de migrantes contactavam com outras populações, na França, Itália, Grécia, Chipre, Turquia, Polônia, Hungria, Germânia, Rússia, Espanha, Portugal... Depois, asquenazitas e sefarditas desenvolveram seus falares sob a influência dos novos territórios em que se instalavam (iídiche em Ashkenaz e ladino em Sefarad).

LÍNGUA INDO-EUROPÉIA, SIM!

Assim, o iídiche é língua da grande família indo-européia, ramo germânico, derivando do antigo Médio-Alto Alemão. Apesar disto, usa um alfabeto hebraico adaptado, escrevendo-se também da direita para a esquerda. Desenvolveu-se a língua, com seus dialetos principais (o oriental e o ocidental), a partir do século X, no Vale do Baixo Reno. Ainda na Idade Média, começou a se espalhar pelo centro e leste europeus, indo bem depois para outros Continentes. Estabeleceu-se como língua literária a partir do século XVIII. Suas variedades ou dialetos têm muitos empréstimos hebraicos, aramaicos e eslavos. Já no século XV, o iídiche era bem diferente dos falares germânicos à sua volta. O mais antigo documento escrito na nova língua data de inícios do século XIII. A partir do século XVI, após o surgimento da imprensa, também se tornam mais abundantes suas publicações. Os séculos XVIII e XIX foram de esplendor para o iídiche, antes que a fúria nazista se abatesse sobre os judeus, de fala iídiche ou não.

Às vésperas da II Guerra Mundial, havia cerca de 12 milhões de falantes do iídiche, mas tal número foi drasticamente reduzido pelos nazis, fugindo os judeus remanescentes para os EUA, antiga URSS e outros países. Hoje, há cerca de 3 milhões de falantes do iídiche oriental (um terço deles nos EUA) e aproximadamente uns 50 mil do iídiche ocidental, quando eram dezenas de milhares antes do Holocausto. Só em Nova York há sete jornais em iídiche, inclusive on line, e várias revistas. O iídiche sempre foi muito utilizado em peças teatrais, na Europa (especialmente Alemanha) e nos EUA. Com o êxodo de artistas e diretores para a América, algumas dessas peças se transformaram em obras-primas do Cinema americano e o próprio iídiche influenciou a gíria ianque.

GRANDES FILHOS DO IÍDICHE

Afora Spielberg, a Cultura asquenazita de fala iídiche produziu grandes nomes, como (para citar só alguns) Albert Einstein, Sigmund Freud, Isaac Asimov, a atriz Lauren Bacall, Eliezer ben Yehuda (criador do hebraico moderno), George Gershwin (compositor americano), a célebre anarquista russo-lituano-americana Emma Goldman, a primeira-ministra Golda Meir, o rabino Baal Shem Tov (fundador do hassidismo), Joseph Stiglitz (judeu-americano, Nobel de Economia em 2001), o compositor Gustav Mahler, o famoso sábio Vilna Gaon e por aí vai.

E, para tornar este “conto” mais “real”, a Wikipedia registra nada menos que 838 escritores judeus — só nos EUA. Dá pá tu?!

OUTRAS ARTES DO SPIELBERG

Não é a primeira vez que Steve Spielberg — uma das mais influentes personalidades da História do Cinema — nos brinda com realizações de vulto como esta. Ele também doou sua imensa e riquíssima coleção de filmes judaicos (inclusive películas originais e documentários sobre o Holocausto) para que a Universidade Hebraica de Jerusalém [www.huji.ac.il/huji/eng] montasse um portal, como de fato montou, com 400 filmes que podem ser vistos on line, gratuitamente e na íntegra, bastando ir ao URL www.spielbergfilmarchive.org.il (os sites podem ser vistos em hebraico e inglês).

Existem por lá filmes raros e imperdíveis, além de curiosidades fílmicas e links para The Association of Moving Image Archivists, o Avraham Harman Institute of Contemporary Jewry, a Coleção Judaica da Biblioteca Widener da Universidade Harvard e outras instituições sérias que mantêm acervos similares. Também recentemente, Steve Spielberg doou US$ 1 milhão para o Museu de História Judaica da Pensilvânia. Antes, criara a Fundação da História Visual dos Sobreviventes do Holocausto.

A RESPOSTA DE SPIELBERG

Durante muito tempo, Steve Spielberg foi um judeu, digamos, relutante. Isto em função da perseguição que sofreu, na infância e na adolescência, por sua condição étnica, nos próprios EUA. Muitos rapazes, certamente expressando a opinião de alguns pais, costumavam gritar "Família dos Spielberg, judeus sujos!" diante de sua casa. O jovem Steve, que se transformaria num gênio do Cinema, era um menino praticamente isolado: ia para a escola sem a companhia de amigos judeus e não havia na cidade nenhum centro judaico que o pudesse acolher, no lazer e nos estudos.

Mas não guardava rancor dessas coisas, sem também oferecer a outra face aos tapas, por entender que “a intolerância é fruto do medo, do desconhecimento do outro”. Preferiu se dedicar a seus estudos e, principalmente, ao cinema, onde produziu obras-primas eventualmente sobre temas judaicos, como A Lista de Schindler e Munique. Assumindo integralmente sua condição de judeu e herdeiro de rica tradição histórico-cultural, Spielberg igualmente patrocinou a fundação do Instituto Shoah na Universidade do Sul da Califórnia [http://college.usc.edu/vhi]. Sendo Shoah exatamente o termo hebraico para Holocausto, este Instituto americano preserva milhares de fotos, arquivos de voz e filmes, bem como 52 mil entrevistas com sobreviventes judeus das atrocidades do nazismo. Com este material, foi possível ao Yad Vashem [vide abaixo] e à empresa EMC levar 200 mil horas de vídeos a Israel, que vão se somar a 10 mil outros documentários filmados e mais umas cinco mil películas produzidas em todo o Mundo enfocando o Holocausto. Todas estas coleções — zilhões de terabites, pesando mais de uma tonelada! — serão colocadas on line, à inteira disposição do público.

CONTRA FATOS NÃO HÁ ARGUMENTOS

O Holocausto — fato histórico hiperdocumentado, mas negado por gente ignorante como o atual presidente do Irã, embora sob enfáticos protestos da ONU, do Mundo inteiro e da própria Oposição iraniana — não foi um crime apenas contra os judeus: foi um pavoroso delito, "um horripilante ato contra toda a Humanidade, contra todas as Nações, contra todas as Religiões", como disse recentemente o árabe Raleb Majadele, ministro integrante do Gabinete israelense, como representante dos árabes israelenses.

Isto mesmo, não é mais uma ficção: sempre há um árabe no Governo de Israel, representando sua comunidade no país — um país que, justamente por contar com um Governo democrático, escolhido pelo voto, faz medo a tanta gente no Oriente Médio... a ponto de muitos desejarem que Israel seja varrido do mapa, jogado no mar etc. É o mesmo árabe Raleb Majadele quem conclui: "De agora em diante, os falantes da língua árabe [e também da língua farsi ou persa] podem apreender a verdade em torno do Holocausto", graças a esses dois novos portais.

VÁ AOS PORTAIS, VEJA OS VÍDEOS

Da mesma forma, o príncipe Hassan, da Jordânia (país árabe, pois não!), num vídeo de 25 minutos, disponível on line, lamenta o Holocausto e a tentativa de negá-lo. Diz o príncipe, entre outras coisas: "Todos os filhos de Abraão [isto é, os árabes e os judeus] sentem enorme angústia ante os fatos do Holocausto [o assassinato de seis milhões de judeus pelos nazistas], que afligiram um dos ramos [o ramo judaico] de nossa família interligada".

Estas declarações foram gravadas para o recente lançamento de dois portais, um em árabe, outro em farsi (iraniano, persa) pelo Yad Vashem, para contrabalançar a campanha dos para-fascistas, filo-nazistas e neonazistas que tentam negar a realidade do Holocausto. Em tempo: o Yad Vashem [em hebraico, יד ושם] é a instituição internacional que, de modo confiável e com orientação científica, guarda e honra a memória das vítimas judias do nazismo, em Jerusalém. Estes novos portais serem vistos a partir dos URLs www.yadvashem.org e www.yadvashem.org/arabic.htm?WT.mc-id=arabic-hp-eng241716. Este último, em árabe, intitula-se justamente عن الهولوكوست = Sobre o Holocausto.