Wednesday, March 03, 2010

NESTE 2010, OS 90 ANOS DE DAVE BRUBECK


O DAVE BRUBECK QUARTET, DE 1951 A 1967

O Dave Brubeck Quartet em Frankfurt, Alemanha (1967, ano em que o conjunto se viu desfeito — fora criado em 1951). A formação mostra, da E para a D, Joe Morello (bateria), Eugene Wright (baixo), Brubeck (piano) e Desmond (sax-alto). Esta composição do Quarteto mudou com o passar do tempo, substituindo-se uns músicos por outros (Desmond, por exemplo, associado a Brubeck ainda em inícios de 1944, faleceria em 1977). Assim, em diferentes períodos, atuaram no Quarteto os seguintes músicos, por instrumentos — Piano: Dave Brubeck, Darius Brubeck (filho de Dave, ao piano elétrico); Sax-alto: Paul Desmond, Bobby Militello (também no sax-tenor e na flauta); Sax-barítono: o grande Gerry Mulligan; Sax-tenor: Jerry Bergonzi; Baixo-duplo: Bob Bates, Ron Crotty, Norman Bates, Eugene Wright, Jack Six, Alec Dankworth e Michael Moore; Bateria: Joe Dodge, Lloyd Davis, Joe Morello, Alan Dawson, Dan Brubeck (também filho de Dave) e Randy Jones; Trombone-baixo: Chris Brubeck (também no baixo); Clarineta: Bill Smith; Violoncelo: Matthew Brubeck (outro filho de Dave).


Ainda compõe, interpreta e se apresenta nos EUA e Canadá o célebre fundador de um Trio e de um Quarteto que se tornaram grandes marcos na História do Jazz


Evandro da Nóbrega
ESCRITOR, JORNALISTA, EDITOR
[http://druzz.blogspot.com]
[druzz.tjpb@gmail.com]


Este artigo — publicado originalmente no jornal A União, de João Pessoa (PB), edição de 27 de fevereiro de 2010 — é também gentilmente reproduzido pelos seguintes URLs:

- Blog Cultural EL THEATRO, de Elpídio Navarro:
www.eltheatro.com

- Portal PS OnLine, de Paulo Santos:
www.psonlinebr.com

- Portal Literário RECANTO DAS LETRAS:
http://recantodasletras.uol.com.br/autores/druzz

- Portal do Jornal A União On Line:
www.auniao.pb.gov.br

- Blog DRUZZ ON LINE, de Evandro da Nóbrega:
http://druzz.blogspot.com


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Traz de fato a Música longevidade a seus sacerdotes, os músicos?

Bem, está aí uma admirável figura do jazz, Dave Brubeck, que, perfeitamente lúcido e atuante, fará 90 anos de idade a 6 de dezembro deste ano de 2010.

Há tempos, ele reside na pacata cidade de Wilton, distrito de Fairfield, em Connecticut, Estado-berço de grande número de musicistas e que serviu e serve de residência para grandes nomes do jazz.

São mestres do gênero que têm de trabalhar em Nova York (inclusive o Harlem) e que, quando não estão se apresentando, costumam morar em bucólicas cidadezinhas, que lhes permitam descansar e criar, longe do bulício dos grandes centros.

Foi também o caso, dentre muitos outros, de Gerry Mulligan, companheiro de Brubeck em seu famoso Quarteto até 1967, quando a associação deles terminou, e até 20 de janeiro de 1996, quando Mulligan faleceu, aos 68 anos, em Darien, também em Connecticut.

Da segunda vez que estive nos EUA (para cursos de Comunicação em jornais, editoras e gráficas americanas), passei cerca de um mês na capital e noutras cidades de Connecticut. Dessa feita enviado pelo programa Partners of the Americas, tive a sorte de me fazer acompanhar, em Connecti­cut, de jornalistas e professores que eram também intelectuais, de modo que pude realizar outras atividades culturais — incluindo, entre vários outros itens, longa visita à casa-navio que Mark Twain construiu para morar; audições de grandes nomes da ópera, já em Nova York; um completo festival de Hitch­cock...

Foi nessa viagem que pude também entrevistar (para os jornais O Norte e A União) o célebre jornalista brasileiro de germâni­ca origem, Paulo Fran­cis.

Em Connecticut, bem que pensei entrevistar Brubeck, que, embora nascido na Califórnia (Costa Oeste), escolhera residir nesse Estado do (rico) Nordeste americano. Aí mora até hoje, mantendo sua “casa de música”, onde compõe, exercita-se ao piano e recebe amigos, com a esposa e colaboradora, Iola — um casamento de 70 anos. Informaram-me então que Brubeck não se achava em Connecticut naquele momento. Esqueci os detalhes, mas acho que viajara à Costa Leste, para gravar o álbum Paper Moon, saído em 1982. Assim, foi impossível levar avante qualquer plano de entrevista. Mas trouxe, nessa viagem, pelo menos uns dois discos dele, ainda no velho formato LP.

Brubeck é indisputavelmente uma lenda viva do jazz. Para além disto, ajuda velhos jazzmen empobrecidos; dá apoio aos colegas do blues; realiza concertos beneficentes; é, enfim, admirável e multipremiada personalidade ianque.

Suas primeiras gravações remontam a 1949 — e não pararam até hoje. Foi o primeiro a vender um milhão de cópias de um disco single de jazz, com o hit “Take Five” (composto por Paul Desmond), que Você pode ver/ouvir até no Youtube.

No Brasil, podem-se encontrar discos solo dele (sempre ao piano) ou com o David Brubeck Quartet — ou ainda em artificial mistura, nas capas, com Stan Getz, John Coltrane, Dizzy Gillespie, Gerry Mulligan, Desmond, Satchmo, Charles Mingus e outros gênios.

Temporal fez surgir um de seus melhores álbuns musicais

Se Você googlar “Dave Brubeck”, vai obter mais de 1 milhão 220 mil sites na Internet e verá que ele, além de jazz, escreveu trilhas de filmes, música orquestral e sacra, canções etc. Num filme britânico, All Night Long, Brubeck toca alguns números seus — e é o caso de pedir a Ivan Cineminha que o providencie, para deleite do crítico João Batista de Brito e muitos outros. Alguém aí também dê notícia do documentário prometido em 2007 por Clint Eastwood sobre Brubeck e sob o título provisório de In His Own Sweet Way.

O disco deste título surgiu por acaso. Fustigados por nevasca, jazzmen que iam gravar em Westchester, NY, refugiaram-se na casa de Brubeck, no Connecticut, levando um set móvel de gravação do selo Telarc.

Em sessões improvisadas, a esses músicos se uniram, tocando seus instrumentos, o próprio Brubeck e seus filhos músicos: Darius, Chris, Dan e Matthew. O resultado foi um álbum espetacular, de mais de hora de duração, com jóias como “In Your Own Sweet Way” e “Sweet Georgia Brown”.

Em minha época connecticutiana (1981), Brubeck ainda não recebera o maior prêmio musical desse Estado, o Arts Award, que ganharia em 1987. A partir daí, os prêmios nacionais e internacionais se sucederam, de modo que Brubeck é um dos mais reconhecidos músicos americanos, sendo ainda objeto de estudos na Alemanha, França, Suíça, Holanda, países nórdicos, Rússia, Japão, China et alia.

Foi da França que em 2009 o crítico Alex Dutilh, da Radio France, se deslocou a Connecticut, a fim de entrevistar Brubeck e montar programa especial sobre ele na prestigiosa emissora europeia.

Ainda bem que sou assinante dessa grande rádio internacional, que transmite música de qualidade (inclusive o jazz), e pude ouvir o resultado do trabalho de Dutilh, ainda disponível nos arquivos on line da Rádio France. Em tempo: a saúde de Brubeck só lhe permite apresentar-se hoje nos EUA e Canadá — e não mais na Europa ou Ásia.

O pianista, compositor e bandleader David Warren Brubeck nasceu em 1920, em Concord, Califórnia. Passou a atuar publicamente como músico ainda na década de 1940. Dos gêneros em que se especializou (jazz, cool jazz, West Coast jazz e Third Stream ou Terceira Corrente), prefiro todos — ante a criatividade do compositor, a maes­tria do instrumentista e sua humaníssima sensibilidade: com formação clássica em piano, incorporou o swing popular a seu estilo, sem concessões, de modo que é puro deleite ouvir-lhe a combinação de habilidade com musicalidade.

Brubeck, criador de alguns dos mais representativos jazz standards da riquíssima musicografia americana

Permitam-me breve digressão pessoal. Ainda na Patos de inícios de 1960, iniciei-me com alguns colegas no marxismo, na língua russa e no jazz.

No caso do jazz, foi iniciação chifrim, embora marcante: para ouvi-lo, dependíamos da rádio-difusora dum parente, o patoense Manoel Lino, grande amante, divulgador da música de qualidade e dono de fornida discoteca (nem sei o que dela foi feito).

Assim, só em João Pessoa, a partir de 1963, é que vim a entrar num contato mais sério com as vertentes jazzísticas. Eram discos primeiramente das décadas de 1950 e 1960 (e, depois, de 1970), que ouvíamos, um pequeno grupo e eu, sob a pioneira e segura orientação de outro parente, o universitário Márcio Roberto Soares Ferreira. Veio ele a ser, até prova em contrário, o maior colecionador de jazz e bossa-nova do Norte/Nordeste do país.

Do grupo chegaram a fazer parte muitos outros amigos, trazidos por Márcio: o professor Marcelo Melquíades de Araújo; os irmãos Espínola, à frente João, Umberto e Silvino; Flávio Ribeiro Coutinho Neto; Antão Lino (Tonka); as irmãs Babyra/Dândy Fernandes; Emmanuel Ponce de León Júnior/Nirelda; Roseane/Mônica Rique; Marcos/Mallanja Wanderley; Zazá/Sheva Maia e Tereza/Thelma Queiroz.

Chegamos até a adquirir, Márcio e eu, uma radiola (hoje se diz som) a pilha, de modo a apreciar os discos em qualquer parte: no Lyceu, no jornal, nas praças... Imagine o consumo de pilhas!

O professor Marcelo — educador, advogado, formado em História e Geografia — não aprecia apenas o jazz, mas igualmente a música americana em geral, a caribenha, a latino-americana.

Passado o tempo, viu esse grupo, com satisfação, que o pessoal mais novo, a exemplo de críticos como Sílvio Osias e músicos como Marcus Vinícius, também adoravam o jazz e a bossa-nova, ao passo que alguns desavisados, ignorando esses tesouros, iludiam-se com barulho, bate-estacas et caterva.

Nas visitas aos EUA, sempre fui ajudado, na garimpagem do jazz mais antigos, pelo globe-trotter Palmari de Lucena, conhecedor dos meandros de Nova York, inclusive lojinhas escondidas nos desvãos da Big Apple e capazes de reproduzir, em acetato ou fita, discos fora do mercado.

No específico tocante a Brubeck, de início ouvíamos em particular discos regravados no Brasil a partir, notadamente, dos originais da Columbia Records/Legacy. Era o Brubeck solo ou num trio ou em associação com Paul Desmond — ou ainda o Dave Brubeck Quartet. Depois, Brubeck sairia por outras gravadoras (selos Legacy, A&M, Sony Records, Sony BMG etc).

Brubeck é, sem dúvida, um dos maiores criadores dos padrões jazzísticos, temas musicais com importante papel no repertório de todos os mais destacados intérpretes do jazz.

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