Wednesday, July 07, 2010

DEZ ANOS DA MORTE DE ANTÔNIO BARRETO NETO


[Clique na foto para vê-la ampliada]

O superbem escrito cinema de Barretim


Evandro da Nóbrega

ESCRITOR, JORNALISTA, EDITOR

[http://druzz.blogspot.com]

[druzz@reitoria.ufpb.br]


Este artigo — publicado originalmente no jornal A União, de João Pessoa (PB) — é também reproduzido pelos seguintes URLs:

- Blog Cultural EL THEATRO, de Elpídio Navarro:www.eltheatro.com

- Portal PS OnLine, de Paulo Santos:www.psonlinebr.com

- Portal Literário RECANTO DAS LETRAS:http://recantodasletras.uol.com.br/autores/druzz

- Portal do Jornal A União On Line:www.auniao.pb.gov.br

- Blog DRUZZ ON LINE, de Evandro da Nóbrega:http://druzz.blogspot.com


O arbiter elegantiarum Petrônio Souto bem definiu o clima reinante na solenidade de lançamento. No artigo “Noite de emoções”, cravou El Soto: “Fazia tempo que não participava de evento tão emocionante. O lançamento do livro Cinema por escrito, que reúne textos primorosos de Barreto Neto sobre clássicos do Cinema, selecionados com carinho por Sílvio Osias, mexeu tanto comigo que o velho coração, já meio impreciso nas batidas, exigiu menos excesso, forçando minha saída à francesa, antes do encerramento da cerimônia”.

Foi assim, em resumo, o lançamento do livro Cinema por escrito - Crítica de filmes em A União. O título principal — Cinema por escrito — já é por si só um achado. A obra de Antônio Barreto Neto (1938-2000) reúne 65 textos críticos, contemplando todos os Grandes Mestres do Cinema e aparecidos neste jornal-universidade, A União, entre 1964 e 1980 — embora Barretim já escrevesse sobre Cinema desde 1960. Três textos adicionais dele complementam a antologia: um sobre Chaplin, de 1978; e dois, de 1981, sobre Gláuber Rocha. Pense num livro imperdível!

A obra foi lançada na noite da segunda-feira, 14 de junho, no totalmente lotado auditório principal da Fundação Casa de José Américo (FCJA). Não será preciso, aqui, dizer muito sobre a excelência da produção crítico-cinematográfica de Barretim, porque já o fizeram pessoas com as qualificações de Gonzaga Rodrigues, Sílvio Osias, Humberto “1 Berto” de Almeida, William Costa, Linaldo Guedes, Guilherme Lima, Ricardo Oliveira, Renato Félix e até Carlos Meira Trigueiro, em seu movimentadíssimo blog CMTrigueiro, da UOL!

Já com cerca de 30 referências em portais e sites brasileiros (inclusive no TioSam.net), a tendência do livro, lançado para marcar a passagem dos 10 anos de falecimento do Autor, é ser cada vez mais conhecido no país — e é este precisamente o escopo que presidiu sua realização. Além, naturalmente, de se tratar de homenagem à memória de um jornalista de mancheia, que evoluiu para o nível de escritor de superiores recursos e crítico de notável acuidade. Por isto é que a mantenedora do Twitter Rank, Graça Almeida, por exemplo, está “muito feliz: acabei de ganhar de Juca Pontes o livro Cinema por escrito, com criticas de filmes feitas por Barreto Neto para o jornal A União”.

Sempre contamos com ótimos críticos de Cinema. São exemplos, ligados ou não à Associação dos Críticos Cinematográficos, aos cineclubes, ao Borrão de Cinema: Linduarte Noronha, Rafael de Menezes, Walfredo Rodriguez, Vladimir Carvalho, Pedro Santos, Wil­ls Leal (que também fundou a Academia Paraibana de Cinema), Martinho Moreira Franco, Adalberto Barreto, Machado Bittencourt, Renato Félix, W. J. Solha, Alex Santos, dentre muitos outros — sem esquecer, obviamente, o extraordinário crítico literário e cinematográfico João Batista de Brito, para quem Barretim não foi só modelo, mas “quase uma musa”. Ainda de JBB: dentre todos os críticos cinematográficos da década de 1960, na Paraíba, quem mais se destacava era Barretim: “tinha o texto melhor e analisava com mais pertinência”.


Bom de conversa, ótimo em prosa, excelente na análise


Temos finalmente a aguardada coletânea com os principais artigos críticos de Barretim, selecionados pelo organizador e apresentador do volume, o jornalista e também crítico Sílvio Osias, Editor-Geral de A União e que o conheceu em meados de 1974. Para além de competente jornalista e editor, Osias é de quebra conhecido crítico musical & cinematográfico. E diz sobre a obra: trata-se de livro-síntese da contribuição de Barretim.

É também resultado da admiração pessoal; de uma dívida de gratidão; de um dever de amizade do organizador pelo autor dos artigos reunidos; e do intuito de resgatar para a atual e futuras gerações primorosos textos de um talentoso intelectual paraibano do século XX. Homem simples, permanentemente bem-humorado, com elevada cosmovisão, Barretim tinha muito em comum com o genial crítico britânico Samuel Johnson, tão bom de conversa como na prosa escrita.

Após montar o livro, Osias levou a idéia ao superintendente de A União, jornalista Nélson Coelho, que de imediato a encampou, mesmo porque demonstra sensibilidade ante os mais diversos projetos culturais — para que o jornal “viva um novo tempo, com as mudanças pelas quais está passando". O resultado é este belo produto saído das oficinas do órgão oficial do Governo do Estado, com a colaboração de, entre outros, o editor Juca Pontes; Mílton Nóbrega (capa e projeto gráfico); Martinho Sampaio (editoração eletrônica); Antônio Morais e Juliene Paiva Osias (revisão); Clélia Ramalho e Luzia Lima (pesquisa); Nílton Tavares (supervisão gráfica); Lauriston Pinheiro (marketing) — e, por fim, mas não em último lugar, Wellington Aguiar e Cristiano Machado, Diretores de A União.

Já lia muito quando se iniciou na vida como... ‘linotipista’ part-time da Livraria Nabuco, em Patos

Com agradecimentos especiais a Elza (viúva de Barreto Neto) e a seus filhos Taciana e Antônio Sérgio (advogado), Sílvio Osias também faz a apresentação do volume: “Ao Mestre, com carinho”.

As orelhas do livro ficaram a cargo do cronista e estilista Gonzaga Rodrigues, que se refere a Barretim, seu colega & amigo, como “o escritor que o Cinema escondeu”. E Gonzaga vai novamente na mosca: “A par de sua interação com o Cinema, ou acima disto, preexistia a cultura de fundo literário de Barreto”.

Em “dialeto” patoense, o coremense Barretinho era simplesmente Barretim. Tive o privilégio de conhecê-lo, em Patos, em fins da década de 1950, quando nem pensávamos em vir para João Pessoa. Barretim — exatamente como outro grande crítico paraibano, Jurandy Moura! — trabalhava parte do dia nas “oficinas” da Livraria Nabuco, de propriedade do também saudoso professor Antônio do Vale, nosso lente de Português no Colégio do monsenhor Manoel Vieira e dono da maior e mais potente supermotocicleta importada (americana) das Espinharas. Essa livraria, além de vender livros e materiais escolares, também dispunha de pequena gráfica, de onde saíam impressos os mais diversos: jornais de festa, textos de interesse da Diocese, “volantes”, cartões de visita, “santinhos”, “convites” de falecimento e de sétimo dia. Nos fundos da casa, Barretim, como Jurandy Moura, operava uma espécie de rudimentar linotipo. E aí igualmente tinha oportunidade de ler muito.

Não só por se haver iniciado numa livraria de Patos, Barretim continuou assíduo frequentador de bookstores & bibliotecas, em João Pessoa e alhures. Sílvio Osias o conheceu na Livraria do Bartolomeu. Meu último e animadíssimo encontro com ele se deu também numa livraria, a do igualmente saudoso Pontes da Silva, quando Barretim já se achava bastante combalido pela doença e acabara de sair de sério e prolongado tratamento. Mas o bom-humor e o interesse por tudo continuavam os mesmos.

Ao longo da vida, foi guardando precioso arquivo sobre os mais impensáveis temas. De modo que, ao se livrar de certas obrigações profissionais, prosseguiu como crítico de cinema, mas também funcionava como redator especial de A União, escrevendo sobre os mais inesperados assuntos — sempre com graça, estilo, elegância.

Agora, o lançamento do livro demonstra o inegável apoio que A União, neste e noutros empreendimentos, vem recebendo do secretário da Educação e Cultura, professor Sales Gaudêncio; do secretário-executivo de Cultura, David Fernandes; da secretária de Comunicação estadual, jornalista Lena Guimarães; do secretário-executivo da Secom-PB, jornalista Genésio de Souza Neto; e dapresidente da FCJA, Dra. Letícia Maia — além, naturalmente, do Governador do Estado.

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