Saturday, August 06, 2011

SIDNEY GWEDDA JAMPPA NO CANIL-LÁ-DE-CIMA

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A MORTE DO INESQUECÍVEL SIDNEY — OU GWEDDA JAMPPA NO CANIL-LÁ-DE-CIMA


by Druzz,
apud Edenilza Mendes


  Uma de minhas grandes amigas, em São Paulo (SP), foi, é e sempre será a médica Edenilza Campos de Assis e Mendes. Além de casada com o também médico Sérgio Frederico Rúas Mendes e de manter consultório(s) com o marido, também serviu/serve aos Ministérios da Saúde e do Trabalho, vez que ambos, embora médicos generalistas, se especializaram principalmente em Medicina do Trabalho — apesar de também enfronhados com Administração (e Segurança) em Saúde e Medicina do Tráfego.

  

Mas a Dra. Edenilza (Eddy para os íntimos) nasceu aqui mesmo, na Paraíba — mais exatamente em Condado (PB). E foi minha vizinha de frente, em Patos das Espinharas, quando ela estudava no Colégio Cristo-Rei (das freiras) e o degas aqui esquentava as carteiras escolares do Ginásio Diocesano do Monsenhor Manoel Vieira.

Ah, e Edenilza, néee Campos de Assis, era também sobrinha do igualmente célebre Padre Assis (Monsenhor Joaquim de Assis Ferreira), orador sacro, cronista de muitos recursos literários e nosso incomum professor comum, nos dois colégios — professor de Latim e de outras complicadérrimas disciplinas.

GWEDDA JAMPPA
Todas as vezes que estive com o distinto casal Eddy-Sérgio, na capital paulista, impressionava-me com o amor (amor, sim!) que Eddy dedicava a seu cãozinho de estimação, Sidney.

E o cachorrinho lhe correspondia à afeição, de forma para mim extraordinária — sem falar que a própria Eddy é também um ser humano extraordinário, sob todos os aspectos.

Quem, não fosse especialmente dotada, excepcionalmente criativa, colocaria nome e sobrenome composto em seu pet canino? Eddy chamava-o Sidney Gwedda Jamppa, sendo o último sobrenome óbvia homenagem à Capital paraibana.

AMOR DE CANINO 
Ainda sobre a mútua amizade entre Sidney e Eddy, basta dizer que ELA tinha que despender muito tempo, todos os dias, somente para brincar com ELE, o lulu.

E, como tinha Eddy que frequentemente ausentar-se do apartamento-mansão para ir ao trabalho ou fazer conferências em tal ou qual Universidade, era um deus-nos-acuda: o cachorrim ficava literalmente chorando no apê, superinconformado com a ausência da dona.

Permanecia triste, num canto, sem querer contato com seu ninguém. Só o retorno de Eddy é que lhe devolvia a alegria — e aos demais habitantes desse intelectualíssimo & abençoado lar: os filhos Adriano e Andréa, ele advogado, ela administradora de empresas (e ambos hoje casados).

XADREZ & JABUTICABAS   
Linguista amador empedernido e chato, cheguei a conversar com Eddy, no intervalo de um papo sobre técnicas enxadrísticas com o Dr. Sérgio (e todos lá são enxadristas de mancheia!) sobre se se deveria grafar o nome do cachorrim como Sydney ou Sidney (ou mesmo Sidnei, Sídnei, por aí)...

Bem que a Eddy iria preferir, mil vezes, falar sobre o seu pé de jabuticabas, milagrosamente surgido numa das janelas do apê.

DÍSPARES ETIMOLOGIAS
Entre os, como direi, “animais humanos”, existem tanto “Sydneys”, quanto “Sidneys”, especialmente nos países de tradição anglo-americana e, em última instância, de raízes anglo-saxônicas.
No pantanoso território da Etimologia, discute-se ainda hoje sobre a origem do termo; para uns, significaria “ilha grande”; para outros, “pradaria inundada”; ainda para outros, não passaria, imaginem Vocês, de uma corruptela de “são Dionísio”...

Por essas e outras é que o Voltaire disse aquela cabulosa frase sobre os dicionaristas e etimólogos, linguistas e filólogos em geral...

MISSIVA AO CÃOZINHO
Dispenso-me, portanto, de analisar os sobrenomes do cãozito (Gwedda, um pedigree cavalar, & Jamppa, que Vocês já sabem o que é) — mesmo porque, quanto a mim e, com muita probabilidade, na expectativa de todos os meus inumeráveis seis leitores, haveremos de preferir, por nosso turno, a leitura da Carta que a Dra. Edenilza escreveu para o seu cachorrim Sidney.

Não, não, madame! O cãozinho não sabe ler, non!

A MORTE & A CARTA
É que, para infinda tristeza de Eddy e de todos os seus, o fiel companheiro Sidney acaba de falecer, de morrer, de ir para o Canil-Lá-De-Cima!

Solidário com a dor da amiga, transcrevo abaixo, sem maiores comentários, o inteiro teor da missiva especialmente escrita pela Dra. Edenilza (estilista literária desde a adolescência, porque grande leitora!), para assinalar a irreparável perda de seu amigo canino.

A MORTE DE MEU AMIGO SIDNEY
— ou MEU CACHORRINHO MORREU
São Paulo, 05 de agosto de 2011.
       Meu querido cachorrinho Sidney:
       Não posso deixar de lhe dizer algumas coisas, neste momento em você se foi.
       Preciso lhe dizer que lhe sou muito agradecida pelo amor que me teve, pelos momentos de alegria que sempre me proporcionou — e por haver sido este grande e presente amigo e companheiro de todas as horas.
       Você não sabe, mas, nos momentos mais tristes, quando eu o segurava nos meus braços e o acariciava, isto era maravilhoso e me fazia um bem enorme.
Seus olhinhos me acalentavam. Seus latidos, seu rabinho balançando quando eu chegava ou quando você me pedia alguma coisa, me encantavam.
Sabe quando você pegava um dos meus sapatos, e o punha na boca, e ficava na minha frente, para que eu o seguisse? Eu adorava isto! Deixava qualquer coisa que estava fazendo e ia lhe dar comida ou brincar com você, lembra? Era nossa melhor forma de comunicação.
Por isso, sempre deixei sapatos fora do lugar. Não me importava se isto bagunçava o quarto. Era para você, meu querido amigo, ter sempre um ponto de apoio em nosso relacionamento.
Sei que veterinários não aconselham que se dê guloseimas a cachorros. Mas quem disse que você era um cachorro qualquer? Você era um cachorrinho muito especial. Era simplesmente o Sidney Gwedda Jamppa. Meu querido Sidoca, brincalhão, sapeca, irreverente — e lindo!
Por isso, fico feliz porque você, além da ração, comia bolo, peixe e filé mignon.Tomava leite também e o que mais você pedisse... porque era difícil negar alguma coisa a alguém tão querido.
Você sabe que você, e não eu, era quem mandava em minha casa. Fez o que quis. Dormia onde queria. Ia para meu colo, no banco do carro, na frente, latindo para motoqueiros.
Às vezes, eu própria me assustava com seus latidos e o Sérgio ficava bravo. Mas  eu inventava que estava com calor e deixava o vidro aberto. Motoqueiros usam capacetes e isto os ajuda a escutarem menos.
Uns ficavam bravos, outros riam. O importante é que isso fazia parte das coisas de que você gostava — e eu gostava de todas as coisas que você gostava.
Estou agora aqui, escrevendo na tela do computador. Você sempre ficava aqui, comigo, me olhando, da janela aqui do quarto (que bom que coloquei telas de proteção!!!). Às vezes, latia para cachorros que passavam na rua. Mas só descia da janela quando eu, ao terminar o trabalho, pegava-o no colo — e íamos fazer qualquer outra coisa.
Você não sabe, meu querido Sidney, mas deixei de trabalhar em alguns lugares por sua causa. Deixei de viajar, de assistir a filmes em cinemas, de visitar pessoas, apenas para não o deixar sozinho. E não me arrependo disso, porque você foi um dos melhores presentes que ganhei.
Quando você se foi, tive a presença do meu filho Adriano a meu lado, e a de meu marido Sérgio — presenças que me consolaram.
Quando você chegou, foi pelas mãos de minha filha Andrea — a quem serei eternamente grata por me haver dado a oportunidade de ser tão feliz tendo você comigo, a meu lado, no apartamento.
À minha mãe querida, agradeço pelo carinho que teve para com você. Se eu tivesse que viajar, só confiava nela, porque sei o quanto ela também o amava.
E quero, finalmente, me despedir de você, amado Sidney. Despedir-me não com tristeza, mas sabendo que essa saudade tão doída nunca vai passar. Sabendo que você é insubstituível — mas que sua vinda para minha casa teve, sem dúvida, um propósito divino.
Você me ensinou a ser mais tolerante, mais paciente. Você me ensinou que amar é entender e perdoar. Me ensinou que felicidade é estar de bem com quem amamos.
Não tenho nenhuma dívida com você, porque sei que fiz o possível para que fosse sempre muito feliz.
Jamais, no entanto, poderei pagar o quanto seria necessário pelo que você me deu em termos de amor e de felicidade, meu amigo.
No Céu dos Animais, onde você certamente está, continue pulando, balançando o rabinho, bagunçando, olhando prá mim, aqui na Terra — e permanentemente lembrando-se de mim. Amor não morre e eu o amo muito.
Uma vez mais, estarei carregando-o no colo, mas, agora, somente em minha imaginação. E fico feliz por isto.
Muitas saudades de sua
Edenilza.”

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