Monday, May 25, 2015

SOBRE O NOTÁVEL LINGUISTA E FILÓLOGO PARAIBANO (E UNIVERSAL) MÍLTON FERREIRA DE PAIVA


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AVISO AOS NAVEGANTES
[Se porventura V. constatar qualquer erro, de grafia ou de conteúdo, nesta ou noutra postagem do presente blog, please envie um e-mail para o autor, com a devida correção. Seja benevolente com as faltas do próximo e reconheça que dificilmente um texto feito às pressas, pela celeridade dos acontecimentos, haveria de sair de todo escoimado de senões!]

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 O saudoso educador paraibano Mílton Ferreira de Paiva, reconhecido nacional e internacionalmente como filólogo, gramático e professor de Filologia Românica, Gramática Histórica e outras disciplinas. [Por favor, clique na foto para ampliá-la] 

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PEQUENO DEPOIMENTO, COM DADOS ESSENCIAIS SOBRE MEU ANTIGO E SAUDOSO PROFESSOR MILTON FERREIRA DE PAIVA

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por Evandro da Nóbrega,
escritor, jornalista, editor
[druzzevandro@gmail.com]

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 Na extrema esquerda da parte de cima da foto, vê-se o rosto do bem jovem professor Mílton Ferreira de Paiva, quando o então governador José Américo de Almeida inaugurava o Colégio Estadual do Bairro do Prata, em Campina Grande — Colégio do qual ele, Mílton, foi o primeiro diretor. [Por favor, clique na foto para ampliá-la] 

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 Mílton Ferreira de Paiva, primeiro diretor do Colégio Estadual do Prata, em Campina Grande, discursa, em 31 de janeiro de 1953, quando da inauguração do educandário, na presença do então governador José Américo de Almeida (presidindo a mesa dos trabalhos), do então prefeito campinense Plínio Lemos, do deputado Severino Bezerra Cabral e de outras autoridades. [Por favor, clique na foto para ampliá-la] 

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O então presidente do Diretório Estudantil do Colégio Estadual do Bairro do Prata, em Campina Grande, visto na foto de 1953, quando falava, durante a solenidade de inauguração, era o hoje imortal Juarez Farias, ex-presidente da Academia Paraibana de Letras. Juarez foi, aliás, o PRIMEIRO presidente do Diretório desse importante estabelecimento de ensino campinense. [Por favor, clique na foto para ampliá-la] 

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Senti uma carga dobrada de saudades ante a informação de que a I Seccional PEN da Paraíba e as famílias Paiva e Figueiredo estão convidando familiares e amigos, de Campina Grande e de João Pessoa, para uma homenagem a ser prestada no auditório da FIEP, na Rainha da Borborema, às 17 h desta segunda-feira, 25 de maio.

Essa homenagem será um preito de reconhecimento à memória do saudoso professor Mílton Ferreira de Paiva, notável educador paraibano que veio a ser o primeiro diretor do Colégio Estadual do Bairro do Prata, na Cidade Serrana, e também Reitor da UFPB, entre outros cargos que exerceu, como o de professor do Colégio Alfredo Dantas, também em Campina Grande, por muitos e muitos anos.

PALESTRA DA DRA. CELEIDE
Informa-se adicionalmente que esses atos de homenagem vão contar com um pronunciamento da Dra. Celeide Farias, que abordará vida, obra, personalidade e influências do homenageado. Haverá ainda a participação especial da compositora Adília Uchoa.

Para quem não sabe, a competente Dra. Celeide Farias é uma das mais destacadas intelectuais campinenses, além de esposa do Dr. Leidson Farias, conhecido advogado campinense.

O Dr. Leidson, por seu turno, é grande amigo de um irmão meu, o Dr. Evaldo Nóbrega, médico em Campina Grande, e também irmão de um saudoso amigo nosso, o médico Lindbergh Farias, que sempre considerei “o homem que mais lia na Paraíba”, mas que, infelizmente, deixou-nos de forma prematura. 

MEMÓRIA DE CAMPINA GRANDE
Será a Dra. Celeide Farias, assim, será a oradora principal nas homenagens que vão ser prestadas, na Rainha da Borborema, nesta segunda-feira, ao saudoso professor Mílton Ferreira de Paiva.

De acordo com o que informa a professora Wanderly Siebra Coelho, esta promoção do Clube 
Pensamento/Estudo/Nacionalidade (I Seccional PEN da Paraíba) integra-se à trigésima-quinta edição do Projeto Memória de Campina Grande, da FIEP, na gestão do Dr. Francisco Buega Gadelha.

QUEM ERA O PROFESSOR MÍLTON
Muitas saudades, portanto, de meu dileto mestre e amigo, o saudoso professor Milton (Ferreira de) Paiva. Ele, na UFPB, ao lado de outros grandes profissionais — como Virgínius da Gama e Melo, Juarez da Gama Batista, Ângela Bezerra de Castro, Socorro Aragão, Waldemir Lopes de Andrade et alii — abriu-me na mente novas avenidas intelectuais, quanto aos capítulos da Linguística, da Filologia, da Literatura, da Teoria Literária, da Estilística, da Tradução e da Crítica em geral.

E isto desde antes da chamada Reforma Cêntrica na UFPB — vale dizer, quando ainda existia o Instituto de Letras da antiga FAFI (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras), de que surgiria a futura área de Letras do CCHLA/UFPB.

REITOR POR TRÊS MESES
Do professor Milton Paiva, fui um dos alunos preferidos, além de seu assessor no curto período em que exerceu a Reitoria da UFPB. Viu-se moralmente obrigado a renunciar a esse alto cargo (sonho de praticamente todos!) em atenção aos pedidos da própria família e, principalmente, por ser homem de bem, honesto, de altíssima formação ética — e que já nem podia conciliar o sono, vendo a exorbitância que eram as contas telefônicas a serem pagas pela administração universitária...

Ele foi nomeado Reitor em 25 de fevereiro de 1980, tendo assumido o cargo a 5 de março do mesmo ano. No entanto, cerca de três meses depois, exatamente a 11 de junho de 1980, viu-se na contingência de renunciar — poucos dias depois de completar apenas 57 anos de idade.

UM LIVRO SOBRE O SUBSTANTIVO
Certa vez, o Dr. Mílton Paiva me deu de presente um livro de sua própria autoria, intitulado O substantivo, que ele muito prezava (e que ainda hoje guardo, com o maior carinho). Era uma obra premiada, inclusive com ótimas referências de luminares noutros Estados do Brasil e até mesmo em Portugal.

Na hora, com minha imaturidade intelectual da época, fiquei pensando: "Por que o professor Mílton Paiva não escreve obra mais ampla, por exemplo, sobre a gramática em geral — e não apenas sobre o substantivo?" Entretanto, à medida que perlustrava seu livro, senti a profundidade do tema, dos conceitos e do embasamento teórico que presidira toda aquela pesquisa. 

Terminada a leitura, que exigia concentração integral, só me dei por satisfeito quando parabenizei cabalmente o professor Mílton por sua contribuição científica ao estudo de um item importante da... gramática universal, chamado... substantivo!

O MESMO TÍTULO... NOS STATES!
Muitos e muitos anos depois (exatamente em maio de 1997),  Lindell Lee Haverstic submeteria uma tese de sua lavra, intitulada The substantive, a uma Faculdade do Instituto Politécnico do Estado americano de Virgínia, para obter o seu grau de mestre em... Arquitetura. 

O trabalho, examinado por uma banca acadêmica composta pelos professores Hans C. Rott (presidente), William W. Brown e Michael J. O'Brien, fazia ilações entre as partes do discurso, inclusive o substantivo, as informações sintáticas e as metáfrases cumulativas, partindo de uma frase latina: A fonte puro pura defluit aqua [= "A água pura corre da fonte pura"].

RECORDAÇÕES DE JUAREZ FARIAS
Grande amigo e admirador do Dr. Mílton Paiva, o hoje acadêmico da APL Juarez Farias relembra que o insigne filólogo, gramático e educador foi seu professor de Vernáculo — e até seu examinador, na prova de Português, quando o então estudante se submetia ao Exame de Admissão.

Desde esse tempo que os dois se tornaram muito amigos. Instado pela reportagem, Juarez acaba de nos informar, por telefone, que, posteriormente, enviará maiores elementos constantes de suas lembranças pessoais em torno do Dr. Mílton. 

O VERNÁCULO E O PLANEJAMENTO
Mas, de antemão, relembre-se que, certa vez, quando o Dr. Antônio Juarez Farias era Secretário de Planejamento do Governo do Estado, o permanentemente encabulado mestre (um traço pessoal dele) o procurou, convidando-o a proferir conferência na Universidade. Qual o tema? Bem, ele poderia escolher qualquer assunto — mas que tal "a possível influência dos estudos do Vernáculo e das Línguas Clássicas sobre um bom Planejamento econômico, num Estado como a Paraíba"?

O sempre brilhante Dr. Juarez foi lá e "mandou seu recado": falou para os universitários e, como se diz, "deu um show", de modo que o Dr. Mílton Paiva lhe agradeceu repetidamente (sim, inúmeras vezes!), não apenas na oportunidade, mas todas as vezes que com ele se encontrava — sempre com seu eterno ar de encabulado. 

Pessoalmente, o Dr. Mílton era também uma figura encantadora, com esse seu jeito de estar o tempo todo como que "pedindo desculpas" por "incomodar com sua presença"...


UM LIVRO DE FRANZ BOPP
Pouco antes de falecer (ele nos deixaria para sempre em 27 de setembro de 2002, aos 79 anos de idade) e de há muito aposentado, o Dr. Milton me convocou à sua casa de praia (Camboinha, se bem me lembro), por intermédio de uma filha, a Dra. Marília Paiva.

Conversou muito comigo, exercendo aquele tom irônico-encabulado que o caracterizava (sendo homem altamente culto) — e, ao final, me presenteou com uma raridade que, havia anos, admirara eu em sua rica biblioteca particular: a edição alemã original e completa da principal obra do célebre linguista Franz Bopp, de inícios do século XIX e intitulada Über das Conjugationssystem der Sanskritsprache in Vergleichung mit jenem der griechischen, lateinischen, persischen und germanischen Sprache [“Sobre o sistema de conjugação do sânscrito em comparação com o grego, o latim, o persa e o germânico”].

O Dr. Milton sabia que dificilmente OUTRA pessoa, afora o veeeelho Druzz de guerra, se interessaria por uma obra assim intitulada... 

Dessa forma é que ma presenteou — e ainda hoje guardo com respeito esta relíquia, recorrendo frequentemente a seus antigos ensinamentos indo-europeus, em homenagem ao grande mestre e à grande figura humana que foi o Dr. Milton Ferreira de Paiva.

FORMAÇÃO DE MÍLTON PAIVA
Nasceu o professor, linguista, filólogo, gramático, filósofo e administrador universitário Mílton Ferreira de Paiva em Pilar (PB), a 7 de junho de 1923, filho de Sebastião Bastos de Paiva e de sua esposa Maria do Carmo Ferreira de Paiva. Sua formação incluiu os seguintes passos:

* graduado no ano de 1943, em Filosofia, sua formação inicial, pelo Seminário Arquidiocesano da Paraíba;

* bacharelado no Recife (PE), em 1950, em Letras Clássicas, pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras "Manoel da Nóbrega", da Universidade Católica de Pernambuco;

* formado em Direito pela UFPE - Universidade Federal de Pernambuco, no ano de 1954;

* especializado em Linguística, em 1975 (sua maior vocação era a da Linguística Histórica, além das Letras Vernáculas).

MILTON PAIVA EM CG
A carreira educacional do Dr. Mílton Paiva iniciou-se em Campina Grande, tendo ele sido o primeiro diretor do Colégio Estadual do Prata, inaugurado pelo governador José Américo em 31 de janeiro de 1953 sob a designação oficial de CECG - Colégio Estadual de Campina Grande. Este viria a ser, em certo período, o maior Colégio existente no Estado da Paraíba.

Mílton Ferreira de Paiva, primeiro diretor do Colégio já então nomeado, foi um dos oradores da solenidade de inauguração, que contou também com a presença do então prefeito da cidade, Plínio Lemos, do deputado Severino Bezerra Cabral e de outras autoridades, além do então presidente do Diretório Estudantil do estabelecimento — que era o hoje imortal Juarez Farias, ex-presidente da Academia Paraibana de Letras.

MÍLTON PAIVA NA UFPB
Na UFPB, não foram poucos os cargos que ocupou:

* professor de Filologia Românica, na antiga FAFI (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da UFPB), tendo sido contratado ainda no ano de 1961 (nominalmente, suas atribuições incluíam a disciplina Filosofia, inerente à sua formação original).

* chefe do Departamento de Letras da FAFI - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da UFPB.

* diretor da FAFI - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (por cerca de três anos, de  1962 a 1965);

* diretor do ICL - Instituto Central de Letras, pertencente à antiga FAFI - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras;

* diretor do CCHLA - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (de 1977 a 1979); e

* docente  titular de Língua Portuguesa.


PRIMEIRO PRESIDENTE DA FCJA
O principal auditório da Reitoria da UFPB recebeu a designação de "Auditório Professor Milton Paiva", em sua homenagem.

Não se pode esquecer, também, de que o professor Mílton Ferreira de Paiva foi um dos principais idealizadores da FCJA (Fundação Casa de José Américo) — e, em reconhecimento a seu papel para o surgimento da instituição, seu primeiro presidente. Foi ele quem, com a ajuda de outros especialistas, elaborou todo o documento em que se baseou a criação e o funcionamento da FCJA.

SOBRE AS FOTOS EM ANEXO
Em tempo: três das quatro fotos que ilustram esta reportagem — as do professor Milton Paiva falando durante a inauguração do Colégio Estadual do Prata, a do governador José Américo de Almeida desatando a fita inaugural e a do então aluno Juarez Farias discursando, como presidente do Diretório Estudantil do estabelecimento — foram retiradas do blog "Retalhos de Campina Grande" e pertencem ao acervo do Memorial do CECG, mantido on line, entre outros, pelo pesquisador Edmilson Rodrigues do Ó [http://cgretalhos.blogspot.com.br].

O blog Retalhos Históricos de Campina Grande - Serviço de Utilidade Pública (Lei Municipal nº 5096/2011, de 24 de novembro de 2011), tendo sido criado por Adriano Araújo e Emmanuel Sousa, nele colaborando frequentemente o pesquisador
Rau Ferreira.

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