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A dileta prima Nereida Maira, numa de
suas mais recentes fotos, no perfil do Facebook.
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Foi das múltiplas e variegadas leituras clássicas do grande e saudoso intelectual paraibano Adalberto Barreto que saiu a inspiração para batizar a filha como Nereida Maira.
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MAS, AFINAL, POR QUE NOSSA QUERIDA PRIMA
NEREIDA MAÍRA TEM ESTE NOME COMPOSTO?
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por Evandro da Nóbrega,
escritor,
jornalista, editor
[druzzevandro@gmail.com]
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"Todos os dias, ele olha,
com
as pálpebras enevoadas,
para os
deuses que cindem o mar profundo
— e,
à noite, ouve as nereidas cantando,
enquanto
dormem seus selvagens corações."
— MADISON JULIUS CAWEIN, in
"Argonautas"
O primeiro item
desta série
(a ser
OPORTUNAMENTE divulgado)
abordou o sugestivo
nome “Sinaida”,
num texto em prosa
desataviada.
O texto que se
segue, porém,
não está escrito nem
em versos,
nem em prosa —
muito pelo contrário!...
;-) ;-) ;-)
E começamos dizendo
que
aqueles que têm a
felicidade, diríamos até o privilégio,
de conhecer nossa
dileta prima Nereida Maira
acham que este
"Maira/Maíra" do nome composto dela
provém do tupi e/ou
do guarani.
Mas, não: vem do
grego mesmo.
Não haveria nada de
mais se viesse do tupi:
é natural que as
pessoas associem a palavra "Maíra"
ao termo que os
tupis aplicavam à mulher francesa,
à loura, à branca
que eventualmente acompanhasse os gauleses
em suas incursões
pelo nascente Brasil.
Sim, porque o
francês era chamado de "maýr"
pelos indígenas — e
uma decorrência disto é que maýra
(o feminino regular
de maýr)
passou a designar a
mulher do francês,
a mulher vinda da
França, a francesa, a branca, a loura,
em contraposição às
portuguesas, aos portugueses.
Aproveite-se para
lembrar que, aos lusitanos,
os indígenas
chamavam "peró",
corruptela
tupiniquim de Pero (Pedro).
Mas, de início, os portugueses
chegados ao Brasil
receberam a curiosa
designação de caraíbas,
do tupi "kara'
ib", vale dizer, inteligente, sábio, homem sagrado,
coisa santa,
espécie de profeta itinerante
que, a cada três ou
quatro anos, visitava a aldeia...
Afinal, os habitantes
originais de Pindorama
tinham por milagre
grande e santo,
por coisa sobrenatural
e até de outro mundo,
que esses sujeitos
brancos, grandalhões e de barba,
viessem por cima
das águas, de tão longe,
trazendo
paus-de-fogo que derrubavam aves em pleno voo
e provocavam
medonhos estampidos...
MAÝR,
MAÝRA, MAÍRA, MAHYRA...
Até aí, todo mundo
conhece mais ou menos a história
de os índios
chamarem os franceses de maýr e as francesas de maýra.
Nem todos sabem,
porém, o porquê mais profundo destas coisas.
É que os indígenas
associavam os franceses
a um personagem de
sua própria mitologia.
Nos mitos tupis
e/ou guaranis de criação do mundo,
há a figura de
Maýr, Maýra, Mahyra ou Maír,
o herói mítico, pai
dos gêmeos Korahi (o Sol) e Sahi (a Lua).
Korahi e Sahi são
importantes,
por causa de seu
papel de separarem
o que é
propriamente da Natureza
daquilo que
pertence ao Homem, à Cultura.
Mais importante,
porém, é o próprio Mahyra, pai deles,
o herói civilizador
“par excellence”,
que tudo criou e
que deu início ao árduo trabalho de
obrar tal separação
entre as duas partes principais do mundo.
Mahyra, afinal, fez
que nem Prometeu, na Grécia:
roubou o fogo
sagrado do Monte Olimpo,
e, desobedecendo
aos deuses, o entregou ao Homem
— tal e qual, Mahyra
(ou Mahyra-Umuuan,
“o Mahyra mais antigo”,
enganara o urubu,
tomando-lhe o fogo
e
disponibilizando-o entre os guerreiros.
Esse mito vinha de
tempos imemoriais,
mas os indígenas do
Litoral brasileiro,
no século 16, associaram
de imediato
a figura de Mahyra
aos franceses que surdiam
nas costas de
Pindorama em busca de pau-brasil
e de outras
riquezas.
Maýra/Mahyra/Maíra
quer dizer, portanto,
"branca
estrangeira", "heroína mítica",
“mulher do maýr”, "mulher
francesa", "estrangeira loura".
Não é impossível
que até o nome da própria cidade de Mari,
na Paraíba, tenha
origem, em última instância,
na abrangência
semântica de “maýr”.
REMONTANDO
À MAIRA/MAÍRA/MAERA GREGA
A palavra grega
maira/maera/maíra está associada
a muitas
realidades, no evolver mítico e histórico.
Interessa-nos,
aqui, tão somente, aquela Maira que ajuda a compor,
na Mitologia
greco-romana,
uma bela história
que se passou com Dioniso (ou Diônisos),
o deus da colheita da
uva, do vinho, da enologia,
do teatro, da epifania,
da loucura ritual, do êxtase religioso,
da fertilidade etc
— desde pelo menos os tempos micênicos.
Em grego antigo, Maira
(Maíra)
escrevia-se também
como Maera.
O nome não se
aplicava apenas
à fidelíssima
cadela do pastor Icário de Atenas
— que de modo algum
pode ser confundido com
Ícaro, aquele do
primeiro voo mítico.
Mas esqueçamos os
demais usos do termo Maira/Maera,
fixando-nos apenas
na afamada cadela de Icário
e, também, de sua
filha Erígone.
DE
COMO MAERA, A CADELA DE ICÁRIO E ERÍGONE,
TRANSFORMOU-SE
EM ESTRELA DO FIRMAMENTO
Vamos conhecer portanto
a bonita história
da mítica cadela
Maera,
que, pertencendo a
Icário e à sua filha Erígone,
chegou um dia a
virar estrela de importante constelação,
pelo querer de
Diônisos e ato dos demais deuses.
A história começa
quando Diônisos,
o deus mais jovem e
o último a ir para o Olimpo,
finalmente chegou à
Ática, depois daquela longa
peregrinação pela
Ásia.
Viu-se Diônisos muito
bem acolhido pelo pastor Icário,
lendário habitante
da região ática.
Afinal, Icário
mimoseara
o mais hospitaleira
e amistosamente possível
o jovem e poderoso
filho de Zeus
e da belíssima
mortal Sêmele.
Agradecido, Diônisos
ensinou a Icário
a arte de produzir vinho.
Em sua bondade
natural, Icário ofereceu esse vinho
em abundância a
alguns pastores,
que terminaram embriagados.
Os companheiros
desses, vendo-os sob os efeitos enológicos,
pensaram que Icário
os havia envenenado
— e mataram o amigo
do deus Diônisos,
enterrando o
cadáver sob uma árvore.
Mas a fidelíssima
cadela de Icário, Maira (ou Maera)
ajudou a filha de
Icário, Erígone,
a encontrar o corpo
do pai, sob a árvore.
Ao saber que o pai
fora assassinado,
Erígone enforcou-se
na mesma árvore
— e Vocês sabem que
as árvores, todas as árvores,
são protegidas por
Diônisos Dendrites,
a quase
contrapartida helênica dos Wira’zar,
os sobrenaturais,
hostis e temidos entes tupi-guaranis
que cuidam das
florestas e das plantas...
A cadela Maira,
sentindo-se sozinha no mundo,
com as trágicas perdas
de Icário e Erígone,
pulou num fundo
poço e morreu afogada.
O deus Diônisos
ficou tão irritado
com essa sucessão
de desgraças
que mandou uma
praga àquela área grega,
de modo que todas
as virgens de Atenas,
num acesso de
loucura, também se enforcaram.
Icário já se
tornara herói do "demos" de Icária,
nos subúrbios da
Ática, região em que se situava Atenas.
E, logo, a pedido
de Dioniso, os deuses do Olimpo
transformaram esse
mesmo Icário morto
na Constelação do
Boieiro,
cuja estrela mais
brilhante é a de Arcturus.
De Erígone, fizeram
os Imortais
a Constelação de
Virgem ou Virgo.
Da cadela Maira ou
Maera,
assim como de
muitos outros cães e cadelas mitológicos,
constituíram
Prócion, a estrela mais brilhante
da constelação de
Canis Minor e
a nona estrela mais
brilhante do firmamento.
MAS, DE
ONDE FOI MESMO QUE VEIO
O
SOBRENOME COMPOSTO NEREIDA MAIRA?
Há várias Maeras em
mitologias diversas
e até no campo das
Ciências.
Mas o termo MAIRA,
no nome composto Nereida Maira,
foi certamente
inspirado em fontes as mais clássicas,
vez que o saudoso
intelectual Adalberto Barreto,
pai de nossa augusta
prima,
era leitor
intérmino da “Ilíada”, da “Odisseia”
e de outras obras antigas,
mas sempre atuais
— e era ele, também,
um estudioso,
ainda que “en
passant”, da Mitologia greco-romana.
Não se pode jamais
associar, portanto,
o nome composto de
Nereida Maira,
por exemplo, à
terra de Mæra,
da saga nórdica de
Egill Skallagrímsson...
É bem verdade que o
ditongo ai/ay do grego arcaico
presta-se a
diferentes interpretações,
podendo o nome da
nereida original ser pronunciado
como Máira, Maíra,
Maera etc...
Mas não há dúvidas
de que foi aí onde o sábio Adalberto,
— tão bom em
Economia quanto em Política,
História e...
mergulhos mitológicos em Homero,
Apolodoro, Higino e
outros luminares da Antiguidade —
foi buscar o nome
composto da filha amada.
Maira era uma das várias
nereidas,
ou “ninfas do mar”,
belas filhas de Nereu e Dóris.
"Com outras
nereidas que moram nas profundezas do mar",
tal qual se lê no
Livro XVIII da homérica 'Ilíada",
Maira/Maíra/Maera
faz parte de uma lista
de mais de
cinquenta outros nomes de nereidas,
como é o caso de Agave,
“a nobre”;
de Anfitrite, “a nutrida
de mar”;
de Ceto, deusa e
mãe dos monstros marinhos;
de Cimódoce, “a
amiga das ondas”;
de Cimótoe, “ligeira
como a onda”;
de Dinamene, “a impetuosa”,
com muita força
e o poder das ondas
do grande oceano;
de Doto, “a doadora”;
de Erato, “a que desperta o desejo”
(e que era também
uma das Musas a reger as Artes);
de Eucrante, “a que
traz a realização”;
de Eudora, “a dos
bons presentes”;
de Eulimene, “a do
bom porto”;
de Eunice, “a da
vitória feliz”;
de Ferusa, “a de
curso veloz”;
de Galena, “a do tempo
calmo”;
de Glauce, “a do
verde oceano”;
de Hália, “a de
olhos bovinos e que mora no mar”;
de Ploto, “a
nadadora”; de Proto, “a primeira”;
de Espeio, “a que
mora em cavernas”;
e de muitas outras
nereidas aqui faltantes
mas jamais
esquecidas...
Mas estão aí em
cima dados que, quem sabe,
talvez venham a ser
novidade para a própria Nereida Maira
— provavelmente sem
tempo de pensar nestas coisas
ou simplesmente
pesquisá-las.
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