Wednesday, August 11, 2010

ONDE A TERRA PENETRA NOS CÉUS [1/5]





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Recente viagem feita ao “Teto do Mundo” por uma de minhas amigas indianas relembra o itinerário pioneiro seguido em 1624 por um missionário lusitano


Evandro da Nóbrega

ESCRITOR, JORNALISTA, EDITOR

[http://druzz.blogspot.com]

[druzz@reitoria.ufpb.br]


Fotos pela Dra. Arundhati Dighe Chafekar e pelo Dr. Chirag Chafekar,

diretamente de Mumbai, Maharashtra, Índia


Entre minhas amigas & amigos no subcontinente da Índia, há uma moça indiana em particular com quem me dou muito bem: Arundhati Dighe Chafekar (Aru, para os íntimos). Também muito a admiro — por sua cultura, bom coração, desejo de ajudar o próximo, vocação para aprender & ensinar, visão crítica da realidade mundial... E, last, not least, por sua beleza — tanto a interior, quanto a exterior, em mais uma reafirmação de recente momento internacional da Índia, quando outra belíssima indiana, Aishwarya Rai, viu-se considerada "a mulher mais bela do Mundo" — e alçou-se à categoria de deusa de Bolly­wood, a Hollywood indiana.

Nunca vi Aru pessoalmente — e são nulas as possibilidades de virmos a nos encontrar algum dia. Como ocorre com outras amigas & amigos de várias partes do Mundo, nosso relacionamento sempre se deu por e-mail e pelo pelo Facebook, a imensa rede social on line que já se vai aproximando de seu primeiro bilhão de usuários. Ultimamente, Aru me falou sobre viagem que acabara de fazer com o marido, o Dr. Chirag Chafekar, entre a afamada cidade de Leh, as belezas de Srinagar e toda a área dominada pela cadeia de montanhas dos Himalaias. Patos (PB) é a “Morada do Sol”? E “Himalaia”, em sânscrito, hindi e outras línguas de derivação sanscrítica, quer dizer o quê? Ora, “Morada das Neves”...

E me digam se Aru não é moça inteligentíssima: aos 25 anos, ela — cuja língua materna é o márata — também fala inglês, hindi e gujarate. Nasceu em Mumbai, no Estado de Ma­harashtra, Índia), e reside hoje, ainda sem filhos (“não temos pressa”), em Vallabh Vidyanagar, província de Gujarate. Não podia deixar de ser poliglota: em Mumbai, usam-se 16 idiomas; além dos já aqui citados, ouvem-se em suas ruas frases em todas essas línguas — e até numa forma coloquial de hindi, o bambaiya, mistura de márata, hindi, inglês indiano e palavras simplesmente inventadas.

Já o marido, o Dr. Chirag Chafekar, fez Mestrado em Engenharia Industrial na Universidade Estadual da Carolina do Norte, EUA. Como empresário, produz máquinas e equipamentos pesados, além de esteiras transportadoras e outros materiais de manejo na indústria pesada. Além de atender ao mercado indiano, o Dr. Chafekar também exporta tais equipamentos para várias partes do Mundo.

Mas o que temos a ver com a viagem de um casal indiano, lá nos cafundós da Índia, por mais belo que tenha sido tal itinerário remotíssimo? Isso tem a ver, sim, e muito, com nossas tradições lusas, com a presença da língua portuguesa na Ásia, com mais coisa do que se pensa. Mesmo porque essa belíssima viagem de Aru lembrou-me outra jornada, bem mais antiga: aquela realizada por missionários portugueses que pela primeira vez alcançaram o Tibete, sofrendo o diabo pelas frígidas encostas do Himalaia. Como veremos em detalhes, nesta e nas duas páginas dominicais seguintes, foi um português o primeiro europeu a trilhar, ainda em 1624, esses altíssimos caminhos agora percorridos por Aru.

No Himalaia, condições adversas, mas beleza por toda parte

Como se viu, a Dra. Arundrath formou-se na prestigiosa Universidade de Mumbai, onde se graduara o próprio Ma­hatma Gandhi — e Mumbai não passa daquilo que antigamente conhecíamos por “Bombaim”, capital da província de Maha­rash­tra e a mais populosa e rica cidade indiana (e também a segunda metrópole mais habitada do Mundo, com uns 14 milhões de habitantes). A Universidade fica nessa capital provincial, na costa ocidental da Índia. Aru é, então, uma mumbaikar — uma bombainense, uma mumbainense, uma mumbaíta...

Decidindo-se, em julho passado, a viajar a Leh, capital do antigo reino de Ladakh, na fronteira da Índia com o Tibete/China, Aru não sabia que corajosos missionários europeus (sobretudo portugueses e italianos) fizeram algo parecido muitos séculos antes — nas condições mais adversas e sem disporem de nenhuma das modernas tecnologias de apoio ao viajante.

Prazeres & durezas de hoje e de quatro séculos atrás, na segunda localidade mais gélida do Mundo

Para que o leitor compreenda bem o escopo desta série de cinco páginas: a partir da segunda delas, continuarão a ser apresentadas algumas das belíssimas fotos obtidas pela Dra. Arundhati (também fotógrafa amadora) das áreas por que passou, nessa incursão à cordilheira do Himalaia. Além disto, será feito um paralelo entre a atualíssima viagem de Aru e os primeiros contatos feitos com as mesmas regiões por exploradores e mis­sio­nários portugueses, 400 anos atrás — e, portanto, em condições bem mais adversas!

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