Wednesday, December 01, 2010

MÁRIO PRATA & A JUVENTUDE NA INTERNET

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“NUNCA SE LEU TANTO”
Mário Prata discorda do 
pessimismo generalizado em 
torno dos “malefícios” da Net 
sobre os jovens

Mário Prata e a juventude na Internet

O destacado cronista, dramaturgo e escritor veio a João Pessoa para falar durante o I Salão Internacional do Livro e, também, para divulgar sua mais recente obra, o romance policial Os viúvos

Evandro da Nóbrega
ESCRITOR, JORNALISTA, EDITOR
* Universidade Federal da Paraíba
* Instituto Histórico e Geográfico Paraibano
* Conselho Estadual de Cultura
[http://druzz.blogspot.com]
[druzz@reitoria.ufpb.br]
[druzz.tjpb@gmail.com]

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Este artigo — publicado originalmente no jornal A União, de João Pessoa (PB) — é também reproduzido pelos seguintes URLs:

- Blog Cultural EL THEATRO, de Elpídio Navarro:
www.eltheatro.com

- Portal PS OnLine, de Paulo Santos:
www.psonlinebr.com

- Portal Literário RECANTO DAS LETRAS:
http://recantodasletras.uol.com.br/autores/druzz

- Portal do Jornal A União On Line:
www.auniao.pb.gov.br

- Blog DRUZZ ON LINE, de Evandro da Nóbrega:
http://druzz.blogspot.com

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Fazendo questão de pisar, “com bastante firmeza e força  deliberada", o emadeiramento do palco no Teatro o Pontes, e afirmando em alto e bom som que tinha o maior orgulho em estar, na Paraíba, na casa de espetáculos que justamente leva o nome de um de seus maiores amigos (o teatrólogo paraibano Paulo Pontes), o consagrado escritor, jornalista, dramaturgo, crítico, roteirista, produtor e cronista Mário Prata abordou en passant um tema que lhe é caro e, malgré lui, recorrente: o do "jovem que não lê".  
Mário [Alberto Campos de Morais] Prata veio a João Pessoa (PB) diretamente de Florianópolis (SC), onde hoje reside. E aqui esteve a fim de participar de atividades culturais, durante o I Salão Internacional do Livro na Paraíba — e, também, para divulgar seu mais novo livro, Os viúvos. É este o segundo romance policial de Mário [o primeiro foi Sete de paus]. E será impossível citar aqui toda a produção do mui prolífico Autor de um sem-número de obras para o mercado livreiro, TV, Cinema, Teatro, revistas & jornais... Isto com apenas 64 anos (que parecem 45, provavelmente graças à sua anterior dedicação a prática do tênis. 
No segundo dia de suas múltiplas atividades, nesta vinda a João Pessoa, Mário Prata participou como palestrante e convidado especial de uma sessão do Café com Letras. No dia 22, essa prata de casaomenagem pessoal a seu grande amigo paraibano de igual nome. Nisto, foi avistado, na platéia, por outro intelectual, o pernambucano paraibanizado e internacionalizado Marcus Vinícius, compositor, maestro e dramaturgo, além de presidente da AMAR/SOMBRÁS (Associação de Músicos Arranjadores e Regentes/Sociedade Musical Brasileira) — que de imediato chamou Mário Prata para se incorporar à mesa-redonda em andamento.
Marcus Vinícius — que também entrevistamos para esta mesma página (a do próximo domingo) — participava da "Roda de Diálogo” dedicada a discutir “O Mercado livreiro, o Autor e o Editor: Perspectivas Nacionais e Locais", sendo igualmente palestrantes 1) Magno Nicolau (da Ideia Editora); 2) Assis Almeida (da Livraria Almeida); e 3) Mirtes Waleska Sulpino, presidente da ativa Associação Boqueironense de Escritores.
Entre os debatedores, encontravam-se a) o escritor, historiador e cineasta Wills Leal; b) a bibliotecária Jemima Marques de Oliveira, coordenadora do curso de Biblioteconomia da UFPB e presidente da APBPB (Associação Profissional de Bibliotecários da Paraíba); c) o mediador José Benedito de Brito (do Polo de Leitura na Rede); d) a professora Vera Lúcia Clemens, do Centro Estadual Experimental de Ensino e Aprendizagem do Colégio Sesquicentenário; e) o jornalista e crítico Ricardo Anísio; f) Marcos Paulo, bibliotecário da Prefeitura Municipal de João Pessoa; e g) por último (e em último lugar mesmo), este escriba que vos tecla.
Além de ser um dos mais lidos cronistas do país (não está mais nem na revista Época, nem n'O Estado de S. Paulo, mas sempre colabora na mídia nacional, inclusive Veja, Folha de S. Paulo, Última Hora, UH Revista, Pasquim, IstoÉ, Placar, Playboy, Homem, Caros Amigos, Ícaro, Lui, Status, Saque, AZ, Criativa, Motorshow, e outras publicações), Mário Prata tornou-se há décadas um de nossos mais famosos escritores para a televisão — e, depois, também para o Cinema e a Videoficção.

Se ‘Você’ já foi ‘Vossa Mercê’, por que não pode ser ‘vc’ hoje?

A primeira observação de Mário Prata sobre o uso da Internet pelos jovens — que, em seus e-mails, blogs e twitters, por exemplo, escrevem “vc” ao invés de “você” — recai justamente sobre tais usanças da cibernética pós-moderna:
— A palavra "você" já foi maior: vosmicê, vosmecê, vossa mercê etc. Nada a admirar, portanto, que "você" se transforme em "vc" na escrita quase telegráfica da atual comunicação por e-mail. Isto em nada prejudica a língua ou a comunicação. 
Futebol versus Livros — Mário Prata tem uma teoria toda sua em torno do mui discutido tema da juventude apartada dos livros — enfim, afastada da leitura. Entre outras coisas, diz o autor mineiro (natural de Uberaba, onde veio ao Mundo a 11 de fevereiro de 1946): os estádios de futebol facilmente se vêem tomados por, digamos, 45 mil torcedores — mas dificilmente se apontará, no Brasil, um escritor que venda 45 mil exemplares de um livro seu. 
— E olhem que, mesmo sendo relativamente caro o bilhete de ingresso ao estádio, o torcedor vai a dois, três ou mais jogos por mês — sustenta ainda Mário Prata, acrescentando: "Há livros bem mais baratos que a entrada para um jogo de futebol; esta, em média, revela-se, em alguns casos, umas oito vezes mais caro que um bom romance ou volume de poemas. A maioria das pessoas, no entanto, volta-se mais para o futebol que para a leitura. E não se pode culpar a Internet por isto, por esta falta de interesse literário.
Flores no Lixão — E prossegue ele, desmontando o preconceito de que o tipo de escrita/escritura dos adolescentes na Net seria deletéria para a Cultura/Literatura em geral e para a Língua Portuguesa em particular:
— Há gente, por exemplo, que reclama: meu filho passa sete horas diante da tela do computador. Ora, por mais que o rapaz procure por mulher pelada no ciberespaço, por mais que ele entre em contato com o imenso lixão eletrônico, sempre haverá algumas horas ou, pelo menos, muitos momentos em que o jovem estará apenas lendo e escrevendo on line. E justamente por causa da existência da Internet é que nunca se leu tanto (e jamais se escreveu tanto!) como hoje. Também é impressio­nante o número de acessos (12 mil, 13 mil acessos diários!) a muitos sites e/ou blogs mais populares. Pouquíssimos escritores (autores de livros) nossos desfrutam de tal índice de leitura.
Minhas Tudos — Este trecho do depoimento de Mário Prata lembra um texto muito conhecido e muito citado de um de seus livros, "Minhas tudos" [Editora Objetiva, 2001], em que relata seu "caso pessoal" com o ciberespaço, sem deixar de se referir, é claro, à atitude dos jovens com a Informática, com a cultura literária e com o universo dos livros. Eis o texto em referência:  "Quando eu ouvia um pai ou mãe dizendo 'meu filho fica horas na Internet', todo preocupado, eu também ficava. Até que, por força do meu trabalho, comecei a navegar pela dita suja. E descobri, muito feliz da vida, que nunca uma geração de jovens brasileiros leu e escreveu tanto na vida. Se ele fica seis horas por dia ali, ou ele está lendo ou escrevendo. E mais: conhecendo pessoas. E amando essas pessoas. Jamais, em tempo algum, o brasileiro escreveu tanto. E se comunicou tanto. E leu tanto. E amou tanto". E, mais adiante: "Esta geração vai dar muitos e muitos escritores para o Brasil. E muita gente vai se apaixonar pelo texto e no texto. Existe coisa melhor para um escritor do que concluir isto?" 
Relembra Mário Prata o tempo em que surgiu no Brasil o Vestibular Unificado, aí pelos fins da década de 1970, com a obrigatoriedade dos candidatos à Universidade lerem manuais constantes de parrudas listas de obras versando Química, Física, Matemática, Literatura... O resultado é que, passado o Vestibular, o jovem arrojava, finalmente, para bem longe de suas vistas, todos aqueles volumes que fora obrigado a ler — e nunca mais voltava a pegar num livro. Disseminou-se a impressão, na juventude e até no grande público, de que ler era coisa chata, intragável; de que obra literária era algo velho, caduco, enfadonho. Mas, não importa como deblaterem os pessimistas neste particular, as coisas estão... melhorando, isto sim! Enfim, também aqui, o Diabo não é tão feio quanto o pintam.
Êxitos na Televisão — Mário Prata nasceu com vocação de escritor e a desenvolveu sobretudo a partir dos 10 anos de idade.
Criado não em suas Alterosas natais, mas no interior paulista (a cidade de Lins), já aos 14 escrevia regularmente para jornais.

Outro de seus sucessos foi Schifaizfavoire, uma espécie de hilariante “dicionário de português”

Mário Prata escreveu, por exemplo, umas 20 telenovelas, telerromances, minisséries, folhetins e episódios da série "Caso Verdade" (da TV Globo). Seu maior sucesso foi Estúpido cupido, de 1976. Mas abandonou a carreira de autor de telenovelas quando uma obra sua para a TV, Bang-Bang, escrita em parceria com Carlos Lombardi, não obteve o esperado êxito. No entrementes, enfileirou em seu currículo muitos sucessos ainda hoje relembrados pelos telespectadores, a exemplo de Sem lenço, sem documento, Dinheiro vivo, Avenida Paulista, Helena, A Máfia no Brasil, Viva a vida, O campeão et alia. O que nem todos sabem é que, em 1995, a Televisão Nacional do Chile fez uma adaptação livre de Estúpido cupido.
Tendo sido tenista campeão e funcionário do Banco do Brasil, Mário Prata confessa-se bastante influenciado, em suas leituras, por autores como Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Millôr Fernandes, Henrique Pongetti, Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta). 
Também residiu um par de anos em Portugal, onde trabalhou na Rádio e Televisão Portuguesa (RTP). Dessa sua experiência, surgiria um de seus livros de maior sucesso, Schifaizfavoire — engraçadíssimo dicionário em que palavras e expressões lusitanas são "traduzidas" para o português... Nesse livro, um de seus mais inesquecíveis verbetes é "autoclisma do retrete", estranha expressão que al não designa senão nossa reles descarga do banheiro... 
Outros livros seus, de sucesso, foram Mas será o Benedito?, Minhas mulheres e meus homens, o já citado Minhas tudo — e o primeiro romance escrito on line, no Brasil, com a solicitada colaboração dos internautas: Os anjos do Badaró. Todos livros altamente recomendáveis, é bom que se diga! — inclusive no tocante ao segmento da literatura infanto-juvenil.
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