Thursday, December 23, 2010

VEM AÍ O "MERÁ BUYÊ" DE JOSÉ ELIAS BORGES


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Vem aí o Merá Buyê de José Elias Borges


Obra póstuma do grande etnólogo e linguista sairá pelas Edições Linha d’Água, detalhando a História colonial dos primeiros indígenas cariris de Campina Grande

Evandro da Nóbrega,
escritor, jornalista, editor.
      Universidade Federal da Paraíba
      Instituto Histórico e Geográfico Paraibano
      Conselho Estadual de Cultura
http://druzz.blogspot.com
druzz@reitoria.ufpb.br
druzz.tjpb@gmail.com

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Este artigo — publicado originalmente no jornal A União, de João Pessoa (PB) — é também reproduzido pelos seguintes URLs:

- Blog Cultural EL THEATRO, de Elpídio Navarro:
www.eltheatro.com

- Portal PS OnLine, de Paulo Santos:
www.psonlinebr.com

- Portal Literário Recanto das Letras:
recantodasletras.uol.com.br/autores/druzz

- Portal do Jornal A União On Line:
www.auniao.pb.gov.br

- Blog DRUZZ ON LINE, de Evandro da Nóbrega:
http://druzz.blogspot.com

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Será lançada, na segunda quinzena de janeiro de 2011, pelas Edições Linha d’Água, uma das mais importantes obras do polígrafo paraibano (nascido em Pernambuco) José Elias Barbosa Borges (1932-2010). O livro intitula-se Merá Buyê: Súmula da História Colonial dos Índios Cariri de Campina Grande. A edição resulta da admiração do editor Heitor Cabral pela genialidade do Autor, que tanto excelia como engenheiro e planejador, executivo e administrador educacional, antropólogo e etnólogo, linguista e historiador. Face a tal versatilidade é que sempre o chamávamos de polímata.
Merá Buyê, o livro de Elias, com prefácio do historiador Guilherme d’Avila Lins, foi escrito em homenagem aos 322 anos de fundação da Missão dos Índios Cariri da depois Vila Nova da Rainha. Em cariri [kiriri, para os tupis], Merá Buyê significa exatamente “Campina Grande”. Provém  de merá [= "campo", "campina"] + buyê [= "grande", "muito"], antônimo de bupi [= "pequeno", “pouco”], seja em kariri propria­mente dito [bujê], seja em seus principais dialetos (dzubukuá, kipeá, kamuru e sabujá, sapuiá ou Pedra Branca). Compare: buyé-wi, em cariri e seus dialetos, significa “tornar-se grande”, “ficar grande”, “crescer”.
Uma das maiores homenagens a Elias foi a que lhe prestou o Boletim Informativo [número 52] da Sociedade Paraibana de Arqueologia, publicando edição especial, em outubro passado, totalmente a ele dedicada. É trabalho bio­bibliográfico de autoria dos especialistas Vanderley de Brito e Thomas Bruno Oliveira, integrantes da comissão editorial do Boletim. O texto que compõe esta edição ver-se-á integralmente transcrito, inclusive com as fotos, no volume a ser lançado no segundo semestre de 2011 pelas Edições Linha d’Água, como nos assegura o editor Heitor Cabral. Mas outras homenagens foram prestadas a Elias, destacando-se as seguintes:
1) no Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, quando o notável historiador Humberto Cavalcanti de Mello abordou em profundidade a importância das pesquisas empreendidas por Zé Elias;
2) no semanário Contraponto, do jornalista João Manuel de Carvalho, um excelente artigo da professora Neide Medeiros Santos, ex-aluna de Elias, sob o título de “Um mestre inesquecível”; e
3) uma sessão especial, no auditório da Fundação Casa de José Américo [entidade que Elias presidiu e que é hoje dirigida pela Dra. Letícia Maia Ferreira], por iniciativa do Conselho Estadual de Cultura, pronunciando-se, durante a solenidade, as professoras Neide Medeiros, Maria Aparecida Barbosa (da USP), Ivone Tavares de Lucena, Maria de Fátima Barbosa e Socorro Aragão, conhecida linguista paraibana, com vários anos de atuação na UFPB e outras instituições.
Nós mesmo redigimos, pa­ra a última página do número 19 da revista Paraíba Cultural [circulou a partir de 9 de dezembro, durante a Noite da Cultura de 2010, realizada no Espaço Cultural “José Lins do Rego”], artigo sob o título de “José Elias Barbosa Borges por Evandro da Nóbrega”. Entre outras coisas, anotamos que Elias discutia os cariris — em esperanto! — com linguistas estrangeiros, inclusive russos.
No mesmo número da publicação, saiu excelente artigo do escritor Otávio Sitônio Pinto (primo de Zé Elias), intitulado “Zé do Índio”, cuja atenta leitura recomendamos — mesmo porque, no escrito, Sitônio classifica Elias de “O Preceptor”, com o que todos concordam.

Na homenagem do IHGP, depoimento de Humberto Mello

Em sua palestra no IHGP sobre José Elias Borges, o historiador paraibano Humberto Cavalcanti de Mel­lo assinalou ter conhecido o notável estudioso dos indígenas nordestinos “quando ambos fazíamos o antigo ginásio no Colégio Pio X, ainda no velho prédio da Praça São Francisco [Centro de João Pessoa]”.
— Zé Elias era um ano mais adiantado que eu. Não houve maiores aproximações entre nós, mas posso testemunhar que Elias já se destacava como um dos melhores alunos do velho educandário.  Frequentava diariamente a Biblioteca Pública do Estado, ‘excelente naquele tempo’, como afirmou em palestra proferida neste mesmo Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, por ocasião do Ciclo de Debates intitulado ‘A Paraíba nos 500 anos do Brasil’. E foi então que teve o interesse despertado para os indígenas, começando a fazer pesquisas aprofundadas sobre os nossos gentios. E ele era ainda um adolescente.
Acentua Humberto Mello que, em 1948, concluído o ginásio, Elias mudou-se para Campina Grande. Lá, fez o antigo curso colegial, atual Ensino Médio, e os cursos superiores de Engenharia Civil, na Escola Politécnica (onde depois viria a ensinar) e de Letras Anglo-Germânicas na antiga Faculdade Católica de Filosofia de Campina Grande. Posteriormente, fez Mestrado em Letras e Livre Docência em Linguística, vindo a ser, também, professor universitário nestas áreas.
— Em Campina Grande, cidade a que se afeiçoou, não tardou a ver seu talento e sua cultura reconhecidos — prossegue Humberto Mello. Em 1964, quando foi festivamente comemorado o centenário da elevação da antiga vila a cidade, ele integrou a Comissão Cultural do Município, presidida pelo ex-prefeito e historiador Elpídio de Almeida. A Comissão fez publicar a Revista Campinense de Cultura, da qual saíram cerca de dez números.  Em quase todos, havia um artigo de José Elias, a maior parte sobre os  temas de sua predileção: os índios e a História de Campina Grande.  Outros artigos seus foram a lume nas revistas Paraíba Cultural e Educação e Cultura, ambas do Governo do Estado.
Humberto lembra que, ainda em Campina Grande, Elias começou a ensinar — primeiro em escolas secundárias: português, francês, inglês, línguas que dominava, além de outras, vivas (espanhol, italiano, alemão, holandês, russo), mortas (latim, tupi, cariri e tarairiú) e artificiais (esperanto). Depois, ensinaria nas faculdades por ele antes cursadas. Tanto lecionou disciplinas na área de Engenharia, como nas de línguas e literaturas. Voltou, depois, a João Pessoa, a pedido do então Reitor da UFPB Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque, para dar aulas e elaborar projetos (MEC e agências de desenvolvimento) junto ao Campus I da Universidade Federal da Paraíba — e também para fazer sua pós-graduação. Aqui ficou até o fim.

Antes dele, a Paraíba desconhecia a existência de termos como tarairiú, badzé, dzubucuá, padzu etc

Recorda-nos Humberto Mello que as pesquisas sobre nossos indígenas sempre foram constante preocupação de José Elias. “Graças a elas, pôde mostrar o equívoco em que laborou Irenêo Joffily, que só viu na Paraíba duas nações indígenas (tupis e cariris), equívoco repetido por muitos historiadores.  Praticamente foi Elias quem revelou a existência dos tarairiús, completamente esquecidos, embora referidos por autores holandeses.
— Leu tudo o que sobre os índios nordestinos se escreveu.  Dos missionários que trouxeram seus depoimentos (padres Luiz Figueira, Mamiani, Bernard de Nantes, Claude d’Abbévile e Martin de Nantes), passando pelos holandeses (Herckmans, Barléus, Baro, Laet e Nieuhof), pelos alemães (von Martius e Marcgrave), até chegar aos contemporâneos (principalmente os americanos Loukotka, Lowie e Hohenthal). Dos brasileiros, vem dos mais antigos, como os padres Cardim e Loreto do Couto, aos posteriores Pompeu Sobrinho, Carrilho de Andrade, Serafim Leite, Estêvão Pinto, Geraldo Lapenda, Nelson Barbalho, Nimuendaju, Lyra Tavares e Clerot.
Esperamos, agora, a publicação, na íntegra, do artigo de Humberto Mello sobre José Elias. Humberto o considera “o maior conhecedor brasileiro do tema a que se dedicou: os índios nordestinos”. E diz que Elias é insubstituível: antes, era com ele que tirávamos nossas dúvidas; mas, agora, a quem perguntar? De nossa parte, três preocupações:

1) a preservação de sua riquíssima biblioteca multilíngue;
2) a localização,  organização e publicação de suas anotações científicas, manuscritos, originais etc; e
3) a edição de seu Vocabulário cariri-português. Mesmo sendo obra inacabada, não temos dúvida de que se constituirá em imensa contribuição ao estudo de nossos “tapuias”, como antes dele se dizia.

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